Aldeia Nagô
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Eleger mulheres, por Ion de Andrade

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Ion_Andrade

As eleições de 2018 serão plebiscitárias sob inúmeros pontos de vista. Em primeiro lugar no que toca ao Estado Social frente ao qual a nação deverá exprimir uma opinião.

Hoje já é mais claro, inclusive para boa parte da classe média recém apoiadora do Estado mínimo, que isso significa menos empregos, menor renda, menos contratos públicos e menos recursos para a saúde, onde milhões se empregam, para a educação e as universidades públicas estão em vias de cobrar da classe média mensalidades, e segurança, que dispensa comentários. E que ao mesmo tempo isso significa renúncia fiscal em favor dos segmentos mais privilegiados da sociedade que já não pagam impostos. O exemplo do perdão de 23 bilhões ao Itaú e a renúncia fiscal de 800 bilhões de reais no último leilão do pré-sal demonstram que o modelo que tenta ser imposto é o de fazer pagar com a vida a classe média e os mais pobres por uma farra com dinheiro público que agora não é classificada como corrupção.?

Em segundo lugar a eleição será plebiscitária sobre o papel do Estado como indutor do crescimento e do desenvolvimento. Deve o Estado ter uma agenda de contratos e de grandes obras capazes de resolver os gargalos crônicos com que a economia nacional se confronta? Deve o BNDS apoiar os projetos do setor privado capazes de alavancar a economia? Ou queremos para o Brasil uma gestão incompatível com a modernidade onde o Estado só serve para dar às elites um privilégio de mais a mais inaceitável?

Em terceiro lugar a eleição será plebiscitária em relação à forma de governo. Queremos uma democracia participativa onde a opinião dos cidadãos seja levada em conta ou queremos ser prisioneiros de um governos plutocrático onde quem decide é o mercado? Quantas Reservas na Amazônia deveremos defender até que consigam o seu intento de vender a preço vil as riquezas nacionais, com que conceito de trabalho escravo queremos conviver?

Em quarto lugar a eleição deverá ser plebiscitária no que concerne à renovação de quadros diretamente implicados com essa derrocada geral do país. Os deputados e senadores que golpearam a democracia devem ser substituídos por outros. Os parlamentares que consentiram em aprovar a Emenda Constitucional 95 que congela os orçamentos sociais por 20 anos devem ser substituídos. Esse inclusive deve ser um imperativo obsessivo dos que têm alguma consciência política e isso provavelmente resultará em muitos mandatos perdidos. De fato, essa eleição trará um debate que perpassará a esquerda e a direita sobre a legitimidade última daquele candidato anunciado como da escolha de alguém. Não haverá perdão. Quero dizer com isso que, se nas eleições passadas a direita e a esquerda não dialogavam entre si sobre as suas escolhas recíprocas, talvez até por considerarem tempo perdido, nessa eleição não. Intuo que lutaremos até o fim para retirar o voto daquele cacique implicado em desmandos e malfeitos contra a democracia ou contra o erário público e estou certo de que a efetividade disso está dada. Mesmo que permaneçam no campo conservador os eleitores estarão pressionados a não votar nos responsáveis pelo que aí está.

Em quinto lugar a eleição deverá ser plebiscitária no que toca à composição das bancadas estaduais e federais quanto ao percentual de gênero. O golpe foi perpetrado por um grupamento político formado essencialmente por homens brancos e detentores do capital. Isso não pode ser tomado pelo campo democrático como uma espécie de alegoria sem importância.

É evidente que há inúmeros parlamentares homens no campo progressista, personagens que em nada se parecem com os que estão enlameando o Brasil no campo conservador. É evidente que esses personagens devem ser honrados e merecem os votos dos seus eleitores. Os candidatos novos, entretanto devem passar por um rigoroso crivo dos eleitores. Esses que ainda não se deram a conhecer como parlamentares devem previamente ser analisados pela folha corrida de serviços prestados à sociedade, por coisas feitas, por compromisso genuíno e comprovado por ações concretas. Isso serve, naturalmente para candidatos homens e candidatas mulheres e permitirá evitar os mercadores e os vendilhões do templo.

Entretanto, esse grupamento golpista branco, masculino e burguês não poderia ser mais claro no que representa. Gritante e ostensivo deve ser baliza inesquecível a nortear as nossas opções eleitorais. Há um nítido e abjeto apartheid social no Brasil que exclui a participação de negros e de mulheres na tomada de decisões o que é um aspecto fundador do nosso coronelismo. De longa data já conhecemos a prioridade de elegermos negros e negras, e, apesar disto, há aí quase tudo por ser feito.  Tal como o racismo contra os negros o apartheid contra as mulheres é igualmente silencioso e dele só sabem as vítimas. Súbito emergem da noite dos tempos na posse do presidente ilegítimo.

No campo democrático devemos nos esforçar para que as vitórias políticas na economia e na democracia não nos permitam esquecer de que há outras assimetrias cruciais a superar.

Que se levantem as amazonas! Essa é uma eleição de mulheres!

Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/blog/ion-de-andrade/eleger-mulheres-por-ion-de-andrade

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