Juvená, Coração de Salvador por Bete Wagner |
Cidadania | |||
Sex, 27 de Agosto de 2010 17:22 | |||
O
coração de Juvená é hoje o coração de todos nós, o coração de Salvador. A nossa
cidade foi sacudida, mexida nas suas entranhas, deixando em cada um de nós uma
sensação de dor, de perplexidade e desamparo. Uma dor no peito, um nó na
garganta, a nos indicar que algo muito sério aconteceu em nossa cidade.
O
desfecho violento, provocado pela falta do diálogo efetivo e consequente, foi
fatal neste caso das demolições das barracas de praia. Trata-se, talvez, de uma
visão medíocre, apequenada, de chegar e resolver, de qualquer jeito, assuntos
que pedem grandeza pública e compreensão da cultura e da vida da cidade. Por trás das demolições, dos incêndios desesperados que assistimos perplexos em orlas como a de Ondina, e na Ribeira, das angústias dos que tentaram, mas não conseguiram o diálogo, emerge uma importante discussão da nossa Salvador. Afinal, trata-se da ocupação de um dos territórios mais importantes da cidade. Que orla desejamos? Uma reedição anacrônica, desterritorializada, aculturada de orlas de qualquer outro lugar, ou de lugar nenhum, que nos roube a cena da nossa própria cidade? Será que vamos abrir mão do privilégio que temos de definir a ocupação urbana da única orla de capital do país, ainda aberta aos nossos desígnios, à decisão compartilhada sobre o uso comum das nossas praias? Questões muito relevantes precisam ser esclarecidas. Será que se pretende uma orla formada por um paredão de concreto com as praias privadamente apropriadas pelos condomínios de luxo? Ou é possível, e tenho convicção de que é, incluir os diversos segmentos da cidade numa discussão que é sua e tem, obrigatoriamente, que ser pública? As questões ambientais e paisagísticas, relativas à ocupação desordenada e sem rumo, têm como se resolver. Tendo dirigido o IMA (Instituto do Meio Ambiente) sei que é possível a conciliação Aliás, este é o desafio cotidiano de um órgão ambiental, promover o diálogo, para equilibrar o desenvolvimento e a proteção do nosso meio ambiente. Os graves problemas de saneamento, especialmente relativos ao lixo e também ao esgoto, oriundo dos sanitários improvisados, exigem posturas urbanísticas firmes. Garantir a paisagem da nossa orla, patrimônio da cidade, significa assegurar espaços para convivência e contemplação, indispensáveis numa cidade humanizada. Também isto é possível de se conciliar. O que não é possível, não é aceitável e devemos recusar com veemência, é o ultraje da cultura que formou e desenhou a orla da nossa cidade. Comer um caranguejo, tomar uma cervejinha, encontrar com amigos na praia tem um jeito que só Salvador soube criar. Ou queremos uma praia asséptica, fria, sem o calor e o aconchego que só a gente daquele lugar, que faz a sua cultura pode aportar? Juvená, meu amigo, espero que a gente tenha sabedoria de cuidar do seu coração, que é o meu coração, que é o coração da nossa cidade. Você hoje simboliza a cidade, sua dor é a dor de quem não aceita este desvario que nos violentou. É a dor de cada barraqueira e barraqueiro que também fazem a cultura, a urbanidade e a vida. É a nossa dor. Axé meu irmão de cidade, saúde e vida para você e para a nossa Salvador. ---------------------------------- Bete Wagner, economista, ex-diretora geral do IMA (Instituto do Meio Ambiente), é candidata a deputada estadual pelo PV Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
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Última atualização em Sex, 27 de Agosto de 2010 17:25 |
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