Ação que correu em segredo de justiça mostra que Zucolotto não é apenas amigo de Moro. Por Joaquim de Carvalho
A coluna Mônica Bergamo desta terça-feira informa que o advogado amigo de Sérgio Moro Carlos Zucolotto Júnior renunciou à defesa que fazia do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava Jato, em um processo trabalhista, hoje no Superior Tribunal de Justiça.
Segundo a jornalista, a renúncia aconteceu um dia depois do advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou na Odebrecht, dizer que negociou com Zucolotto condições favoráveis em delação premiada em troca de pagamento “por fora”. Segundo Duran, Zucolotto disse que tinha contatos com procuradores da Lava Jato.
A coluna de Mônica Bergamo registra que Carlos Fernando afirma que não tem relação com o advogado Zucolotto e que seu advogado seria Vicente Paula Santos.
Na ação à qual Zucolotto renunciou, o procurador Carlos Fernando reclama o pagamento por 101 diárias que recebeu por deslocamentos a trabalho do Ministério Público Federal, em 2005. O valor da causa seria 26 mil reais, em valores não atualizados.
O homem que acusa Zucolotto de negociar o acordo favorável com a Lava Jato foi preso na Espanha, por ordem do juiz Sérgio Moro, em novembro do ano passado, acusado de lavar dinheiro para a Odebrecht, onde trabalhava.
Depois de passar 72 dias na prisão, a justiça espanhola julgou o pedido de extradição feito pelo Brasil, negou sua transferência — Duran é filho e neto de espanhóis –, e ele foi solto.
Na Espanha, entrevistado pelos jornalistas José María Irujo e Joaquín Gil, do El País, contou como intermediava propinas a políticos e empresários do Brasil e outros países da América do Sul, América Central e México.
Na entrevista, foi apresentado como colaborador do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da Procuradoria Anticorrupção Espanhola. Aos jornalistas do El País, ele disse que não fugiu do Brasil:
Não fugi do Brasil. Cheguei a Madri para participar da inspeção do Ministério da Fazenda nas minhas duas empresas espanholas. Depois da explosão do caso Odebrecht, as autoridades brasileiras e a construtora tentaram me pressionar para ser parte do acordo, um documento que assinaram 78 diretores da empresa e que significou reconhecer crimes em troca de uma redução da sentença e uma multa. No meu caso: seis meses de prisão domiciliar com tornozeleira, serviços comunitários e uma multa de até 44 milhões de reais. Odebrecht se ofereceu para me pagar 15 anos de folha de pagamento, se eu aceitasse o acordo. Neguei por uma questão de princípios. Enquanto falava com o Departamento de Justiça em Washington, o Brasil exigiu minha prisão em julho e setembro de 2016. Os EUA, no entanto, não me prenderam. Não quero trair ninguém.
Na entrevista, ele não fala de Zucolotto, o advogado que Moro admite ser seu amigo, trata apenas de questões da corrupção da Odebrecht em geral.
A declaração que ele fez das negociações com procuradores da Força Tarefa foi revelada por Mônica Bergamo, em sua coluna de domingo na Folha de S. Paulo, e a reação do juiz foi rápida e, sob certo aspecto, desproporcional.
No manhã de domingo, a assessoria de imprensa da Justiça Federal em Curitiba divulgou a nota oficial do juiz, em que ele é duro com Duran e com a jornalista.
“Lamenta-se o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria”, escreveu.
A reação de Moro é ainda mais estranha quando se observa que ele não foi acusado pelo advogado Duran. Parece ter tomado as dores dos procuradores.
“Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da Força Tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato”, afirmou.
Como ele pode garantir que não ocorreu qualquer contato?
Moro apresenta Zucolotto, o advogado acusado de intermediar a delação favorável, como amigo e também o defende incondicionalmente:
“O advogado Carlos Zucoloto (sic) Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me (sic)”, afirmou.
Por que Moro se considera atingido se Duran não mencionou seu nome?
A história se torna ainda mais estranha quando se observa que Zucolotto Júnior não foi apenas amigo do juiz.
Em uma ação que correu no Tribunal Regional da 4a. Região, em Porto Alegre, o nome dele aparece junto com o de Rosângela Maria Wolff Quadros Moro, esposa do juiz, e do também advogado Paulo Fernando Souza, num pedido de exceção da verdade formulada pela defesa do advogado Roberto Bertholdo.
O caso tramitou sob segredo de justiça e teve uma condenação, em primeira instância, de Roberto Bertholdo, acusado de fazer interceptação telefônica ilegal no gabinete de Sérgio Moro.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal, o grampo tinha o objetivo de obter informações privilegiadas para Bertholdo negociar com eventuais interessados nos processos que tramitavam sob jurisdição de Moro.
É um rolo que terminou com a acusação de calúnia, injúria e difamação apresentada pelo Ministério Público Federal contra Bertholdo.
Estranhíssimo é que o procurador Carlos Fernando de Souza Lima atuou nesse processo, no papel de acusador. Eu procurei o advogado Bertholdo e ele disse que não poderia falar, devido ao sigilo decretado nos autos à época.