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O ostracisco de Wilson Simonal por Galindoluma
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Comportamento
Qua, 24 de Junho de 2009 17:47
O cantor Wilson Simonal foi muito popular no Brasil na década de 1960, sendo comparado a Roberto Carlos como fenômeno de massas. Pouco antes de morrer em 2000, acuado com a pecha de delator da ditadura militar, falava em recompor seu prestígio acusando a esquerda de perseguição ideológica e dizendo ser vítima de racismo. Com o documentário - Ninguém Sabe o Duro Que Dei, em cartaz, o debate se o cantor era ou não serviçal dos milicos voltou à cena. Muitos jornalistas, jornais, revistas aproveitam o documentário para atacar a esquerda, falando em patrulhamento ideológico e que não haveria provas alguma de que a estrela teria vínculos com o regime de exceção. Paulo Vanzolini, poeta e zoólogo, autor de Ronda e daquele famoso refrão "levanta sacode a poeira e dá a volta por cima" disse que o moço não só era delator, mas tinha orgulho em ser. "Na frente de muitos amigos Simonal dizia que entregou muita gente boa", diz o letrista, que arremata: "essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa".  Ele era dedo-duro mesmo". 

A Folha de São Paulo nesta semana trouxe uma vasta reportagem sobre o assunto que jogou por terra todos os esforços daqueles que pretendem recuperar a imagem de Simonal e desmoralizar a esquerda como suposta responsável pelo ocaso do intérprete negro.

O problema de Simonal começa quando ele contrata um torturador  do Dops para exigir de seu contador, Raphael Viviani, a confissão de desvio de recursos. Ao lado dos agentes da repressão o cantor seqüestra o funcionário em sua residência de onde é levado para as dependências do Dops. Lá, debaixo de choques elétricos, socos e pontapés, o funcionário assumiu o desfalque. Isso vai gerar depois uma ação judicial cujas páginas, para mim, encerram as dúvidas sobre a controvérsia em diversas passagens. Registre-se que apenas esse episódio já seria o suficiente para se colocar em xeque o caráter do artista.

Em não poucas vezes o cantor vai ser referido  no processo  citado na reportagem,  como "colaborador das autoridades na repressão à subversão".  Selecionei pequenas partes da matéria com alguns poucos trechos do processo para que você analise ao final do texto (se quiser, envio depois a matéria completa - bastante extensa), mas antes levantaria ainda dois aspectos. Qual a força que a esquerda tinha naquele período sombrio para encerrar a carreira de um cantor de prestígio?

Ora, quase todos os meios de comunicação de massa eram controlados e/ou aliados dos militares (a quem Simonal apoiava) e os movimentos de resistência encontravam-se quase que asfixiados com as prisões, torturas, assassinatos e exílios. No Brasil e no mundo é comum cantores surgirem como fenômenos e desaparecerem do mesmo modo. Na época de Simonal outros também fizeram sucesso e não mantiveram o fôlego, como Vanderlei Cardoso, Jerry Adriani, Vanderleia e outros.

Se o episódio das delações corroía o astro e o deixava magoado e triste, devia ser por um problema de consciência dele, talvez de arrependimento, mas nunca por uma campanha organizada de perseguição contra ele. Arrancar confissões sob tortura não deve provocar boas lembranças a patrocinadores desse tipo de bestialidade humana. 

O outro argumento, de racismo, para o ostracismo do  apologista do golpe militar  é outra balela. Daquele período tivemos também  Jair Rodrigues e  próprio Jorge Benjor que mantem suas carreiras até hoje, porém,  sem o sucesso da fase inicial. Portanto, aqueles que se emocionaram com o documentário, é bom ter cautela. Lembrem-se ainda de que para sacudir a poeira e dar a volta por cima não é pra qualquer um, principalmente para quem delatou para o regime militar companheiros e companheiras que poderiam ser torturados e mortos pelos amigos do cantor. Simonal tentou. Não conseguiu.

 
"Todos esses documentos integram o processo 3.5 40, instaurado em 1972 na 23ª Vara Criminal, concluído em 1976 e em cujas 655 folhas jamais houve divergência: dos amigos mais fiéis ao antagonista mais ressentido, todos estiveram de acordo que Simonal -e ele assentia- era informante do Dops".

"Às 15h de 24 de agosto de 1971, perto de nove horas antes da diligência contra Viviani, Simonal afirmou ter ido à rua da Relação "visto aqui cooperar com informações que levaram esta seção a desbaratar por diversas vezes movimentos subterrâneos... subversivos no meio artístico". Ou seja, o primeiro a sustentar que Simonal era informante foi ele mesmo, e antes da ação da polícia. Na ocasião, o cantor lembrou que no golpe de Estado de 1964 esteve no Dops "oferecendo seus préstimos ao inspetor José Pereira de Vasconcellos" -outro denunciado por sevícias contra opositores..
Na 13ª DP, o cantor depôs em 28 de agosto. Apresentou-se como "homem de direita" e relembrou ter dito no Dops (no dia 24) que conhecia, "como da área subversiva", "uma irmã do senhor Carlito Maia" -era a produtora cultural Dulce Maia, "O declarante aqui comparece visto a confiança que deposita nos policiais aqui lotados e visto aqui cooperar com informações que levaram esta seção a desbaratar por diversas vezes movimentos subterrâneos... subversivos no meio artístico"; "Como sabe V. Sa., o cantor

Wilson Simonal é elemento ligado não só ao Dops, como a outros órgãos de informação, sendo atualmente o elemento de ligação entre o governo, as autoridades e as Forças Armadas com o povo, participando de atos públicos e festividades, fazendo de seu verbo e prosa a comunicação que há tanto tempo faltava."Mário Borges, chefe da Seção de Buscas Ostensivas do Dops; "O primeiro acusado, Wilson Simonal, era informante do Dops e diversas vezes forneceu indicações positivas sobre atividade de elementos subversivos (idem)."Conhece o primeiro acusado [Wilson Simonal] porque após a revolução de 64 o primeiro réu sempre colaborou com as Forças Armadas."Expedito de Souza Pereira, tenente-coronel do Exército;

"Simonal se diz, com todas as letras neste processo, um colaborador dos órgãos de informação, por se tratar de homem de direita. A sua defesa corroborou isso com cifras definitivas [...]. Daquela época ["Revolução de 1964'] ao fato da denúncia se perfizeram 7 anos e meses de atividade policial auxiliar voluntária de Simonal; ""Que Wilson Simonal de Castro era colaborador das Forças Armadas e informante do Dops é fato confirmado [...]."João de Deus Lacerda Menna Barreto, juiz da 23ª Vara Criminal, na sentença do processo 3.540/72; ""O primeiro apelante, Wilson Simonal de Castro, era colaborador das Forças Armadas e informante do Dops [...]."Antônio Carlos Biscaia, promotor de Justiça, em contra-razões de recurso

"Relatório interno do Departamento de Ordem Política e Social da Guanabara, com carimbo "confidencial", resumiu em 30 de agosto de 1971 a relação com Wilson Simonal: "É elemento ligado não só ao Dops, como a outros órgãos de informação, sendo atualmente o elemento de ligação entre o governo, as autoridades e as Forças Armadas com o povo, participando de atos públicos e festividades, fazendo de seu verbo e prosa a comunicação que há tanto tempo faltava".

"Em agosto de 1982, ainda na ditadura, a Folha circulou com entrevista de Simonal em que ele afirmou: "Dizer que eu dedurei os cantores comunistas é meio calhorda. Eles próprios nunca negaram que eram comunistas. Chico Buarque, Caetano Veloso jamais disseram o inverso. E qualquer criança sabe o que eles são..."

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