Aldeia Nagô
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Confesso que antes do golpe eu era muito mais sociável. Por Manno Góes

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Manno-Goes

Porque antes do golpe acreditava que a democracia, exercida pelo voto, seria respeitada. Não gosto do verbo “tolerar”. Prefiro o verbo “conviver”. Eu convivia.

Não é que eu não “tolerasse” as pessoas que não queriam Dilma. Eu convivia. Interagia.
Entendia suas queixas e críticas. E convivia. Não “tolerava”. Eu coexistia com elas.

Mas até então, até o golpe, havia um conjunto de aspectos que moldavam o respeito ao voto e ao pensamento contraditório.

Acontece que o golpe foi muito invasivo. Machucou pra valer.

Agrediu muito quem venceu.

Quem defendeu uma opção. E que tinha críticas, sim, à Dilma e sua gestão.

Dizer que não foi golpe, porém, é compactuar com Cunha. Com Temer. Com Aecio. É usar peneira contra o sol.

Foi golpe.

Mas repetir isso, que soa como ladainha para quem não votou nela, não é o que quero.

Acontece que eu sei que mudei.

E vejo que muitos mudaram.

A decepção; o sentimento de injustiça; a frustração…

Me tornei mais ácido e agressivo. Cansado.

A melhor defesa é o ataque?

Mas o nome de tudo que acontece é “reação”.

Jamais me imaginaria feliz vendo quem quer que fosse recebendo ovo na testa.

Continuo acreditando na importância do conviver com o divergente.

Mas quem votou em Dilma sabe do que estou falando.

Falo de sentimentos que vão além de opções políticas.

Isso incomoda e machuca.

Hoje, com o silêncio das ruas e das panelas, diante de tantos absurdos, percebo que quem, como eu, se manifestou e percebe que há algo muito errado nas peças do tabuleiro, se sente como Dom Quixote enfrentando moinhos de vento.

O golpe é profissional.

Temer se defende torrando fortunas pagando deputados.

Queimaram o filme dos projetos sociais – avanços incríveis: bolsa família; cotas; ciências sem fronteiras, etc..

Tudo pra justificar o impedimento do governo do PT.

Alimentaram um ódio e uma parede de interpretações distorcidas que nos empurraram para o escanteio.

Todos estamos pagando um preço.

O País.

Quem votou em Aecio.

Quem vê Temer e seus deputados se agarrando como podem no poder para não serem punidos.

Enfim…

Eu coexistia pacificamente com os que discordavam de mim.

Hoje eu comemoro ovadas em Doria e não vejo mais nenhuma virtude em golpistas.

Eles erraram.

Mas não posso errar como eles.

Eu não gosto disso em mim.

Animal acuado agride.

Não tenho porque me sentir acuado.

Tenho muita esperança de um país melhor.

Em que não seja importante “tolerar”; mas “coexistir”.

E para pessoas como eu, que cresceu vendendo amor e alegria através de canções, esse sentimento de reação é muito ruim.

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