Decodificando danilo e os seus escrotos. Por Wilson Gomes
Não, o que Danilo Gentili fez não foi uma bravata, não foi uma piada, não foi um exercício de liberdade de opinião. Foi um ato da mais pura violência, em um padrão de brutalidade raramente visto nessas circunstâncias.
Que circunstâncias são essas? Trata-se de uma celebridade e não de um troglodita de algum grotão. Foi encenado na frente de uma câmera, não foi um flagrante de violência capturado secretamente. Foi gravado e distribuído conscientemente em mídias sociais, não uma dessas brutalidades que são praticadas apenas quando protegidos das luzes e do olhar público. A pessoa a quem se destina a violência e o ato de humilhação é uma parlamentar da República, não uma Maria obscura e indefesa ante o macho ameaçador.
Por que, então, dadas todas essas circunstâncias (visibilidade, publicidade, possibilidade de reação etc.), ainda assim Gentili fez o que fez? Porque se garante? Porque tem certeza de que sairá impune? Sim, certamente, mas principalmente porque:
1) Gentili representa muitos, legiões. Ele se sente representante porque muitos se sentem por ele representados. A alcateia ao seu redor se sente representada no seu desrespeito por mulheres, na sua ojeriza a políticos, na sua afronta ao que chamam de politicamente correto, no seu desprezo por Direitos Humanos, minorias, esquerda.
2) o ritual do desacato, afronta, insubordinação, desprezo, desconsideração, desaforo, ultraje, insulto (para eles, “irreverência”) tem como resposta a admiração e o afeto dos representados. Por esta razão, o ato não poderia ser oculto, discreto, tem que ser exibicionista, ostentatório e, literalmente, obsceno. Ele se destina a alimentar e a satisfazer a alcateia e de reforçar os seus vínculos identitários ao redor do seu macho alfa.
3) a alcateia já não se contenta com pouco. Dizer horrores escatológicos a Maria do Rosário (sempre ela, o alvo feminino preferido dos orcs e trolls), Bolsonaro já o fez. No país da banalização do assédio sexual, do estupro, do feminicídio, haja hipérbole para chamar ainda a atenção dos embrutecidos que agora estão em alta. Seria preciso alcançar um nível muito alto de vulgaridade e sordidez, seria preciso algo realmente muito sujo, sórdido, grosseiro, rebaixado para conseguir mexer com a massa feroz que Gentili representa. “Que tal passar notificação no pau malcheiroso (o cheiro foi ele mesmo quem tematizou) do macho, em desafio, para mostrar a todos que a ela caberia apenas a submissão humana e sexual ao lobo alfa da nossa alcateia? #Xupa Bolsonaro, a degradação chegou ao nível hard, supera essa, cumpadi!”.
A espiral do embrutecimento neste país vai em grande velocidade, meu amigo.Vai vendo.
Wilon Gomes é filósofo e professor da UFBa/Facom