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Às vezes acho que a vida é um poema! Por Marconi De Souza Reis

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Um editor paulistano me disse, no ano passado, que os autores de livros dos nossos dias não serão lembrados no próximo século apenas por suas obras em papel, mas principalmente pelos textos que publicam na internet (blogs e rede social).

– A maioria dos seus textos na rede social é plasmada exatamente para o formato da internet, comentou.

E é verdade. Esse texto de hoje, por exemplo, só teria sobrevida na rede social. É para ser consumido como notícia de jornal, mas, como fica arquivado eletronicamente – os jornais vão enrolar peixes –, o leitor de amanhã poderá acessá-lo facilmente.

Como já foi dito, hoje eu iria escrever um texto familiar/planetário, troquei-o por Lampião e as árvores decepadas em Queimadas, mas, na verdade, eu queria mesmo era falar um monte de coisa sobre Elvis…

Ele morreu há 40 anos (no dia 16 de agosto de 1977). Eu tinha quase 13 anos de idade, e nunca me esqueci o “escândalo” que o meu pai fez lá em casa com a sua morte, despertando-me para aquele acontecimento.

Meu pai estava depressivo em 1977, por questões empresariais, mas, ainda assim, ele foi capaz de me fazer ouvir duas canções com uma observação supimpa:

– Ouça esse cara. Ele é um branco com voz de negro.

Colocou um compacto na radiola, enquanto eu lia na revista “Manchete” as reportagens que falavam tudo sobre a vida e a morte do rei do rock.

A rua e a roça foram muito importantes para mim em Queimadas, mas, sem dúvida, o contato em casa com o meu pai e a minha mãe, nos anos 70, foi o norte da minha vida. Após a morte do meu pai em 2013, sinceramente, a cidade morreu demais em mim…

Quando ele era ainda vivo, em 2008, eu estava separado da minha família, e então conheci na praia cinco garotas, num sábado, todas patricinhas de Vilas. Apaixonei-me por um delas, que se identificou como Sylvia (já contei essa história aqui).

Marcamos um sarau na minha casa, e eu, às apalpadelas, aprendi a tocar “Sylvia”, de Elvis, no piano, para aquele evento. Foi um dos momentos mais bacanas que vivi. Ela era muito bonita, inteligente, mas nunca achei uma mulher capaz de substituir a minha.

No verão passado, eu a revi passeando na praia, já balzaquiana, com um cara malhado, e então me lembrei daqueles dias de 2008, e do compacto que meu pai colocou nos anos 70, com “Sylvia” no lado B do pequeno disco. Enfim, revisitei na lembrança um doce retalho da minha vida.

“Sylvia” é a canção que melhor interpreto no piano, assim como a mais importante série de reportagens que escrevi foi “O golpe das liminares”, no ano de 1998, e que, por coincidência, teve início exatamente no dia 16 de agosto – 21 anos depois da morte de Elvis. Adoro essas coincidências…

Quando eu vi a casa em que moro hoje, senti uma coisa tão forte, que decidi tê-la no mesmo instante. A casa era de uma arquiteta (ela própria desenhou e ergueu o imóvel). Anos depois, minha esposa avistou a casa de Elvis, em Menphis, e gritou:

– Marconi, venha ver… A arquiteta se inspirou na casa de Elvis para fazer a nossa. A ideia do portal é quase idêntica.

Sem dúvida, eu devo ter visto aquela foto na revista “Manchete”, quando tinha quase 13 anos, e a imagem morou em mim, no inconsciente, para ressuscitar quando avistei a nossa futura casa.

Olha, às vezes acho que a vida é um poema. Nós somos arrebatados nas primeiras estrofes (infância e adolescência), e os demais versos vão se sucedendo, rimados ou não, tais quais as árvores, que crescem indefesas em direção ao céu. Espero apenas que não me cortem tão cedo. Há tantos frutos, folhas e flores, ainda.

Elvis Presley (Sylvia)

Marconi De Souza Reis, baiano é advogado e por muitos anos exerceu com brilhantismo o Jornalismo.

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