Minha opção ideológica: ainda faz sentido falar em direita ou esquerda? – Por Afranio Silva Jardim |
Cidadania | |||
Dom, 30 de Outubro de 2016 17:21 | |||
Desde logo, deixo bem claro: sempre tive aguçado o meu sentimento de justiça, mais especificamente, o de justiça social. Por influência de meu falecido pai e de várias outras circunstâncias, sempre achei possível uma sociedade menos injusta, alicerçada sobre outros valores que não a competição e a cobiça. Na verdade, o mundo sempre esteve dividido entre pessoas que só pensam em si e pessoas que se preocupam com a desgraça dos outros. A falta de informação ou informação deturpada impedem a divulgação dos melhores valores, fundantes de uma sociedade mais justa. A questão é, principalmente, ideológica. Embora tenha nascido em um lar privilegiado, sempre pugnei por justiça social. Agradeço ao meu saudoso pai por ter despertado em mim esta consciência crítica, como disse acima. Malgrado corra o risco de cair num reprovável maniqueísmo, digo que se trata de uma luta da solidariedade contra o egoísmo. Pode ser até utopia ou romantismo juvenil, mas é a utopia que nos faz caminhar, como dizia Eduardo Galeano e a utopia é absolutamente necessária. O mundo já foi muito pior (mataram quase todos os índios, escravizaram os negros e dizimaram civilizações, em razão do racismo e da ganância). Graças à luta contra os egoístas, o mundo melhorou e, algum dia, a solidariedade, e não a competição, fará surgir um novo ser humano. Como disse Leon Gieco, em uma das suas belas músicas, “há de vir uma nova cultura”. A nossa esperança é que, ao menos, todos tenham as mesmas oportunidades. Que os filhos da nossa empregada doméstica tenham as mesmas oportunidades sociais que os nossos filhos, vale dizer, que o filho do empregado não nasça empregado e que o filho do patrão não nasça patrão. Espero que consigamos vencer este trágico determinismo de uma sociedade profundamente injusta e indiferente à dor dos outros. Que jamais uma criança morra nos braços de sua mãe em razão de falta de recursos para o seu tratamento médico, enquanto outros jogam “dinheiro pelo ralo”. Fala-se que, nos dias de hoje, já não fazem mais sentido as “categorias políticas” chamadas de pensamento de esquerda e de direita. Não penso assim, e abaixo justifico o meu entendimento, embora de forma bastante simplificada e, até mesmo, de forma simplista. O pensamento de esquerda prioriza a justiça social, sustentando que o Estado Popular deve assegurar, no mínimo, as mesmas oportunidades para todos. Os valores da esquerda são a solidariedade e igualdade. Busca-se uma sociedade justa, sem explorados e exploradores. Já a chamada “direita” privilegia a competição e a concorrência na sociedade. É individualista. A direita fala em total liberdade. Entretanto, tal liberdade é meramente abstrata pois, no mais das vezes, não é o Estado que a subtrai. No dia a dia das pessoas, a liberdade é suprimida pela relação privada de emprego. Muitas vezes, se o empregado não for um “bajulador” do seu patrão, pode ser colocado no “mar da amargura”. As pessoas saem de casa com o risco de voltarem desempregadas. Dizem que antes de distribuir, é preciso fazer “crescer o bolo”. Sucede que raramente o “bolo cresce” e, quando cresce, eles não querem distribuir… A esquerda pode ser um pouco utópica, mas a “poesia” está com ela. A direita aposta no egoísmo do ser humano, cria uma sociedade individualista e indiferente à dor alheia. Um verdadeiro “darwinismo” social. Que vençam os mais astutos, os mais aptos ou os mais “fortes”! Esta é a avaliação de alguém que sempre se negou a aceitar uma sociedade onde crianças peguem comida no lixo e mães assistem a seus filhos morrerem por falta de dinheiro para tratá-los das suas doenças graves. Não me conformo com esta miséria, embora este “sistema econômico” sempre me tenha sido favorável. Por isso, julgo ter legitimidade para criticá-lo: não falo em causa própria. Enfim, por tudo isso, me insiro no pensamento de esquerda. O grande problema é conseguir uma sociedade justa sem sacrificar a liberdade individual, efetiva e concreta, pois ninguém abre mão de seus privilégios senão pela coerção. A utopia é como o horizonte; está sempre distante. Entretanto, vale a pena repetir, ela é que nos faz caminhar (Galeano). Caminhemos sempre. Digamos não ao imobilismo. Digamos não ao conformismo.
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