Existe uma “nova direita” que rejeita Bolsonaro e não traz novidade alguma, por Pedro Zambarda de Araújo
Sobre Partido NOVO, Spotniks e uma nova onda de liberais que não traz novidade alguma, mas que tentam se vender por textões de Facebook e mensagens travestidas de isentas no debate político.
Filho do economista Eduardo Giannetti, ex-guru de Marina Silva nas eleições, o filósofo Joel Pinheiro da Fonseca deu uma entrevista à revista Época em 10 de junho de 2016 se vendendo como uma novidade dentro da direita política brasileira. De fato ele é representante de um grupo político novato, mas as ideias que defende são liberais e clássicas.
Bacharel em Ciências Econômicas pelo INSPER (antigo Ibmec-SP), ele também se graduou e fez mestrado em Filosofia na FFLCH-USP. Com 31 anos, sua formação acadêmica mistura-se com a militância política. Criou, em 2008, a revista Dicta & Contradicta, de debate de alto nível no espectro liberal de direita, semelhante à Serrote, com publicação semestral. Embora tenha recebido financiamento da Febratel (Federação Brasileira de Telecomunicações), o projeto não foi pra frente. A publicação inclusive tentou se promover com ajuda de Olavo de Carvalho e não deu certo.
Joel então se envolveu com um projeto novo e sem a participação de ideólogos mais radicais como o Olavão. Em 2014 criou o site Spotniks com Rafael da Silva (que nunca mostra seu rosto na internet) e Felippe Hermes, que apesar do design arejado e bonito, se mantém defendendo as ideias de sempre: Estado mínimo (se possível zero), antiesquerdismo, antipetismo e liberalismo. Os textos na sua maioria são em formatos de listas, para fácil leitura, e o grupo inclusive já abriu propostas de financiamento coletivo para manter suas atividades.
No dia 21 de maio de 2017, o Spotniks lançou um post afirmando que não é apoiado por legendas políticas no Facebook. O que ele não conta é que a carreira de Joel Pinheiro, um dos seus fundadores, decolou para além do site e chegou, sim, aos partidos.
O NOVO
Quando deu entrevista à revista Época, Joel Pinheiro da Fonseca já estava participando da cúpula e das reuniões do Partido NOVO, a novidade liberal da política tradicional brasileira. Em protestos pelo impeachment de Dilma, a legenda angariava assinaturas para se lançar oficialmente. Duas fontes confirmaram a esta coluna que estiveram em reuniões do grupo e viram que, apesar de nomes novatos como o de Joel, a grande maioria das reuniões era composta por ex-tucanos desiludidos e por cidadãos mais velhos com altas expectativas baseadas na queda da ex-presidente.
Mas a novidade de Joel não ficaria restrita na militância partidária, enquanto ele ainda tinha funções no Spotniks e em grupos de Facebook como o Liberzone. Ele ganharia uma coluna no jornal Folha de S.Paulo e no site da revista EXAME, além de organizar TED Talks. Em um dos textos, Joel Pinheiro atacaria diretamente o pré-candidato do PEN (antigo PSC): “Eu considero Bolsonaro, em termos pessoais, uma das piores opções imagináveis para ocupar a presidência. Não tem nenhum conhecimento relevante, seus discursos são pura demagogia, ele apela a desejos violentos do eleitorado, é leniente com violência contra homossexuais, seu jeito errático não inspira nenhuma confiança, sua carreira na Câmara (26 anos) é – desconsiderados os showzinhos de boçalidade – desprovida de qualquer realização”.
O discurso polido e bem montado de Joel o faz passar, para muitos desavisados, como alguém de centro. A realidade é que ele é e sempre foi de direita. O site de seus amigos Spotniks, por exemplo, defendeu o vergonhoso filme chamado “Real – O plano por trás da história” do cineasta Rodrigo Bittencourt, que tenta transformar a história do plano monetário do ex-presidente FHC e de economistas como Gustavo Franco numa enredo de “super-heróis nacionais” com um trailer patético.
Por todos estes fatores, a “nova direita” é vazia, tenta se montar apenas em ataques contra a esquerda e não monta nenhum projeto novo. E há óbvias contrariedades na história de Joel Pinheiro, que ora apoiou Olavo de Carvalho e ora tornou-se um dos seus críticos ao tentar se afastar do radicalismo de extrema-direita de gente como o Bolsonaro, que ganhou força graças ao antipetismo.
Com a palavra, Joel Pinheiro da Fonseca
A coluna procurou Joel Pinheiro para tirar algumas dúvidas sobre sua atuação em diferentes organizações de direita. Ele respondeu todas as perguntas, negando alguns dados apurados por esta coluna e esclarecendo outras informações.
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Pedro Zambarda: Você é ou era administrador da fanpage do Spotniks? Você saiu de lá depois que se tornou colunista da Folha e depois da EXAME?
Joel Pinheiro da Fonseca: Nunca tive função administrativa no Spotniks e nem fui admin da fanpage. Tive uma relação mais próxima com Rodrigo da Silva e Felippe Hermes de meados para fins de 2014. Acompanhava e discutia o projeto, embora não tivesse um cargo nele além de escrever, produzir conteúdo, fazer algumas entrevistas. Na primeira metade de 2015 (posso procurar a data), nos afastamos. Desde então, às vezes faço textos pontuais para eles.
O convite para escrever na EXAME Hoje (aplicativo da Revista EXAME) foi feito em abril de 2016. Na Folha, tive uma coluna temporária durante as eleições de 2016 e, já em 2017, recebi o convite para ter uma coluna fixa. Ou seja, nenhuma relação entre ter saído do Spotniks e ter entrado no Exame Hoje ou na Folha.
PZ: Você era administrador da fanpage do Liberzone?
JPF: Fui colunista do Liberzone, um site que juntava articulistas libertários antes da existência do Spotniks. Não lembro qual era o esquema da fanpage; tenho quase certeza que nunca fui admin. Seja como for, nunca exerci de fato papel de administrador do grupo ou de porta-voz da página, nem nada do tipo.
PZ: Numa entrevista à Época, você disse que é ou era administrador da página do Partido NOVO. No dia 21 de maio, o Spotniks postou que não recebe ajuda de nenhum partido. Não é contraditório o site afirmar isso, se já teve você entre os fundadores?
JPF: Comecei a trabalhar no NOVO em junho de 2015, quando não tinha mais relação alguma com o Spotniks. Até onde eu saiba, a afirmação do Spotniks é verdadeira. Da parte do NOVO, no qual fiquei de junho/2015 até dezembro/2016, não havia apoio nenhum para o Spotniks.

Artigo publicado emhttp://jornalggn.com.br/noticia/existe-uma-nova-direita-que-rejeita-bolsonaro-e-nao-traz-novidade-alguma-por-pedro-zambarda-de-araujo