Eu e os Chorinho. Por Tuzé de Abreu
Estive tocando em Buenos Aires por duas vezes e em Montevidéu uma vez. A primeira atuação em Buenos Aires , tocando flauta e saxofone soprano, foi com o mais icônico grupo de chorinho formado na Bahia.
Os Ingênuos. Seu líder era o famoso Édson Sete Cordas , ele próprio uma “escola” pela qual passaram inúmeros chorões dos mais diversos instrumentos. No violão de seis cordas Avelino , que formou com Édson uma grande e duradoura dupla de violões , como o foram Dino e Meira no Rio de Janeiro. No cavaquinho Gérson, da mesma faixa etária, muito experiente e uma pessoa que se destacava pela sua humildade. Se não o víssemos tocando , jamais suspeitaríamos que ele fosse o músico brilhante que era. No Bandolim Zé Luís , além de solista de ótima qualidade, também compunha muito bem.No pandeiro a lenda bem viva . Cacau. Contávamos ainda com a presença da cantora Cida, que era de Cachoeira..
Nos apresentávamos diariamente num local semelhante ao que foi o nosso Centro de Convenções , numa espécie de feira da Bahia . Era o tempo dos regimes militares aqui e na Argentina , e um dos dias fomos assistidos pelos generais Figueiredo e Videla .Esta viagem à Argentina pra mim foi uma espécie de graduação no chorinho (há muito tempo não toco mais aquele repertório) . Eu que vinha da tradição da Bossa Nova, fui enriquecido por aqueles grandes chorões . Passávamos o tempo todo tocando , na feira ou no hotel. Muito bom.Inesquecível.
A segunda viagem à Argentina foi com o violonista Lula Gazineo, provavelmente o músico com o qual mais toquei e viajei. Nesta viagem tocamos ainda em Montevidéu, onde estava muito frio e chuvoso. Lula e eu tocamos mais de cem vezes em dupla, inclusive uma vez em Frankfurt. Nós dois desenvolvemos um enorme e eclético repertório de diversos tipos de música brasileira . Também fazíamos parte do Grupo Quarto Crescente, com o percussionista Bira Monteiro, o baixista Ivan Bastos e uma cantora ( a primeira foi Dina Tavares) .
No grupo Quarto Crescente tínhamos um trabalho exclusivamente de música popular baiana. Começamos de Caymmi ao Olodum , depois aumentamos para de Caymmi a Carlinhos Brown. Este show certa vez fez um grande sucesso em Hannover , tivemos que repeti-lo , e nos pagaram mais que o combinado, ainda no tempo dos marcos. Invariavelmente acabávamos com uma série de sambas de roda, sendo o último , “adeus adeus, boa viagem , eu vou m’embora boa viagem , eu vou com Deus , boa viagem e com Nossa Senhora Boa Viagem”.
A maioria destes trabalhos foi apoiado pela Bahiatursa, por uma companhia aérea brasileira e, às vezes, por um grupo hoteleiro.
Os Ingênuos com Édson Sete Cordas à esquerda e Cacau do Pandeiro à direita
Foto: Rodrigo Tavares