Bolsonaro e Paulo Guedes são restos que alimentam as misérias da direita bacana. Por Moisés Mendes
Tem muita gente boa achando que faz sentido a proposta de Paulo Guedes de permitir e estimular a distribuição de sobras de alimentos a pobres e miseráveis. Bolsonaro e Guedes entendem de sobras, e a direita sabe muito bem.
Guedes quer transformar restos de comida em política de governo. Podem dizer, e alguns dizem, que boa parte do que é desperdiçado poderia alimentar muita gente. Poderia e pode.
Todo lugar que produz ou distribui alimentos, em especial os entrepostos de hortigranjeiros, poderiam contribuir para aplacar a fome de famílias que não conseguem comprar o que comer.
Mas não dá pra imaginar que a distribuição de sobras de restaurantes da classe média e dos ricos possa ser transformada em política alimentar. Não pode.
Nenhum governo no Brasil das desigualdades tem o direito de reafirmar as realidades dos desiguais com a distribuição do que os outros não comem porque estão empanturrados.
O que um governo precisa fazer é criar políticas de suporte social, econômico e financeiro para que as pessoas tenham o direito de pelo menos tentar escolher o que comem, mesmo que seja arroz com feijão. Os que não conseguirem nem isso devem ser socorridos, até os liberais admitem, mas não com sobras.
Dar às sobras o status de política alimentar não é apenas uma crueldade, é uma ideia nazista que trata pobres e miseráveis como inferiores. Os pobres não podem ser submetidos ao constrangimento de aceitar restos de comida com o carimbo do governo.
O interessante é que o próprio Paulo Guedes é uma sobra. De toda a geração de economistas neoliberais dos anos 90, ele talvez seja um dos mais medíocres.
Ninguém conhece um texto com alguma reflexão relevante assinado por Paulo Guedes. Ele foi o que sobrou para Bolsonaro.
Paulo Guedes é um resto do pensamento que caducou no mundo todo e
ainda prospera no Brasil porque teve um Bolsonaro para acolhê-lo.
E Bolsonaro também é um resto que alimenta a direita desde o fim dos banquetes oferecidos pelos tucanos.
A direita brasileira, que vive de sobras há muito tempo, tem que comer o que lhe oferecem em tempos de escassez.
E o que há no momento é a comidinha oferecida pela extrema direita. Bolsonaro é quem dá de comer à direita brasileira. A direita bacana come com as mãos as sobras oferecidas pela extrema direita.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)
Artigo publicado originalmente em https://www.blogdomoisesmendes.com.br/bolsonaro-e-guedes-sao-restos-no-banquete-da-direita/