Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Golpe de Estado: a Política no banco dos réus, por Alexandre Tambelli

8 - 10 minutos de leituraModo Leitura
ALEXANDRE_TAMBELLI

Torna-se interessante observar que no Brasil pós-Golpe de Estado quem estava unido para a consumação do mesmo hoje não está mais e nos damos conta de uma tentativa de ir além da Política, como “a solução autoritária” para a resolução dos problemas ligados à economia brasileira, sem contar os problemas ligados à corrupção.

É o enfraquecimento do Executivo e do Legislativo em favor do Judiciário. Enfraquecimento, no frigir dos ovos da Política. Há uma separação explícita para os olhos mais atentos.

Quem pôde dar o Golpe de Estado foi o Legislativo. Agora, o Judiciário + a Rede Globo e demais mídias aliadas oligopólicas que apoiaram o Legislativo no Golpe, querem impor supremacia sobre o Executivo e o Legislativo e se tornarem, eles, o Poder central, para além do voto popular. Único e soberano Poder do Brasil.

Ou seja, o voto popular, trocado pelos togados e os donos da velha mídia oligopólica capitaneada pela Rede Globo de Televisão. Soberania do Tribunal Midiático sobre a soberania dos eleitos pelo povo. E impor ao Legislativo votação e aprovação de projetos do Judiciário como o das 10 medidas anticorrupção dos procuradores do MP/PR.

Chantageados deputados e senadores via Lava-Jato e assemelhadas.

Quando do Julgamento do “Mensalão” em 2012 a classe Política comemorava, até os partidários do PT estavam em silêncio: – não sendo comigo, pode deixar prender, mesmo que seja sem provas porque a Literatura Jurídica ou a Teoria do Domínio do Fato me permitem! O “corrupto” é o outro!

E o Tribunal Midiático cresceu ali. Foi se tornando aos poucos maior que a Política.

A Política foi para o banco dos réus! E quase ninguém de dentro da Política se deu conta.

E, hoje, novembro de 2016, produzimos o quadro perfeito para o Tribunal Midiático, por quê?

O Executivo é apenas um apêndice da criminalização política possível, com um Presidente e ministério reféns da mídia oligopólica, da Lava-Jato e da Justiça aliada do Golpe de Estado, não piam nada.

E o Legislativo, também, é outro refém da velha mídia e da Lava-Jato. Vejam as investidas contra o Senador Renan Calheiros vindas de setores do Judiciário pedindo a sua cassação. Quem poderia cassá-lo deveria ser seus pares, se assim o desejassem, não forças de fora do Parlamento se arrogando com Poder superior, abdicando da máxima da independência dos Três Poderes constituídos da República. E do equilíbrio entre os poderes. O Judiciário querendo para si um Poder Supremo.

Executivo e Legislativo apenas esperam a benevolência de serem poupados de uma prisão espetacular com condenação prévia perante a população, via linchamento da imagem pública do Político no Tribunal Midiático?

Se os eleitos pelo povo votarem a favor das medidas econômicas neoliberais, que o grupo dos seis poderes (Rede Globo, Judiciário e PSDB (internamente), mercado financeiro, petroleiras estrangeiras e financiadores do Golpe nos EUA (externamente)) propõe aos brasileiros com sua “Ponte para o Futuro” se livram da Lava-Jato e operações semelhantes.

Temer pelo “Poder” aceitou ser o refém N° 1.

Fugir da Lava-Jato seu intento maior com o foro privilegiado. E levou para o seu Ministério pessoas próximas em situação semelhante.

Vivenciamos uma realidade estranha nos dias atuais, onde, a Política está sendo destruída no Brasil em nome do combate ao Político corrupto, e, ao mesmo tempo, não há interesse do grupo dos seis poderes em modificar o quadro caótico que se apresenta para nós brasileiros no Executivo: um Presidente extremamente impopular e com medidas de Governo: impopulares.

E por que o grupo dos seis poderes que patrocinou o Golpe de Estado aceita um Presidente impopular e porque não dizer: sem direito à mínima vontade própria?

Precisam do Temer, porque ele faz, e sem nenhuma objeção a nada, o que determina o mercado financeiro, a Rede Globo, o PSDB, as petroleiras estrangeiras e os financiadores do Golpe lá nos EUA.

Temer refém desta arquitetura da “Ponte para o Futuro” é melhor do que um Presidente que necessite se explicar e dizer à população, sem dar voltas, o porquê de querer Governar o Brasil e o porquê de tomar medidas tão destrutivas para a retomada do crescimento econômico.

Um Presidente refém da Lava-Jato e da velha mídia fazendo acontecer tudo o que a “Ponte para o Futuro” planeja, tem coisa melhor para o Golpe neoliberal?

Melhor, hoje em dia, não ter Governo para o grupo dos seis poderes.

Por quê?

Sem um Governo Federal com mínima independência e com um Legislativo e Executivo reféns do Judiciário e da Velha Mídia podem aprovar as medidas neoliberais desejadas, quem as aprova é o Legislativo com a caneta do Executivo, sem darem a cara para bater, sem se indisporem com o povo brasileiro.

Assumiria o Governo Federal, em tese, o grupo dos seis poderes, depois de consumadas as reformas, já com a PEC 55 em funcionamento, com a CLT rasgada e com uma Reforma da Previdência da forma desejada pelo mercado.

Temer fica para Judas.

E o melhor: o grupo dos seis poderes não teria que ser a vidraça do ocorrido, da destruição da economia produtiva e dos indicadores sociais e programas de transferência de renda, saudáveis para diminuir as desigualdades sociais significativas existentes no Brasil.

– Foi o Governo Temer quem fez! Foi herança maldita de governos do PMDB e do PT.

– Em 2018, com as reformas neoliberais em pleno funcionamento, a gente toma o Poder no voto, já aprovado os 20 anos de congelamento nos gastos públicos e, tomamos o Poder, com o objetivo de evitar um governo progressista, de centro-esquerda ou apenas evitamos uma guinada para um governo desenvolvimentista/ defensor do interesse nacional, que privilegie o setor produtivo em detrimento do mercado financeiro. (assim pensam os patrocinadores do Golpe de Estado no Brasil).

Lembrando.

As peças chaves do Golpe de Estado não ficaram nas mãos de Temer.

Petrobrás e Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores estão ocupados pelo PSDB.

Justiça, Relações com outros países (por exemplo, enfraquecimento do Mercosul e saída dos BRICS) e controle dos destinos do Pré-Sal e da Petrobrás que são os elementos que mais interessam aos mentores do Golpe de Estado. Sem contar que a economia: BC e Ministério da Fazenda já são ocupados por homens do mercado financeiro.

– Temer, não vá querer privatizar a Caixa e o Banco do Brasil antes do PSDB chegar ao Poder. Se fizer tal loucura, ou melhor, se fizer faça a venda a preço de banana para quem o grupo dos seis poderes determinar.

Ai vem a pergunta:

Vão vencer pelo voto em 2018 com tamanha impopularidade de Temer e medidas econômicas impopulares?

Pelo modo como a população vem reagindo ao Golpe de Estado, vencerão!

Com a criminalização da Política, dos partidos políticos e de políticos, com a possível impugnação de candidaturas como a de Lula, de candidaturas de políticos dos mais variados partidos sobrando um único partido para se votar: o PSDB, vencerão!

PSDB: jamais investigado, jamais condenado, jamais integrado ao buraco sem fundo da Lava-Jato.

PSDB: emergirá como o partido Salvador da Pátria!

Poderá ganhar com menos votos que as abstenções, votos brancos e nulos, mas, vencerá e por W.O.

Na verdade, a Política foi com muita sede ao pote e todos os políticos perderam. Os políticos misturaram-se com as pessoas erradas, pensando que os benefícios do Golpe de Estado seriam o de tomar para si as decisões políticas e econômicas e receber do povo o respeito e a admiração por tirar o PT do Poder: “o mais corrupto dos partidos, o demônio, o causador do caos econômico”, segundo, o Tribunal Midiático.

Legislativo do Golpe defendendo no discurso, não na prática, bem sabemos, o fim da corrupção e melhorias imediatas na economia, esses motes todos.

Porém, quem está surfando na onda do Legislativo e Executivo enfraquecidos são o Sérgio Moro, os procuradores da Lava-Jato, O MP, o Gilmar Mendes, o Rodrigo Janot, a Carmen Lúcia e os juízes aliados do Tribunal Midiático.

Criminalizar a Política deu vazão à abstenção recorde nas eleições municipais deste ano, deu força para o arbítrio das prisões espetaculares de políticos para o gáudio da população ávida por linchamentos, excetuando, claro, prisões de tucanos, deu direito de o Judiciário exigir manutenção para si das regalias de auxílios e super-salários, de propor a admissibilidade de provas ilícitas desde que de boa-fé, de querer não ser responsabilizado judicialmente por abuso de autoridade e de decidir em que País devemos viver.

Porém, como disse no começo, a Política se enfraqueceu no País, porque quis. Para derrubar o PT e Dilma e enfraquecer Lula os políticos comemoravam ações da Polícia Federal e da Lava-Jato, comemoravam decisões equivocadas do Ministério Público, prisões arbitrárias, manchetes garrafais de jornais e revistas e telejornais vazadas da Lava-Jato com ou sem nenhuma comprovação fática contra os petistas, Lula e o Governo Dilma.

Agora, o Judiciário gostou da brincadeira e resolveu ampliar o cadeião de Curitiba para colocar mais um bocado de políticos sem foro privilegiado até o Natal e quem não ficar do lado do Tribunal Midiático pode ter a sua vez lá no cadeião da Lava-Jato.

O presente de Natal dos brasileiros: a prisão de políticos graúdos!

Quem vai deter a fúria, o espetáculo televisionado das prisões?

O gáudio da população morista está a mil por hora.

A população está aplaudindo a “caça aos corruptos” da “República de Curitiba”, e, neste espetáculo de distração do povo brasileiro, a retomada do neoliberalismo se dá. E, se escondem e desviam da atenção e discussão da população as medidas impopulares, recessivas e destrutivas da economia real, que o grupo dos seis poderes quer colocar em prática no cotidiano das relações de trabalho e das relações sociais dos brasileiros.

Enquanto o povo comemora a prisão de mais um Político graúdo, o Presidente + seus ministros e o Legislativo federal, reféns do grupo dos seis poderes, promovem (votam) e aprovam medidas de candidatura perdedora na Eleição de 2014, a retomada e radicalização da Era neoliberal de FHC em terras brasileiras, derrotada por 4 eleições presidenciais seguidas.

A cada político preso, a distração da população vem. Cada político preso no exato momento da possibilidade de uma rebelião popular, de alimentar na população uma chama para derrubada do Golpe de Estado. A cada crise, a cada quebra de um Estado, de uma prefeitura importante a sociedade sendo levada a crer e a comemorar o culpado: o político corrupto. A cada votação impopular no Congresso um fato espetacular da Lava-Jato.

E o grupo dos seis poderes nadando de braçada e provocando o caos no Brasil.

Deixo para terminar a pergunta:

Até quando vamos sustentar essa loucura toda?

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/blog/alexandre-tambelli/golpe-de-estado-a-politica-no-banco-dos-reus-por-alexandre-tambelli

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *