Até onde A Tarde pode fugir? Por Franklin Carvalho
A atitude da direção do jornal A Tarde de
boicotar a cobertura da II Conferência Baiana de Cultura, que aconteceu em Feira
de Santana no fim de semana passado, além de envergonhar os seus editores e
apequenar o veículo, é lamentável principalmente do ponto de vista do leitor.
Nós, que aguardamos em casa alguma notícia sobre o mais importante evento deste
ano na cultura local, nos sentimos traídos, recebendo uma maçaroca impressa que
nos tenta fazer de bobo.
A recusa d´A Tarde em fazer a cobertura da
Conferência não impediu que o encontro acontecesse, já que a realidade não se
dobra diante das pautas, é justamente o contrário que costuma acontecer.
Centenas de delegados do Estado estiveram em Feira, numa festa marcada também
por apresentações do que ainda resta de nossa Cultura popular. Ali
se apresentaram expressões nascidas da população mais humilde, que nunca tem
vez, e o jornal tentou lhes roubar mais uma oportunidade.
Não gosta o Sr. Florisvaldo Mattos do Sr.
Márcio Meireles? É um direito que lhe assiste. Mas eu, como assinante do jornal,
tenho o direito de exigir mais profissionalismo, uma cobertura completa, e não
essa leviandade mesquinha dos egos delirantes. Se A Tarde acredita que a
política cultural está furada e que a conferência não serve para nada, que faça
então uma cobertura a fim de demonstrá-lo. Que mande repórteres para lá, que
investigue, que fotografe. Mas não se encastele na arrogância
típica de Maria Antonieta, a delirar sobre a vida fora dos muros do palácio,
censurando o interesse dos seus leitores.
Eu, que participei do encontro no seu
penúltimo dia, que observei a vibração dos delegados e a alegria da população de
Feira, me senti constrangido, como jornalista, ao chegar de viagem e abrir o
jornal que me entregou o porteiro. E fiquei pensando nas matérias que A Tarde
tem publicado com a vinheta "Crise na Cultura". Que moral, que
credibilidade ainda resta ao jornal para tocar nesse assunto? O que o leitor
deve fazer com a edição do domingo, dia 28, à qual falta uma página essencial à
vida democrática do Estado?
O que fica parecendo é que a A Tarde não foi
a Feira para não encontrar-se com os pobres do interior, porque o jornal
prefere, isso sim, manter-se como última trincheira do compadrio, como defensor
de privilégios da capital, do capital e do beija-mão. E perdeu a oportunidade de
colaborar com o debate, aproveitando-se de talentos como Ceci Alves, Mary
Weinstein, Cleidiana Ramos e muitos outros bons nomes, capazes de mergulhar no
complexo universo da cultura baiana…
O jornal ficou perdido em seu próprio mundo,
isolado, como os seus cronistas muitas vezes se perdem. A propósito, Gilberto
Gil, presente na Conferência, saiu-se com uma tirada muito boa ao ser perguntado
sobre as críticas feitas por João Ubaldo à política cultural da Bahia. "Por que
é que ele não está aqui? Onde é que está João Ubaldo?", perguntou o ministro. Eu
não sou vidente, mas posso arriscar uma resposta que me parece a mais plausível:
João Ubaldo estava em casa, alheio à realidade, lendo o jornal A
Tarde.
Franklin
Carvalho
frankroo@atarde.com.br