Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Conheci Rogério Duarte num carnaval , fantasiado de índio. Por Tuzé de Abreu

3 minutos de leituraModo Leitura
Tuze_de_Abreu

Mas eu já sabia muito sobre ele através de Caetano Veloso , seu amigo, e mais tarde compadre. Rogério foi o padrinho de Moreno Veloso. Era um sujeito muito inteligente e multitalentoso. Foi uma das pessoas centrais do Tropicalismo, embora não esteja na capa do disco ícone do movimento.

Ele também trabalhou com Smetak , tendo sido com Gilberto Gil , os únicos da nossa turma smetakiana a estudar a Eubiose, dissidência brasileira da Teosofia, que norteou seus (de Smetak) trabalhos a partir do final dos anos de 1940 e principalmente a partir da sua chegada à Bahia , em 1957.

Rogério , da nossa turma , foi o que foi mais longe no estudo da Eubiose. Mais tarde tornou-se” Hare Krishna” , estudou sânscrito , falava e escrevia perfeitamente este idioma , traduziu livros e poemas dele para o português. José Walter Lima , também nosso amigo há décadas , fez um filme sobre Smetak (O Alquimista do Som ) e outro sobre Rogério Duarte. Seria uma temeridade minha pretender escrever amplamente sobre Rogério. Poeta, designer,músico , enxadrista, escritor,fazendeiro,geólogo (sem diploma) e muitas coisas mais.Vou apenas falar um pouco de contatos pessoais meus com ele.

Fizemos parte do primeiro “Violão de Microtom” , criação de Smetak. Um Violão de Microtom divide-se em seis violões , com preparação diferente do violão mais comum. Não vou entrar em detalhe porque é complicado , mesmo para quem sabe música. Este grupo era formado por ;Fredera (guitarrista que tocava com Gil), no violão com as cordas mi prima, Gereba, no violão com as cordas si, Gilberto Gil , no violão com as cordas sol, eu , no violão com as cordas ré, Rogério , no violão com as cordas lá , e Capenga (baixista que tocava com Gereba) no violão com as cordas mi bordão.

Vivemos algumas aventuras juntos, fomos vizinhos, morando em apartamentos frente a frente, bastava atravessar o corredor, no Tambá, no morro do Vidigal no Rio de Janeiro . Fizemos uma canção de parceria (Prece), tocamos certa vez a Bachiana número cinco de Villa-Lobos (violão e flauta) no teatro do ICBA – com muita emoção toquei no funeral dele em Santa Inês, a Ave-maria de Bach/Gounod, acompanhado ao violão pelo querido Moreno Veloso , como já disse antes, afilhado de Rogério.

Há alguns anos houve um evento smetakiano na Reitoria da UFBA. Entre os músicos convidados para tocar , a maioria jovem, estávamos Gereba , Rogério e eu, únicos que tinham trabalhado com o próprio Smetak. Vale dizer que nesta época Rogério tinha feito apenas uma viagem ao exterior , ao Paraguai. Anos depois disto foi feita uma belíssima exposição em Frankfurt, com suas obras visuais , onde ele foi , tendo sido muito bem aceito . Mas voltando à Reitoria. 

Enquanto a equipe de montagem fazia o seu trabalho com equipamentos e elementos cênicos, Rogério , cercado pelos músicos jovens, falava brilhantemente sobre a Índia, sua cultura, sua religiosidade e muitas outras coisas. Ouvir Rogério falar de um dos muitos assuntos que conhecia, era maravilhoso. Depois de um bom tempo , um dos jovens , fascinado, perguntou: “Rogério , você já esteve na Índia?” Ele. ” Não , eu ESTOU na Índia”.

Como ele tinha um apartamento aqui perto , várias vezes sinto falta de ir até lá , como fui muito , para desfrutar da sua conversa extraordinária.

Compartilhar:

Mais lidas