Dez anos do 16 de maio de 2001: Registro histórico e vacina contra a tirania
Há dez anos a juventude estudantil e os amantes da democracia tomaram as ruas de Salvador, para exigir a cassação dos senadores ACM e Arruda. O motivo era a violação do painel do Senado, comprovado por depoimento de uma qualificada funcionária, única punida à época, pois ambos renunciaram, evitando a cassação.
A tropa de choque da Polícia Militar da Bahia, sob a ordem
do governador César Borges, arremessou seus homens, cavalos, balas de borracha
e bombas de gás contra a imberbe multidão, durante todo o maio de 2001. Mas foi
no dia 16 que a agressão maior foi perpetrada.
A Faculdade de Direito da UFBA, celeiro de grandes quadros
da advocacia, da magistratura, do controle público e da política, foi invadida.
Estudantes, professores e servidores foram agredidos, alguns presos. O desvario
deixou sequelas físicas e emocionais naquela comunidade. A autonomia universitária foi violada,
quebrada como foi nos regimes de exceção.
Estive lá, como deputada estadual e membro da comunidade universitária e
devo homenagear toda aquela geração resistente, faço isto evocando o nome do professor
Arx Tourinho, também lá e vivo em nossa memória.
O sentimento da necessidade de mudar o rumo da política na
Bahia espraiou-se. O tema da ética na
política, a defesa da alternância nos postos de comando político e
administrativo, formaram uma aura que, inegavelmente, serviu de lastro para as
mudanças que mais tarde foram confirmadas nas urnas e que se exercita hoje em
nossa terra.
Registrar dez anos do CHOQUE entre a política retrógrada e a
vontade que nutríamos por uma Bahia livre se faz importante para avivar a
memória dos contemporâneos e informar os mais jovens. Especialmente para que
nunca mais se repita. Para que nunca mais o argumento da força, tente
substituir a força do argumento. Para
que nunca mais a autonomia universitária seja quebrada, e a liberdade de
expressão sufocada.
Hoje, sob o estado democrático e de direito em nosso país,
mesmo que tardio na Bahia, pioneiramente se organiza a Comissão da Verdade que
fará a análise de crimes contra os direitos humanos em várias fases da nossa
história. A Bahia não deve perder a chance de fazer constar deste rol o
episódio daquela manhã de 16 de maio, no Campus da UFBA no Canela, onde o
despotismo e tirania mostraram sua face.
O Conselho Superior
da UFBA, firme defensor da Autonomia Universitária, tem agora esta
possibilidade histórica e contará com nosso aplauso.
Alice
Mazzuco Portugal
Farmacêutica
e Bioquímica da UFBA
Deputada
Federal/ PCdoB-Ba