Eu, a maconha e os meus filhos!. Por Marconi de Souza Reis
Eu vou narrar nas próximas linhas algumas pequenas histórias que são como uma continuação do pensamento esboçado acima, qual seja, de que toda radicalização produz um efeito contrário/desejado. Enfim, não é necessário ser um expert nas psicologias da Gestalt, Behaviorista ou estruturalista, para perceber o óbvio.
Pois bem: após sete meses sem tocar num baseado, eis que na quinta-feira passada encontrei um médico amigo meu, e ele, de plano, deu-me uma quantidade bacana da erva. Minha esposa decidiu não abrir o escritório na sexta-feira à tarde – ela foi ao cinema com minha filha Julia Marconi – e então fui sozinho para casa.
Meus filhos e meu genro estavam na rua, daí que fiquei sozinho em casa com as duas secretárias e Lalua, minha netinha, na tarde fria de sexta-feira. Então acendi um baseado, e aí a minha netinha, que estava de longe, sentiu o cheiro gostoso, aproximou-se lentamente, estirou a mão, e pediu-me:
– Dá, dá, dá…
As duas secretárias caíram na gargalhada. Obviamente que eu não dei a erva à minha neta, mas, quando minha filha chegou em casa e soube do que ocorrera, disse às secretárias que nenhum dos meus filhos nunca teve vontade de fumar maconha porque eu, como um “radical liberal, oferecia a eles e isso tirou a curiosidade”.
Resultado: o meu radicalismo inibiu o desejo pela erva nos meus filhos. Até mesmo a minha esposa jamais teve curiosidade em dar um tragozinho. A minha família, porém, concorda que eu fico muito amável quando fumo. Imagine se eu fosse viciado? Infelizmente, só fumo raramente, daí não ser tão amável.
Ademais, nunca compro maconha, mas jamais rejeito quando amigos me dão. Há um grande magistrado, homem honestíssimo, que também me presenteia quando vou ao seu gabinete. O pai do cara era pastor evangélico. Pode? Pode sim. E tenho outro exemplo muito próximo sobre o assunto.
Na minha casa, lá em Queimadas, meus pais eram demais certinhos, conservadores, daí que nos proibiam de tudo que fosse ilícito às leis do mundo jurídico, inclusive a maconha. Minha mãe, evangélica de quatro costados, vê a erva como uma das plantas daninhas expurgadas do Éden. E ela é o que se pode chamar de “radical do bem”.
Resultado: todos os seus filhos (meus irmãos) experimentaram maconha. Uns mais, outros menos. Eu sou o único que fumo até hoje, embora, como já dito, esporadicamente. A quantidade que o médico me deu, por exemplo, vai chegar até o final do ano (está dentro da quantidade liberada pelo Supremo Tribunal Federal para consumo).
Há uns 12 anos atrás, quando meu filho caçula Pedro Marconi tinha oito anos de idade, aconteceu algo cômico nessa seara que ilustra muito bem meu jeito de criar os filhos. Eu, meu pai Deraldo, minha mãe Dinair, ele, Pedro, e o irmão George Marconi, fomos ao cinema do Iguatemi.
Quando chegamos ali na região do Imbuí, o trânsito ficou engarrafado. Então, ao longe, eu avistei as torres gêmeas da Avenida Tancredo Neves, e revoltado com o trânsito, comentei:
– Eu queria que nosso carro subisse como um helicóptero e pousasse lá no teto daquelas torres gêmeas. A gente descia pelo elevador do prédio e caminhava até o Iguatemi.
Pedro, aos oito anos de idade, que vinha no banco de trás com minha mãe e o irmão George, balançou seus lindos cabelos e perguntou-me:
– Meu pai, se a gente queimasse agora um baseado, daria para viajar até as torres gêmeas?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
A gargalhada foi minha, porque, logo após essa pergunta, meu pai virou o rosto para o vidro lateral do carro, como não querendo conversa, e a minha disparou:
– Meu Deus… Você ouviu isso, Deraldo? Essas crianças estão sendo mal educadas, que frutos podem vir disso aí…?!?!? Deus tenha compaixão dessas crianças.
Bem, eu expliquei aos meus pais que George e Pedro viram um clipe dos Beatles (vídeo abaixo), na canção “Strawberry Fields Forever”, que John Lennon compôs para homenagear a maconha, e que era a canção preferida deles. E que, para mim, é a obra-prima do grupo inglês.
Expliquei, ainda, que nesse clipe há uma enorme árvore, e que Paul McCartney dá um simples salto e sobe num galho há três metros do chão. Por fim, narrei que os meus filhos me perguntaram o porquê daquilo, e eu disse que, quando a gente fuma maconha, a alma salta para a altura que a gente deseja.
Olha, quando publiquei aquela reportagem sobre o Chiclete com Banana, em 2013, e o texto teve mais de 300 mil compartilhamentos no Brasil (passei a ter amigos nessa rede social de Manaus a Porto Alegre), eu narrei para meus filhos exatamente o que escrevi hoje no texto principal sobre corrupção e machismo.
Na época, eles compararam a minha ideia ao efeito que os meus cigarros de maconha tiveram sobre eles, ou seja, meus filhos jamais iriam aderir à trapaça absoluta como solução para acabar com a corrupção no mundo. Pois é: talvez o meu pensamento seja utópico, mas eu adoro essa ideia. Acho uma previsão, uma profecia. Aliás, eu adoro o jeito sincero, livre e contundente do meu ser.