Entre inocentes e indignados . Por Claudio Guedes
Vejo, perplexo, que muitos descobriram agora que Twitter, Facebook, WhatsApp e Instagram, as chamadas grandes redes sociais ocidentais, são propriedades privadas. Sempre foram, desde quando foram criadas.
O banimento de Donald Trump também não deveria ser novidade. Muitos anônimos, ou pessoas com fama apenas local ou regional, têm tido suas contas suspensas ou encerradas diariamente quando transgridem os termos de compromisso e responsabilidade que todos assinam ao se filiar às redes. Quem decide pelas punições? Empregados das redes pagos para fazer o papel de censores dos limites atribuídos pelos controladores das empresas, que são, ressalto, empresas privadas. Há alguma novidade nisso? Nenhuma.
Em empresas privadas prevalece, quando a situação exige, a vontade do dono. Há alguma novidade nisso? Nenhuma.
Donald Trump, o bufão perigoso do Norte, há muito usava as redes para propagar mensagens falsas, mentirosas, numa tentativa muitas vezes bem sucedida de manipular a opinião pública. Como era um homem poderoso, presidente eleito da maior potência ocidental, os termos de conduta e responsabilidade das redes nunca foram devidamente aplicados a ele. Agora que ele extrapolou no uso das redes ao convocar e insuflar manifestação que acabou em mortes e na depredação de um prédio público símbolo da democracia republicana americana – a casa dos representantes eleitos para legislar pelo povo – ele foi punido com a exclusão de suas contas. Não há como discordar. Está nas regras de uso das redes sociais a proibição de incitamento à violência.
Aos indignados com o poder dos donos das redes apenas um lembrete, já trazido aqui ao Facebook inúmeras vezes por uma das nossas maiores referências no espaço de comunicação, o jornalista
Fernando Morais, biógrafo do magnata da imprensa do Brasil em meados do século passado, o temido Assis Chateaubriand. Este dizia que jornalista que queria liberdade para dar sua própria opinião deveria fundar seu próprio jornal.
As redes são os jornais do século XXI e têm donos. Nós as usamos muitas vezes contra os interesses deles, somos inteligentes e sabemos aproveitar o espaço, mas sem ilusões que se alguma vez ameaçarmos de fato os interesses das grandes corporações que as controlam – mesmo que nada tenha a ver com incitamento à violência -, delas seremos banidos.
Sem ilusões.