Aldeia Nagô
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Entrevista com o Governador Jaques Wagner por Samuel Celestino

34 - 48 minutos de leituraModo Leitura

"A Bahia era um risco no chão;
quem está a favor, quem está contra. Agora, isso aqui é uma
pluralidade e eu me orgulho muito disso".


WAGNER, A POLÍTICA E A GESTÃO: UM
DOCUMENTO

 

Por Samuel Celestino / Fotos:
Roberto Viana /Agecom

SAMUEL CELESTINO: 
Governador, quero dividir esta entrevista em duas partes: uma 
administrativa, e a segunda política. Vou começar pela administração. O
senhor foi eleito por governar quatro anos, e tem grandes possibilidades
para fazer um segundo mandato. Admitamos que o senhor fique apenas nos
quatro anos para os quais foi eleito, que legado acha que deixará para o
Estado da Bahia em termos de obras?

GOVERNADOR JAQUES WAGNER: O primeiro legado
será a modernização da máquina administrativa do Estado. Apesar do que
se falava muito de gestão nos governos anteriores, eu encontrei uma
máquina administrativa, à exceção da Secretaria da Fazenda, que se
preparou bem, pelo ponto de vista da informatização e da modernidade,
embora estejamos melhorando, as outras secretarias e a estrutura de
gestão do Estado eram, em minha opinião, muito arcaicas. Os sistemas
internos não se conversavam. Agora introduzimos um grupo de tecnologia
da informação para modernizar, estamos modernizando toda a gestão e
informatização da gestão em saúde, em educação, o próprio DETRAN, que
estava extremamente ultrapassado. Do ponto de vista das ferramentas para
a gestão e a própria transparência, que cada vez é mais buscada na
gestão pública, eu tenho tranquilidade para dizer que vamos entregar um
Estado muito mais moderno do que aquele que recebi para os próximos
gestores.

Vamos entregar uma máquina muito melhor do ponto de vista das
licitações, da forma como tudo está sendo feito. Posso lhe garantir que
vamos entregar um Estado muito mais moderno, então isso é um avanço.
Vamos deixar um legado do ponto de vista da educação e saúde. Hoje, nós
temos 18 hospitais em construção, sendo novos ou em reforma, ao longo do
Estado inteiro;  400 postos de Saúde na Família que vamos entregar
até o final de 2010;  então não tenho dúvidas que ampliamos muito o
número de atendimentos e cirurgias eletivas, porque iremos entregar
uma máquina de saúde infinitamente melhor do que a que recebemos. Na
área de educação, evidentemente, muita coisa aconteceu com a parceria
com o governo federal. Nós vamos entregar o Estado com nove escolas
técnicas. Antes de te receber, estava aqui exatamente com o secretário
de Educação; só para estes dois anos que faltam, o orçamento passa de
200 milhões em reformas e construção de novas escolas.

Já multiplicamos por seis o número de matrículas nessa área e
acabamos de colocar 22 mil televisões com DVDs em todas as salas de
aulas de escolas públicas e estaduais para melhorar o conteúdo, porque
as escolas mais distantes às vezes têm dificuldades de acesso. Vamos
entregar tudo isso em rede, a partir do Instituto Anísio Teixeira, que
será a unidade geradora. Vamos poder fazer, inclusive, através de
teleconferências um processo para melhorar a qualidade pelo ensino à
distância, porque com o tamanho do Estado, nem tudo poderá ser
presencial. Na área de infra-estrutura está aí o Complexo Dois de
Julho, a Via Expressa da Bahia de Todos os Santos, que já está licitada
e começando a mobilizar. Eu vou entregar um Derba totalmente reequipado
com 220 máquinas novas compradas no ano passado, pois estavam totalmente
sucateadas. Consegui mos R$ 1 bilhão de reais de empréstimo do
Banco Interamericano e praticamente metade disso será utilizado na
estrutura rodoviária.  O Porto de Salvador já vai à licitação ou
convênio para duplicação da área de contêineres aqui, portanto vai
começar a virar uma realidade. Logo a Vale estará licitando o primeiro
trecho da Ferrovia Leste-Oeste de Ilhéus até Brumado, para atender
exatamente à mineração. O novo aeroporto de Ilhéus, eu estive esta
semana na Infraero e tenho o compromisso de até abril já estar com tudo
pronto.

A área de referência já está escolhida que é entre Ilhéus e
Itacaré, perto de onde será o Porto Sul. Vamos fazer lá, na verdade, um
complexo logístico. A ferrovia, a rodovia que já existe Ilhéus-Itacaré ,
o aeroporto e o porto. Então, a minha idéia é fazer dali um complexo
logístico e, para trás, indo para Itabuna, temos uma área que é ZPE. A
nossa idéia é fazer outro vetor de desenvolvimento para aquela região,
em torno de Ilhéus.  Aí, modéstia a parte, pode perguntar a quem
circula pelas estradas também, estão com uma qualidade bem superior ao
que estava sendo feito. Vamos entrar no tema que virou essa
polêmica, a ponte Salvador-Itaparica completando essa estrada
Camamu-Itacaré e o outro trecho até Belmonte. Pretendemo s
realizar uma estrada litorânea belíssima, que vai sair de Salvador
e chegar a Ilhéus com quatro horas de viagem de carro. Será também mais
um vetor importante para o desenvolvimento do turismo.

Óbvio que o estádio para a Copa do Mundo até 2010 não estará
edificado, mas certamente já estará licitado e com a nossa modelagem
economica toda pronta para o nosso Estádio da Fonte Nova de Salvador,
para a Copa do Mundo de 2014. Então estamos discutindo com o governo
federal; com a prefeitura de Salvador o chamado PAC mobilidade urbana
que vai entrar exatamente atuando nas cidades que vão ser sede da Copa
do Mundo. Portanto, tudo aquilo que fica depois de uma Copa que é um
veículo leve sobre trilho e sobre pneus que vai fazer ali o vetor da
paralela para desafogar aquele trânsito.

Acho que posso dizer também como legado o Estádio de Pituaçu
que, apesar da controvérsia, será lembrado porque acabou virando um
ícone aqui para o esporte baiano. O Programa Água para Todos acho que
vai ficar uma marca. As pessoas me perguntam porque dizem que eu bato
pouco bumbo para as coisas que fazemos. Mas, por exemplo, o Programa
Água para Todos não dá repercussão. É uma obra gigantesca. Já
ultrapassamos o poço de número mil, perfurado nesses últimos dois anos.
Levar água e melhorar o acesso à água para um milhão e trezentas
mil pessoas, a repercussão não é pouca, porque quem vive no sertão, quem
vivia sem água, ter água é uma emoção e estamos levando água para muitos
lugares. O volume de obras que a Embasa e a SERC estão fazendo é muito
grande. O programa "Topa", se atingirmos a nossa meta hoje, chegaremos
perto de um milhão de pessoas saindo do analfabetismo.

Na verdade, Samuel, quando as pessoas falam de legado as
pessoas pensam muito em cimento, concreto e tijolo. Eu acho que o legado
não é só isso, mas estou te dando alguns legados como o novo Hospital de
Salvador, no subúrbio, o novo Hospital da Criança, em Feira e o
Complexo Dois de Julho. São marcas que seguramente vão ficar, como a Via
Expressa da Bahia de Todos os Santos, que vai desafogar todo o trânsito
ali em torno da Rótula do Abacaxi. Seguramente, alguém vai dizer "quem
fez isso aqui foi o governador Wagner". Em relação ao administrativo
citei alguns casos, como esse programa Água para Todos eu acho que fica,
e essa preparação toda de infra-estrutura que estamos fazendo, como o
novo Porto Sul, a rodovia, a duplicação do aeroporto de Salvador, agora
a renovação do Porto de Aratu, sinceramente acho que já são algumas
marcas que plantam o desenvolvimento para mais de trinta anos.

"Não estabeleço essa
competição, como fazem os adversários, com Pernambuco.
Sinceramente, não fico com olho gordo, quero que Sergipe cresça, Alagoas
cresça, Pernambuco cresça. Agora, se estabeleceu essa
dicotomia…"

SAMUEL CELESTINO: Governador, vamos completar
essa pergunta porque falei em legado para quatro anos. As possibilidades
de o senhor fazer um segundo mandato são amplas. As pesquisas estão
demonstrando e eu perguntaria, pedindo síntese: admitamos que o senhor
faça, como é possível, um segundo mandato. Como o senhor pretende
desenvolver aquilo que começou neste primeiro mandato quando passou dois
anos para tomar conhecimento da máquina estadual e para modernizá-la.
Como é que pretende governar a Bahia oito anos, como a deixará em 2014?
Apesar de futurologia, acho que é possível dizer alguma coisa.

GOVERNADOR JAQUES WAGNER: Na
resposta da primeira pergunta eu te dei as bases daquilo que estamos
fazendo, como atração de novas indústrias no oeste, como a nova
processadora de algodão que é a maior da América Latina, e o esforço que
estamos fazendo também para trazer novos negócios para cá. Se eu tiver e
o povo entender que devemos ter um segundo mandato, evidentemente vamos
aprofundar e consolidar isso. Primeiro, como você mesmo disse, agora a
equipe está chegando à velocidade de cruzeiro, mas ainda com problemas
que temos que mudar aqui, mudar ali, mas os dois primeiros anos é isso
mesmo; você toma conta da máquina, vai azeitando a equipe, porque no
segundo ano tem eleição municipal.  De certa forma, o ano do
calendário é muito mais político que administrativo e, em minha opinião,
até repetindo palavras que ouvi do presidente Lula quando esteve aqui na
última segunda-feira, "agora é que eu sinto que as coisas estão
funcionando", porque ele, que tinha dúvida sobre a minha reeleição,
dúvidas sinceras quando conversava comigo, disse: "Ó Galego, agora é que
eu vejo que todo mundo melhorou, porque o que tinha para errar aconteceu
nos primeiros quatro anos. Então, agora é o pique, as coisas começam a
acontecer. Isto porque na estrutura burocrática da administração, às
vezes se leva um ano para fazer um projeto, seis meses para fazer a
licitação e, depois, é que as coisas começam a andar. Mas o que farei em
mais quatro anos? Consolidarei esse projeto de modernização da
infra-estrutura e gestão baiana colocando a Bahia para continuar
crescendo.

Eu acho que a Bahia ainda tem um potencial imenso do
agronegócio da indústria e do turismo para se desenvolver. Temos uma
posição geográfica privilegiada para virar pólo logístico indo para a
Europa, África; se a ferrovia for virando realidade, inclusive para o
oeste em direção ao Pacífico. Acho que podemos consolidar e dar uma
amplitude de crescimento grande para a Bahia. 
SAMUEL CELESTINO: Seus
adversários políticos costumam procurar, em função de questões do
passado, quando se comparava muito e se estabelecia, no Nordeste, uma
competição entre a Bahia e Pernambuco, dizer que Pernambuco está
realizando mais com o governador Eduardo Campos do que a Bahia,
sobretudo em torno ali do Porto de Suape, com a Refinaria do Nordeste,
enfim, com as obras que estão sendo realizadas por lá. Que resposta o
senhor daria sobre isso a seus adversários?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER:
Primeiro, que eu não estabeleço essa
competição com Pernambuco, porque a nossa economia é praticamente o
dobro da economia pernambucana e é obvio que é muito mais fácil crescer
quando se é muito menor do que quando você é maior. Qualquer
investimento menor em Pernambuco soa muito mais alto do que aqui.
A Petrobras está investindo um bilhão de reais na
modernização e reformulação da refinaria lá de Candeias (Landulpho
Alves), e às vezes as pessoas não vêem porque o nosso PIB é muito maior.
Um bilhão em Pernambuco soa o dobro do que soa aqui. De qualquer forma,
eu digo que não estou competindo, pois tenho a visão de desenvolvimento
do Nordeste como um todo e é óbvio que a Bahia está na liderança disso
tudo, porque, repito, nós somos a maior população, o maior Estado, o
maior PIB que dá o dobro praticamente do PIB de Pernambuco. Agora, nós
já tínhamos uma refinaria, o presidente Lula querer colocar
mais outra refinaria no Nordeste; não ia ser aqui. Nós temos um
pólo petroquímico, então não vou fazer um novo pólo petroquímico aqui. O
que estou fazendo é, como disse, "Pólo Mais Trinta". Fui à Venezuela
para buscar isso, uma parceria com a petroquímica venezuelana junto com
a Braskem, para trazer mais uma unidade nova da petroquímica para cá.
Repare: eu não acho que estão realizando mais.  Às vezes essa conta
é feita de uma forma, Samuel, muito pequena. Eu não tenho ciúme e
inveja. Nós estamos trazendo aqui, estão aí as indústrias que estão
chegando na Bahia: Nestlé, Pólo Algodoeiro do Oeste. Eu não fico olhando
para o ovo da galinha do vizinho, eu estou preocupado em fazer o meu.
Agora, também tem a amizade com o presidente Lula, evidentemente que
Lula é pernambucano, óbvio que ele tem carinho. Quero fazer uma nova
escola técnica, estamos recebendo mais uma universidade federal; a
Ferrovia Oeste-Leste.  A construção dela é de quatro bilhões de
reais. Então as coisas não acontecem da noite para o dia, a Via Expressa
são 380 milhões de reais. Está aí a duplicação das BRs 116 e 324.
Sinceramente, não fico com olho gordo, quero que
Sergipe cresça, Alagoas cresça, Pernambuco cresça. Agora, se estabeleceu
essa dicotomia…

SAMUEL CELESTINO: Com oito
anos de governo, ainda dentro dessa perspectiva de reeleição, essas
obras citadas pelo senhor, a Via Portuária, a Ferrovia Oeste-Leste, todo
esse contexto na região sul do estado, Ilhéus, Itabuna; enfim, tudo que
o senhor colocou nesse elenco de obras administrativas, o senhor
terminará todos esses projetos que tem na cabeça, em oito anos?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER:
Não tenha dúvida, até 2014 a nova
Fonte Nova, a Via Expressa, a Ferrovia Leste-Oeste, o novo aeroporto de
Ilhéus, a duplicação do aeroporto de Salvador, o Porto Sul e a
ZPE, (Zona de Procedimento de Exportação) na região de Itabuna, o Pólo
Têxtil que eu quero fazer aproveitando o algodão do Oeste lá em torno
também de Itabuna e Ilhéus. Não tenho dúvida de que até 2014 isso tudo
estará entregue.
 

"O sistema de licitação
nosso, a lei 8666, em minha opinião, está ultrapassada. Tudo é um
entrave.
Ainda acho a estrutura do estado brasileiro
muito pesada".

SAMUEL
CELESTINO:
Em 2014 então teremos uma nova
Bahia?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER:
Eu não tenho dúvida. Eu gosto de
dizer, Samuel, que quando chegamos ao governo, acabei de trocar o
secretário de Planejamento,  o primeiro secretário sabe, as gavetas
estavam vazias de planejamento. Eu não fico batendo boca, mas eu acho
graça às vezes alguns adversários do governo anterior dizerem que nós
não damos importância ao planejamento. É a primeira vez que esta terra
tem um planejamento, então me permita a modéstia, que não é minha, é até
da equipe que estava lá que é considerada pelos planejadores chamados
benchmarking que é referência do planejamento pelos referenciais
utilizadas e pela modernidade que tem -que eu quero te dizer- que eu não
tenho dúvida de que hoje a gente vai ter e já tem um pensamento de
uma nova Bahia que vai se concretizando com um projeto desses que é para
8, 12, 16 anos. Mas eu posso devolver a pergunta porque o pólo
petroquímico foi Rômulo de Almeida que pensou e Luis Vianna que
viabilizou com Geisel. A Ford, muito bem vinda aqui, mas chegou
pelo acidente do Rio Grande do Sul, porque na verdade eles não
trouxeram. Eles trouxeram foi a Hyundai e a Ásia Motors.

SAMUEL CELESTINO: Então a
Bahia não ganhou, foi o Rio Grande do Sul que perdeu?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER:
Não. Quando houve o programa
automobilístico brasileiro o que o governo anterior conseguiu trazer foi
a Hyundai e a Ásia que a gente brincava que gerava dois empregos. Dois
vigilantes que tomavam conta da pedra fundamental de uma e de outra que
nunca foram adiante. Eles só fizeram importar carro e até hoje devem uma
conta imensa de IPI e de ICMS que não pagavam.

SAMUEL CELESTINO: Facilitando
importações…

GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
É, porque quando você dizia que ia construir
uma fábrica, assinava aquele contrato, você ficava o período até a
construção da fábrica com o direito de importar o próprio carro que você
fabricava lá fora, sem pagar a taxa de importação como contrapartida da
fábrica que você ia implantar. Eles nunca colocaram fábrica, então…
Por exemplo, você me perguntou sobre Pernambuco, eu não quero ficar
falando disso porque quero que Pernambuco cresça, eu acho que não iremos
crescer olhando para Pernambuco, vamos crescer olhando para o futuro e
não ficando com inveja de quem faz. "Ah! você viu? Ele está levando uma
siderúrgica para o Pará", eu digo "Bom, agora que estamos descobrindo um
volume de minério de ferro maior aqui é obvio que se tivesse que colocar
siderúrgica tinha que ser perto de Carajás", que é onde está o ferro.
Mina você não faz onde quer. Você faz onde tem. Agora eu pergunto: Eles
que diziam que amavam tanto a Bahia, se eu tivesse recebido como Eduardo
Campos recebeu um Porto de Suape pronto, não foi obra dele, foi
obra de Marco Maciel, de Jarbas Vasconcelos, não sei quem é que começou
aquela idéia, há trinta anos. Vou voltar ao tema da ponte. Fica gente
aqui ironizando.  Mas, se a gente não pensar grande o futuro da
Bahia, não vamos chegar. Eu recebi um porto acabado, quebrado, o de
Aratu, o de Ilhéus, o de Salvador, por isso que estou estrangulado,
entendeu? Agora, me dê um porto de Suape…

SAMUEL CELESTINO: Se não
houvesse a ponte Rio-Niterói, Niterói continuaria sendo uma cidade
pequena.
GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
Nem o município de Campos seria o
que é, foi um vetor desenvolvimento. Quando fizeram a ponte os
críticos da área disseram "megalomaníaco, isso é para roubar
dinheiro…", hoje, está lá a ponte Rio – Niterói. Já tiraram dela
a circulação de caminhões pesados porque não aguenta o volume. A
Av. Paralela, eu imagino, quando foi inaugurada, há trinta anos ou
um pouquinho mais, seguramente nunca teve um engarrafamento. Hoje todo
mundo sabe como é o trafego por lá. Eu tenho que fazer uma retro- área
no CIA, porque ninguém aguenta mais colocar contêineres
ali.
 

"Muita
gente falava que a política baiana só mudaria após o
senador ACM falecer. Eu dizia que se não fossemos capazes de
mudar antes de ele morrer, seria uma demonstração de nossa
incompetência.  E Deus me deu a graça de a gente poder mudar com
ele vivo e observando a nossa
vitória"
 

SAMUEL CELESTINO: Como homem
e administrador público, o que tem lhe dado mais prazer nestes dois anos
e poucos meses de governo? E o que lhe dá mais dor de cabeça em termos
de administração?


GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
O que me dá mais
prazer é entregar obra e serviço para o povo. Isso para mim é a maior
alegria. Você sabe que está melhorando a vida das pessoas quando você
entrega uma escola, um posto de saúde da família, um hospital, ou quando
você entrega um sistema novo de água. Isso para mim é o que dá alegria.
Saber que você está podendo, sentado na cadeira do governador, melhorar
a vida das pessoas pela sua ação, e o que mais me aporrinha é a
burocracia. Esse é um resquício da ditadura, como vivemos vinte e poucos
anos de ditadura, a Constituição de 1988 fez todas as proteções de tal
forma que nós não pudéssemos mais nunca ser ameaçados por uma ditadura
ou ausência de democracia. E nessa área, por exemplo, o Estado
acabou colocando uma corrida de obstáculos para evitar corrupção e não
sei se acabou virando uma dificuldade. .. Eu acho que o Estado tem que
ser gerido com transparência, com um processo muito mais simplificado de
gestão na licitação e uma fiscalização muito mais dura e muito mais
aparelhada para poder fiscalizar. Então, hoje, o que me agonia é que
você dá uma ordem aqui e vai procurar três meses depois e o negócio
andou 10% do que se achou que ia andar porque é uma burocracia. Hoje
cada pessoa que executa tem cinco para fiscalizar. Começa internamente
na procuradoria, no Tribunal de Contas da União, no Ministério Público,
e vocês, que são a melhor fiscalização, que é a imprensa (risos). Então,
para cada um que faz, tem cinco. Essa burocracia que está aí me dá muita
agonia. As coisas estão muito mais lentas do que deveriam. Eu acho o
sistema de licitação nosso, a lei 8666, em minha opinião, está
ultrapassada. Eu acho que desse jeito você demora, tudo é um entrave.
Olha a obra do PAC toda hora tendo problema. Em minha opinião, eu ainda
acho a estrutura do estado brasileiro muito pesada.

SAMUEL CELESTINO: Vamos
passar agora um pouco para política que é, sobretudo, minha área, o que
mais gosto, me dá prazer e tenho certeza que dá prazer ao senhor também
que é por excelência um grande político e articulador. O senhor
conseguiu, com sua vitória, abrir a Bahia. A Bahia que estava
fechada há quarenta anos. Travada por um mesmo grupo político que acabou
sendo derrotado, com sua vitória em 2006. A Bahia se tornou plural e
mais apetitosa para os jornalistas, sobretudo, jornalistas como eu,
posto que a minha função é analisar e pensar política diariamente. Como
o senhor vê esse complexo, esse mosaico político que foi a sua
vitoria que transformou e qual o trabalho que esse mosaico está lhe
dando? É trabalho, ou é prazer?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
É trabalho e é prazer.
Evidentemente que quando você monta articulação política é um tabuleiro
de xadrez. É obvio que o prazer é muito maior quando você consegue sair
vitorioso. Eu, primeiro, tenho profundo orgulho disso que você acabou de
dizer. E olhe que esse estado aqui tinha no exercício da política um
hermetismo ímpar no Brasil, em minha opinião. E a graça da política,
como você diz, é o contraditório, o debate, que é a surpresa. A
Bahia não tinha surpresa desde 1986. Talvez lá também não foi surpresa,
pois a vitoria de Waldir correspondeu à vitoria do PMDB em 26 dos 27
estados da Federação. Só Sergipe que não. Então isso que você está
falando, que eu acho extremamente prazeroso da política, o debate,
montar articulação, atrair pessoas e seduzir para ampliar seu
grupo. Aqui era muito pobre. A Bahia era um risco no chão: quem está a
favor e quem está contra. Agora, eu me orgulho muito disso porque
isso aqui é uma pluralidade. Eu vejo deputado chegar à Tribuna da AL,
criticar o governo, numa tranquilidade danada, mesmo não estando dentro
da base. Então hoje a política na Bahia é muito mais complexa do que
foi. Estava empobrecida e simplificadora. Quem está aqui ganha, quem
está fora daqui perde. Então isso me dá prazer e, ao mesmo tempo, me dá
mais trabalho, porque óbvio, um hegemonismo que tinha no tempo do PFL
era uma hegemonia muito empobrecedora da política. Hoje, eu tenho que
trabalhar muito mais do que os que me antecederam para manter a minha
hegemonia, porque as pessoas têm liberdade, todo mundo conversa com todo
mundo, porque depois de minha vitoria, teve a ausência física do senador
Antonio Carlos Magalhães que era o grande comandante do grupo político
do PFL.

"É natural que hoje
tenho muito mais prazer em fazer jornalismo. Hoje tenho assunto a
escolher, antigamente tinha às vezes que sofrer e ainda ser difamado,
como se fazia de maneira geral com os adversários".

SAMUEL CELESTINO: E era
o único que falava política, além da oposição.

GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
Pronto, quem é a liderança deles que
brotou? Não brotou. Óbvio que o ex-governador Paulo Souto é um nome no
cenário político, afinal de contas foi duas vezes governador,
senador, é um nome, mas vamos dizer, quem é a grande liderança política
que assumiu com naturalidade? Tem o neto dele, foi candidato, perdeu,
mas sem dúvida nenhuma está longe de exercer o comando. Então, a
política ficou mais complexa, mais difícil, novas lideranças estão
surgindo e se afirmando, porque o espaço ficou aberto. Então vem a
competência e se estabelece. Agora, óbvio que me dá trabalho, mas não
fico nem um pouco triste por esse trabalho não, porque sou democrata
convicto, que trabalhei, e nem gosto de estar falando nisso, mas muita
gente ficava falando que a política aqui só iria mudar depois que o
senador ACM falecesse e eu dizia que se a gente não conseguisse mudar
antes de ele morrer, seria uma demonstração de nossa
incompetência.  E Deus me deu a graça de a gente poder mudar com
ele vivo e observando a nossa vitória. Mas, hoje, muito mais complexo
porque não tem aquela coisa do risco no chão. Tem governo, tem oposição,
mas todo mundo se conversa. Eu acho, também, até porque só tem dois anos
e três meses que ganhamos, que estão sedimentados os agrupamentos.
Estamos em constante movimento. Óbvio que há um grupo do DEM que é
consolidado, onde se tem a figura do ex-governador Paulo Souto, do
deputado ACM Neto, do deputado Aleluia, do senador César Borges, então
ali tem um agrupamento. Tem o agrupamento do PT, do PMDB, com a figura
de Geddel. Tem outras figuras que estavam meio adormecidas que podem
querer voltar para o cenário político, na medida em que este esteja
ficando mais enriquecido. Sinceramente, quando você me perguntou o
que me dava mais prazer na área da gestão, foi aquilo que falei, mas na
área da política, sinceramente, tem um orgulho que carrego: é ter podido
devolver essa complexidade e garanto que até para você deve estar sendo
muito mais interessante fazer jornalismo.. .

SAMUEL CELESTINO: É natural,
hoje tenho assunto a escolher, antigamente tinha às vezes que sofrer e
ainda ser difamado, como se fazia de maneira geral com os
adversários.

GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
Você devia ter um foco só…


"Naquele tempo também as pessoas não tinham nem
coragem de falar com medo do tapa e da bronca que iriam tomar. E hoje
não, as pessoas fazem críticas ao governador abertamente".

SAMUEL CELESTINO:
Exatamente.

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Naquele tempo também
as pessoas não tinham nem coragem de falar com o medo do tapa e da
bronca que iriam tomar. E hoje não, as pessoas fazem críticas ao
governador abertamente.

SAMUEL CELESTINO:  O
senhor falou nesse mosaico amplo e tenho certeza, como mesmo disse, que
o quadro ainda não está formado e cristalizado. Também penso dessa
maneira, pois acho que abrindo essa democratização da Bahia vai
permitir, mais cedo ou mais tarde, o surgimento de novas lideranças;
novas cabeças; novas formas de se pensar. Pode ter até sequência daquilo
que se fizer nessa geração da qual nós pertencemos. Eu sou mais velho do
que o senhor, mas pouquíssima coisa. Muito pouco mesmo. Acho que as
coisas poderão ser melhores na medida em que surjam novos líderes. Veja:
o senhor falou que não há essa cristalização ainda, mas citou três
agrupamentos. O agrupamento do DEM, com Aleluia, o deputado ACM Neto,
com o ex-governador Paulo Souto, como foi colocado; uma parte do PR, com
César Borges; o agrupamento do PT, que o senhor lidera. Então, vejo a
política da Bahia como se fosse uma pirâmide, no ápice, o governador da
Bahia e nas duas pontas, nos dois vértices da base, o DEM, com o
governador Paulo Souto, sem dúvida alguma liderando, até
porque deve ser o candidato do agrupamento ao governo, e, no outro
vértice, o seu aliado, o ministro Geddel Vieira Lima, diante das
vitórias das prefeituras que o PMDB conquistou nestas últimas eleições.
Quando existem críticas vindas de adversários do DEM e críticas ou
alguma coisa semelhante vindas do outro vértice, do PMDB, qual é a que
lhe dói mais?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Olha, evidentemente,
não sei se dói mais, mas a que recebo com menos naturalidade é a do PMDB
que, afinal de contas, o partido foi aliado na campanha, é aliado no
governo federal. Eu falo isso sem nenhuma arrogância ao PMDB antes, e o
PMDB depois de ter se aliado ao projeto que colocamos. Em 2002, eu já
acreditava na possibilidade da vitória, mas não foi possível essa
aliança, até por conta da verticalização. O PMDB e o PSDB lançaram Luis
Prisco Viana; o PSB porque não tinha candidatura, lançou Itaberaba Lira,
e da oposição era só. Ali, conhecemos os resultados, ninguém cresceu
muito de 2002 para 2006. Em 2006, quando o PMDB aceitou um convite
de nos juntarmos, juntamos nove partidos e saímos vitoriosos, mudou
da água para o vinho, pois após a vitória, todos os partidos de nossa
base agregaram prefeitos na Bahia inteira e eu agreguei parlamentares em
minha base de sustentação. O mais beneficiado, por mérito próprio, ou
pela característica partidária, sem dúvida alguma, foi o PMDB que, mesmo
antes da eleição de 2008, já tinha visto seu quadro de prefeitos sair de
22 ou 24 que tinham para 120, 130 e, evidentemente, não é porque eu o
fiz ministro; não se trata disso; mas, evidentemente, sendo um grupo
vitorioso na Bahia, deu peso para que a Bahia cobrasse, através do PMDB,
mais um ministro para a Bahia. Portanto, só para esclarecer, para não
parecer uma idéia arrogante, porque não é o meu perfil, Geddel hoje é
ministro por mérito dele, porque ele se viabilizou dentro do PMDB, que
foi o que o presidente Lula disse para ele e para mim no dia que fui
conversar com ele, depois de nossa vitória. Agora, evidentemente, fazer
parte do grupo vitorioso no quarto colégio eleitoral do país, na sexta
maior economia do país, deu ao PMDB baiano um protagonismo dentro do
PMDB nacional, que passou a ser um player de importância. Eles têm o
vice-governador e deu ao PMDB baiano um crescimento, pois passou a ter
um ministro e a própria figura de Geddel. Mas é mérito dele, Samuel, até
porque para mim aliança só vale a pena quando ela é boa para todo mundo
que participa da aliança, que significa crescimento. Hoje, nas eleições,
o PT cresceu, PCdoB cresceu, o PSB cresceu, o PV cresceu e o PMDB
cresceu; todos os partidos. A característica e o trabalho que o PMDB fez
tem o detalhe de que tem um partido com mais capilaridade de que outros,
como esses que citei, como o PCdoB, que saiu de uma, duas prefeituras,
para vinte. Até cresceu, proporcionalmente, mais que o PMDB. Acho que
saiu de uma para vinte, se não me engano. Então multiplicou por vinte. O
PMDB saiu de 22 para 115, multiplicou por cinco. O PT saiu de vinte para
sessenta, multiplicou por três. Evidentemente que todo mundo cresceu.
O PMDB eu bato palmas, porque eu não quero aliado fraco, eu quero
aliado forte. Agora, quando você me pergunta o que me chateia mais é
isso, porque, afinal de contas, se a aliança foi boa para todo mundo, eu
preferiria ver os ícones do PMDB elogiando, obvio que internamente,
obvio que eu não gosto de puxa saco, internamente. Já que participamos
de um grande governo, teríamos que fazer crítica do que tem que
melhorar, o que não tem que melhorar, mas óbvio que preferiria ver o
PMDB sendo mais um a falar bem do governo porque é natural, você me
conhece, sou modesto, então chatearia mais porque, afinal de contas, o
PMDB está dentro do governo, está dentro do governo federal, temos,
creio eu, o mesmo projeto para 2010, mesmo que não assumido, se tiver
vai ter que declarar que tem outro projeto. Então, obvio que para mim o
que interessa é fortalecer. Aliás, como eu fortaleço o PMDB.

"Eu bato palmas para o PMDB.
Não quero aliado fraco, quero aliado forte. Se a aliança
foi boa para todo mundo, eu preferiria ver os ícones do PMDB elogiando,
sendo mais um a fazer críticas do que tem que melhorar, do que não tem
que melhorar, afinal o PMDB está dentro do governo, e do
governo federal"
.

SAMUEL CELESTINO: O quadro
político da Bahia ainda não está totalmente formado, e é lógico que não
esteja formado, na medida em que tem dois anos e três meses que o quadro
foi mudado pelo senhor, com a vitória que conseguiu impor às forças
carlistas ainda com o senador vivo. Eu lhe perguntaria se acredita que
existem possibilidade e viabilidade de este quadro político mudar até as
eleições de 2010?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Olha, se depender de
mim não vai mudar. Eu estou trabalhando para ampliar a aliança que me
elegeu em 2006. Ninguém tem sucesso na política, dividindo-a. O sucesso
da política é consequência de se somar. Eu somei nove partidos em 2006 e
ganhamos. Se depender de mim eu quero somar dez, onze, doze. E estou
trabalhando para isso. Já temos o PP dentro do governo, o PDT, que em
2006 não estava em meu palanque, apesar de termos apoiado o senador João
Durval, o palanque deles era outro. Era do bispo Átila. Estou querendo
trazer o PSC, o PP já está dentro do governo, estou trabalhando para que
estejamos juntos em 2010. Uma parte do PR está dentro do governo e dá
mostras de que quer seguir até 2010. Eu acho que é uma loucura, em minha
opinião, de que as forças que fizeram aquela travessia tão bonita que
deu à Bahia essa nova complexidade. Elas se fissuraram abrindo espaço
para outras. Eu acho que precisamos consolidar o projeto que está em
curso; que cabe ao PT, PMDB, o PP, o PCdoB, o PSB, o PDT, o PV, PTB,
todos esses que queremos construir. Se as pessoas acham que se não
houver mais ameaças, que era a hegemonia do PFL, por isso podem se
subdividir, mas esta não é minha tese e eu vou trabalhar fortemente, já
estou trabalhando para que isso não aconteça. Eu acho que a vida é
longa, tem muito espaço para todo mundo crescer. Em 2006/2007 na revista
Istoé fui eleito como o político do ano pela vitória que parecia
impossível no primeiro turno, o que ficou mais inusitado ainda. Você
sabe que eu trabalho com muita humildade. Eu digo que a melhor companhia
para os vitoriosos é a humildade e a generosidade porque quem ganhou é
quem tem que ser generoso e humilde, pois quem perdeu está machucado. E
nem todo mundo aprende essa lição que tento dar e depois que ganha quer
ficar espezinhando os outros. Então se diminui ao invés de ampliar. O
presidente Lula, todo mundo sabe – é público – esteve aqui
segunda e terça-feira, disse isso publicamente. "Olha para o processo
político da Bahia, desta forma para garantir uma Bahia unida em torno do
nome até agora da ministra Dilma para a sua sucessão. Então, eu não faço
política só por vaidade, eu faço política fundamentalmente por projeto
político, e o meu projeto político é de modernização da Bahia, de
democratização da Bahia, passa por fortalecer esse grupo que a gente
ganhou; fez bem para todo mundo. Vou repetir, a minha vitória não
fez bem para mim, para o PT, ela fez bem para todos os aliados, graças a
Deus. Eu trabalho desse jeito, dando oportunidade para que todo mundo
cresça. Eu acho uma bobagem, sei do que está perguntando,  e eu
acho que o PT e o PMDB devem estar juntos. Não vejo nenhuma dificuldade
para isto acontecer.

SAMUEL CELESTINO: Eu diria e,
já não é uma pergunta, mas um comentário que não necessita resposta. Eu
acho que sua vitória fez bem não para esses grupos todos, mas fez bem
para toda a Bahia na medida em que abriu a Bahia, na medida em que as
fronteiras da Bahia se tornaram maiores em termos do pensamento
político, porque as pessoas passaram a ter liberdade de pensar o que,
antes, não tinham…

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Deixa que faça o
último comentário sobre essa questão da abertura. As pessoas às vezes
não se dão conta, mas essa abertura fez bem para a administração pública
da Bahia, para a competitividade do empresariado baiano, para o
Judiciário porque, como isso que você falou, antes todos tinham que
pedir amém. Se só valesse o que fosse dado amém, a competitividade ia
por água a baixo. Estou dizendo isso porque, neste sofá que está
sentado, sentam empresários e todos me dizem: "Governador, poder ser
empresário na Bahia está mais leve. Alguns, às vezes, brincam: "hoje eu
posso ir para o Barbacoa ou o Baby Beef, ou em qualquer lugar, sem ter
preocupação de com quem estou jantando, porque não vai perturbar o meu
negócio, o desenvolvimento de minha empresa. Eu quero lhe dizer
que tenho extremo orgulho disso, de estar exercendo
autoridade sem intimidar ninguém. Os negócios da Bahia estão melhores,
as pessoas hoje vêm para a Bahia porque sabem que a mão do estado não
está aqui para constranger ou intimidar quem quer que seja.

SAMUEL CELESTINO: E não tem
que tomar benção a ninguém, como antes…

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Certo. O que me
interessa é o interesse público.

"Eu não concordo que o domínio do PFL
na Bahia tenha durado  dezesseis ou quarenta anos. Eu
acho que o domínio da Bahia começa em 1930, com o Juracisismo, que criou
o Coronelismo. ACM foi um dos discípulos de Juracy
Magalhães".

SAMUEL CELESTINO: Governador,
eu vou voltar à administração, à política administrativa. Eu nunca lhe
fiz essa pergunta, já conversamos muito, pois vejo às respostas pela
imprensa. Mas o senhor nesse período de dois anos e três meses, mudou
três secretários. Secretário da Agricultura, Segurança Pública e
atualmente o de Planejamento. Como o senhor disse, porque mudou as
estratégias do jogo, saiu da retranca para ir ao ataque. Então precisa
de um homem de meio campo para fazer o lançamento em profundidade. Se eu
entendi o seu linguajar político-esportivo, eu lhe pergunto: o senhor
ainda tem em mente, como disse no ano passado, fazer uma reforma
administrativa em seu secretariado ou só o fará na medida das
necessidades e à medida em que seus projetos forem avançando?

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Primeiro, quero dizer,
pela dificuldade que tive no começo do governo, de me apropriar da
máquina, eu também acho que estamos dentro dessa nova Bahia que falamos;
mais complexa, mais arejada, mais democrática. É bom lembrar que
foram 16 anos, olhe lá se não foram quarenta, do PFL. A formação de
quadros na Bahia ficou muito vinculada para uma formação de quadros
de uma nova lógica de governar. Então, também não era fácil
você ter quadros. Essa máquina foi dominada por eles o tempo todo,
apenas com aquele hiato do governo de Waldir. Então, a máquina, as
estruturas aqui funcionavam no ‘manda quem pode, obedece quem tem
juízo’. Os quadros do funcionalismo público foram desestimulados a
planejar, raciocinar, a ter iniciativa, porque não adianta ter
iniciativa onde só vale o que o cara quiser. E mesmo os quadros da
esquerda todos foram formados com o vício só do lado direito de jogar
pedra. Eu brinco com eles que todo mundo teve que reprogramar a cabeça e
os braços porque agora, no governo, você não tem que atirar. Muitas
vezes, você tem que se defender. Então, é aquilo que você falou; mesmo
no jornalismo, muitas pessoas foram desestimuladas, só era aquela
guerra. O jornalismo é muito mais inteligente do que uma
simplificação de confronto onde é certo e errado, então aí não tem graça
para escrever.

"Como as estruturas aqui funcionavam no ‘manda
quem pode, obedece quem tem juízo’, os quadros do funcionalismo público
foram desestimulados a planejar, raciocinar e a ter iniciativa. Por
isso às vezes não sou tão rápido no gatilho para trocar, isso aqui não é
SP". 
 

SAMUEL CELESTINO:
Claro.

GOVERNADOR JAQUES
WAGNER: 
Ficar no ‘a favor e
contra’ é um negócio pobre. Então eu, às vezes, quando as pessoas me
cobram: "Ah! Por que você não muda um determinado fulano?" Porque eu sei
que tem muita gente que está sendo formada. Isso aqui não é SP, onde uma
sucessão de governos democratas, tanto faz PFL, PSDB, PMDB, mas você foi
formando quadros, na estrutura do poder público são quadros de estado.
Aqui não teve porque como era esse negócio todo dia, um tacão de cima
para baixo, então as pessoas estavam desestimuladas. Só para explicar
porque às vezes não sou tão rápido no gatilho para trocar. O que
realmente não está andando, eu vou lá e troco. Eu não vou fazer reforma
administrativa, mas posso lhe garantir que outras mudanças acontecerão,
seja da ordem da política, dentro daquilo que lhe falei, da ampliação, e
ai é obvio, à medida que as pessoas vão ampliando e tendo um
horizonte de compromisso com as inovações do projeto em 2010.
Interessa-me se as pessoas se querem vir participar do governo.
Evidentemente que isso aí está acontecendo. E outras são de ordem
administrativa. Se eu achar que outra área está com problema, é
fazer substituição.

SAMUEL CELESTINO: Vou fazer
uma correção, se me permite, do que o senhor disse ai. Eu não acho
que o domínio tenha sido 16 ou quarenta anos, eu acho que tenha sido
mais do que isso. Creio que o domínio da Bahia começa em 1930,
depois do Movimento Tenentista, da República Velha.  Depois
de chegar à Bahia, com a Revolução de 1930, o tenente Juracy
Magalhães como Intendente, para estabelecer a política do
coronelismo.  Veio, posteriormente,  o período da
democratização da Bahia, com Mangabeira, segue- se o governo
de Regis Pacheco, que foi um governo fraco; o governo de Antonio
Balbino, quando Antonio Carlos Magalhães, então um Juracisista, se
elegeu pela primeira vez deputado estadual (foi numa eleição
complementar) . Vem um novo governo Juracy, o governo Lomanto Jr. e
a ditadura. E, ai, ACM com ela…

GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
Na verdade o grande foi Otávio
Mangabeira.

SAMUEL CELESTINO: Sim, o
grande foi Mangabeira. E na República Velha, J.J Seabra. A partir da
ascensão à Prefeitura de Salvador é exatamente aí que acontece
o início do carlismo. Depois da gestão do governador Luis
Viana Filho, ele foi nomeado governador. Perdeu, após, a sucessão
(no Alto Comando das Forças Armadas da ditadura) para Roberto Santos.
Voltou como governador, em 1978; faz João Durval governador como
sucessor, depois da morte, num acidente aéreo, do seu candidato,
Clériston Andrade. Em sequência, perde para Waldir, e volta, em
1990, para fazer o período até ser derrotado pelo senhor em 2006.
Mas, governador, para concluir, quero lhe agradecer, pois de há muito
não sou repórter. Eu sou um analista. Não sou de pergunta e resposta; as
pessoas bem sabem disso. Portanto, quero em meu nome pessoal, e em
nome do meu site, Bahia Notícias, agradecer  ao senhor esta
conversa inteligente e  por ter tomado tanto
seu tempo aqui na Governadoria.

GOVERNADOR JAQUES WAGNER:
Por mais que tenhamos que manter o
ato de fazer entrevista, regulamentar o jornalista  à
distância do entrevistador e do governador, evidentemente que eu
não consigo sair de uma conversa franca. Amigo, por mais que lhe olhe
como um jornalista, você sabe que não consigo. Eu, por mim, preferia até
estar em minha casa, como te convidei para ir.  Mas, também, de
qualquer forma, é bom que seja aqui. Lá em casa seria um bate-papo. E
aqui no gabinete do governador, fizemos esta entrevista. Quero dizer que
o prazer é meu, a deferência, espero que tenha gostado de tomar a
posição do entrevistador e não só do articulista. Mas não só. Dizer que
assim como para a Bahia foi importante a minha vitória, também para a
Bahia foi importante a sua tenacidade e obstinação de ter se mantido
numa posição de independência, buscando construir e fazer. Não vou dizer
uma verdade, mas sim a sua verdade, o seu jeito de ver as coisas,
independente da força de quem tivesse mandando. Agora fica mais gostoso,
mas também esse momento é possível, assim como agradeço sempre ao
Judiciário, pelo movimento de libertação deles, que tomo como
referência Cintra. Eu não quero ser injusto, mas ele era comandante
do grupo. Eu digo sempre que se sou governador hoje, é porque o
Judiciário de nossa terra voltou a ser Judiciário, ou está voltando.
Mas, assim como a gente está aqui porque enfrentamos o obscurantismo que
teve você, por exemplo, e outros, evidentemente; que não deixaram de
fazer um jornalismo correto. Para encerrar, óbvio que vaidade todos nós
temos, você de sua coluna e de seu veículo Bahia Notícias como
história de jornalismo, e eu de minha trajetória política, por ter
chegado aqui fugindo dos governos militares, tendo que trabalhar como
peão no pólo petroquímico de Camaçari e hoje estar sentado na cadeira do
governador e tendo sido galvanizador de um processo que a Bahia, eu
acho, esperava há muito tempo. Eu vou continuar assim, estou
comprometido para 2010 com um projeto na Bahia e no Brasil que acredito
ser a renovação de um projeto com outra pessoa do projeto político
(Dilma Rousseff) comandado pelo presidente Lula. Esse é meu palanque
proclamado e declarado. De consolidação desse projeto político para o
qual eu vou convidar todos que participaram dele em 2006 e os novos
parceiros que queiram se agregar na jornada de
2010.

Entrevista publicada originalmente em www.samuelcelestino.com.br

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