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Lula, Ciro, Boulos, Manuela e Haddad: a democracia depende deles. Por Gustavo Conde

14 - 19 minutos de leituraModo Leitura
Gustavo_Conde

Foi dada a largada histórica para as eleições mais tumultuadas que o Brasil já viu e verá. Vários fatores fizeram precipitar este fato nesta semana que passou. O mais importante deles é macro: é a própria história, é o próprio tempo.

 

Estamos a 150 dias das eleições e, a despeito de todo o ceticismo, isso agora se tornou uma realidade incontornável.

O segundo fator mais importante é a prisão de Lula, que se alonga perigosamente. Lula preso precipitou a história. A “extração” física e artificial do maior, mais importante e mais inteligente líder político do país criou um vácuo de poder que, na prática, faz acelerar os acontecimentos. Sem Lula, é um salve-se quem puder, até para a direita que nunca operou sem a presença dessa referência política máxima.

Óbvio que, mesmo preso, Lula dá as cartas, seja com seu poder desproporcional de pautar o cenário político-partidário com frases curtas e cirúrgicas, seja com a força simbólica de sua ausência ou mesmo com a simbologia embutida na sua prisão. Lula é o assunto, o agente, o destino e o objeto de desejo geral, em todos os sentidos. Não fosse a violência da prisão política, eu diria que ele ocupa a melhor posição política da história. Ele está “protegido” da vilania político-judicial que grassa aqui do lado de fora da prisão.

Ocorre que esta é uma leitura histórica pouco visível à maioria das pessoas. O ‘brasileiro de esquerda’ hoje têm pressa em ver os seus problemas e angústias resolvidos. É a demanda cognitiva acelerada da modernidade em smartphone: vivemos sob o signo da pressa e da emergência, até nas formulações dialéticas e naquilo que o pensamento pode nos dar como codificação da realidade.

Some-se isso ao medo e temos um coquetel perfeito para o poder secular que é, no conceito, contra todo e qualquer tipo de revolução. Ou: uma sociedade alienada em sua própria ansiedade jamais será mobilizada pela história real, senão apenas por emissoras de televisão e pela cidadania fake da dimensão big brother (lembrar dos manifestoches fazendo selfies com policiais e lembrar que o Brasil é o país que mais consome ansiolíticos no mundo).

Peço vênia, portanto, para oferecer uma visão conjuntural não tomada pela libido da urgência e do desejo difuso de vencer a qualquer custo em ritmo de vingança. Tampouco ofereço consolo aos que criam seus ceticismos de estimação. Esses, na verdade, sofrem espasmos com leituras conjunturais elaboradas na letra fria do materialismo histórico.

O cético é o mais apressado e ansioso dos seres. Ele é tão ansioso que vive no passado como forma de garantir sua ração mínima de resistência à realidade. Do passado, o cético já pode saber de tudo. Ele tem todas as certezas e ostenta isso com insinuante indiferença. É seu modus operandi, sua fruição, seu prazer. Eu diria: cada um tem a felicidade que merece e o fetiche que comporta.

A aceleração da história

Há outros fatores, no entanto, que contribuem para a aceleração da história. Além do próprio tempo e de Lula preso, há: 1) o esgotamento da linguagem jornalística tal como a conhecemos um dia, 2) o descrédito por que passam todas as instituições brasileiras, imprensa inclusa 3) a crise econômica mascarada sem precedentes  e 4) o sentimento de desesperança generalizado que legou a outrora postura altiva do brasileiro a um vago borrão histórico.

O cenário é de tal complexidade que as análises rápidas e lacradoras das mídias alternativas ou não vão embicando todas para a zona obscura do ‘já dito’ misturado aos intermináveis clichês seculares. Ler o que já se sabe parece ser um delicioso relaxamento para uma vida tão difícil e carente de processos de significação.

São as palavras-cruzadas da modernidade: é só ir encaixando os sentidos, as palavras e os enunciados pré estabelecidos. Lamento não colaborar para esse ciclo vertiginoso. Ler-se-á aqui, como de costume, formulações contraintuitivas e contra-hegemônicas, mesmo no campo da hegemonia supostamente progressista.

O fator ‘prisão de Lula’ e a candidatura mantida

A candidatura de Lula está sendo historicamente mantida e cumpre um papel muito mais importante do que demarcar território formal em um cenário eleitoral em si. A manutenção da candidatura de Lula tem um significado muito maior do que a mera estratégia de manutenção de patrimônio eleitoral.

Ela exige coragem, sentido de resistência e capacidade de contestar todo o processo golpista que se impôs ao país. A candidatura do preso político que mais recebeu votos no mundo (280 milhões de votos ao logo de 40 anos de vida pública) é ponto de honra e de caráter para uma civilização já tão destituída desses dois valores básicos, que transcendem a democracia pura e simples.

São valores que pertencem ao espírito e ao sentido existencial e filosófico de uma geração, são pontos definidores e gestos dotados de amplitude histórica, muito mais poderosos simbolicamente que as estratégias chãs de campanha eleitoral.

Ocorre que todo esse poder evidentemente não é compreendido pela massa cheirosa da população brasileira, incluídos aí os segmentos progressistas, que ardem na própria dor traiçoeira do golpe. A intelligentsia brasileira ficou burra e tem todos os pressupostos compreensivelmente defasados. Mal se consegue elaborar uma pesquisa de opinião digna de qualidade básica. Ler os questionários elaborados pelos institutos de pesquisa é de fazer chorar.

É uma falsa objetividade, calcada na massa noticiosa da imprensa tradicional que não tem mais uma cifra de conexão com a realidade do país. A rigor, a vantagem de Lula deve ser escandalosamente maior que a liderança apresentada por esses institutos – que a gente respeita como último suspiro de querer jogar o jogo de uma democracia liberal mal ajambrada.

Com tudo isso, o PT continua sendo, disparado, o partido mais popular do país, com a maior bancada na câmara, com o líder nas pesquisas, com as 4 últimas eleições majoritárias vencidas no voto e com o grau máximo de respeito internacional que jamais teve. O PT ficou mais forte e alguns setores da própria esquerda ignoram isso, na tentativa de ganhar território em terra arrasada.

A terra arrasada, meus caros leitores, é a economia, não é o PT. A terra arrasada é o PSDB, não é a esquerda. A terra arrasada é o golpe, não é o sentimento de democracia interna de cada um (ou, pelo menos, não deveria ser).

Esse cenário, olimpicamente ignorado pela maioria das mídias digitais que é quem produz o que restou de opinião pública real hoje no país, é tão factual quanto insuficiente. Porque portar a hegemonia do debate qualificado, técnico e comprovadamente gerador de emprego e riqueza, não basta para que se imponha o logro eleitoral e institucional.

As instituições estão desacreditadas faz tempo, antes mesmo do golpe. Isso turva a natureza das operações estratégicas que compõem o debate público, que requerem uma mínima lógica para se consolidarem e alcançarem escala.

Pior do que isso, o descrédito dos poderes empurra toda a massa debatedora para o gueto ideológico da polarizações e do tudo ou nada, até mesmo debatedores do campo progressista que acusam uma ansiedade muito deletéria para pretensões eleitorais.

É paradoxal: quem deveria estar no limite da tensão é o conjunto de segmentos golpistas: PSDB, MDB, Globo, partidos de aluguel, empresários do setor escravocrata e a gloriosa classe média obtusa em geral. Mas eles estão calmos, dentro da própria vergonha do erro, encasulados nas carapaças do silêncio e da contemplação da desgraça alheia (a desgraça da economia e a desgraça da esquerda em forma de simulacro). Nosso frenesi pela volta da democracia acaricia a sanha golpista em latência desses cidadãos a-históricos (seria bom não continuar lhes dando essa energia psíquica e política).

As esquerdas, por outro lado, recusam-se a reconhecer a própria dimensão da colossal vitória histórica. Para quem lida com sentidos históricos com a devida frieza das técnicas de interpretação contemporâneas, nós estamos passando por um momento de fortalecimento dos campos progressistas. É claro que isso leva tempo, mas o afunilamento pedagógico que lega a brutalidade assassina da direita é tão factual que, talvez, por isso mesmo, obnubile-se sua presença. A língua e os sentidos, meus caros, também passam por uma crise de conceito.

Decorre daí que poucos conseguem compreender o significado da manutenção da candidatura de Lula e, pior do que isso, muitos menos ainda conseguem assimilar a necessidade de um plano B factível, negociado e soberano. De dentro da prisão, Lula enxerga tudo isso e tem o domínio dos próximos passos. A força desproporcional de Lula reside no fato de que ele também consegue ser pragmático sem ferir sua face mítica de explosão emocional.

Algumas perguntas retóricas

Pergunto: um partido como o PT, do alto desta popularidade inédita que nasce da adversidade (e que por isso é mais forte), poderia querer o quê numa eleição majoritária? Nada menos que a vitória acachapante e histórica.

Pergunto: um partido com recordes de filiação, que tem 6 vezes mais apelo popular que o distante e solitário segundo colocado segundo pesquisas recentes, que recebe a solidariedade do mundo inteiro pela prisão de seu líder histórico, poderia querer o quê em termos de renovação de bancada legislativa: nada menos do que a ampla maioria.

Pergunto: um partido caracterizado pela franqueza e pela lealdade nas alianças regionais, pelo debate transparente e respeitoso com lideranças de partidos menores e organizações e movimentos sociais, poderia querer o quê no cenário das eleições estaduais? Nada que não seja o melhor resultado da história, com 10 governadores ou mais.

Esquecem analistas, tão confusos quanto ressentidos, que o PSDB hoje é o partido mais rejeitado do país. Isso está consolidado em pesquisas que, como dito aqui, estão sendo feitas no escopo de pressupostos defasados dos questionários, mas diz-se também (aqui, neste artigo) que é preciso respeitar minimamente o dado fornecido pelos institutos de pesquisa. É isso ou o caos – e a direita quer o caos.

Abre-se, portanto, uma janela histórica de renovação nos estados e nas câmaras. Lula sabe disso e age de dentro da prisão para assegurar o efetivo uso dessa janela. Militantes fragilizados emocionalmente podem hesitar diante desse cenário.

É por isso que a prisão de Lula é tão importante para o golpe. A retirada de cena de seu timbre, de seu tom de voz, de sua inteligência, de sua emocionalidade reguladora, faz com que tudo se encaminhe para um Deus nos acuda, passionalizado e paralisante.

É nesse ponto que a conexão de Lula com o povo trabalhador entra como elemento de garantia. O povo está – felizmente – alheio a esta confusão partidária das alianças. O povo só quer votar. É dessa simplicidade que se alimenta a força de Lula. É nessa simplicidade que deveríamos depositar nossas atenções, em vez de retroalimentar ressentimentos difusos e imobilizantes. É essa simplicidade que vai resolver o nosso imbróglio histórico, aliás, como sempre foi.

A falsa demanda por “união das esquerdas”

O sintagma “união das esquerdas” é um simulacro. Caro leitor, permita-me explicar antes o que é um simulacro. Trata-se de um efeito da linguagem que incide diretamente na codificação dos sentidos. O simulacro é como o “outro” vê o “um”. Ou, traduzindo: é como a direita vê a esquerda, de dentro da sua notória incompreensão do que seja a esquerda. Esse mecanismo está presente full time na linguagem e nos debates. Há teóricos da linguagem que dizem, aliás, que sem simulacro não há debate e nem produção de sentido, tese com a qual, por acaso, eu concordo.

E por que o sintagma “união das esquerdas” é um simulacro? Porque ele atende única e exclusivamente ao interesse da direita (e/ou do adversário da esquerda, que luta por espaço político). Unir a esquerda significa homogeneizar a esquerda. Significa “colocar todos no mesmo saco”. Significa matar a diversidade característica da esquerda que lhe dá o sentido matriz (‘esquerda’ é sinônimo de ‘diversidade’). A “união das esquerdas” é um discurso “Cavalo de Troia”, um malware infectante que trunca o debate sério das ideias e dos programas. Ele interessa a muito pouca gente da esquerda de fato, senão aqueles que flanam nas próprias pretensões históricas destituídas de sentido real de coletividade e planejamento racional das políticas públicas.

Mas o problema é ainda maior. No caso do discurso sobre a “união das esquerdas”, ocorreu um complexo desdobramento desse simulacro: a própria esquerda aceitou essa tese de “união” e nela se debruça com imensa docilidade e irreflexão. Servem, assim, muito delicadamente ao golpe e aos interesses da direita – direita que só não é fragmentária porque não tem conteúdo para se fragmentar e, portanto, é “unida” por definição.

Para compreender com mais facilidade isso, basta pensar em Lula. O gesto dele em legitimar as candidaturas de Boulos e Manuela responde diretamente a isso: Lula aposta na diversidade como sentido originário da esquerda e como elemento de muita força política. Aliás, não é difícil de entender isso: diversidade é sinônimo de força.

Em primeiros turnos de eleição, a diversidade deve imperar para que se tenha debate. “Uniões” são para segundos turnos. Sempre foi assim não por fatalidade, mas por desdobramento natural do debate público.

Essa impaciência para se formar chapas de esquerda supostamente unificada serve apenas a uma e única candidatura: a candidatura Ciro Gomes que, aliás, seria imediatamente jogada no limbo, depois de uma aliança feita (porque teria que ficar respondendo sobre a aliança). A imprensa tradicional agita essa pretensa “união” em torno de Ciro, porque sabe que isso confunde todo o campo da esquerda, tomado de imensa fragilidade emocional e analítica com a prisão de Lula.

Hora, portanto de falar em Ciro Gomes.

A esfinge Ciro Gomes é apenas o grau zero da política

Que não haja ilusões: Ciro Gomes é inteligentíssimo e suas ações são milimetricamente calculadas. Ciro tem legitimidade e corre um risco imenso com sua estratégia de turno de morder e assoprar Lula e o PT. Eu o respeito por isso.

Depois de Lula, Ciro é o político em atividade mais experiente do país. É do Ceará, tem projeto, tem discurso e é dono de significativo patrimônio eleitoral. Fez parte dos governos Lula e Dilma e botou a cara para defender o PT quando a coisa ficou feia para a democracia.

Ciro acumula calos. É humano como todos nós, comete erros, solta declarações infelizes, mas lhe sobra legitimidade. Está aglutinando força política e massa noticiosa em torno de seu nome com essa estratégia: suas declarações quase chistosas fazem com que ele não saia das primeiras páginas dos jornais e das mídias digitais.

A recusa de Ciro em mergulhar de cabeça na defesa de Lula e do legado do PT é pensada, é deliberada. Ele sabe que assim, ele deixa uma imensa porta aberta para alianças mais ao centro-direita, a rigor, segmento sem o qual não se governa. Ciro pensa já no governo e isso o torna mais forte ainda do que já é.

Esse gesto ainda lhe permite elevar as exigências de praxe em uma possível aliança com o PT e com Lula mais a frente. Ciro não quer – e não deve – aderir ao PT e a Lula sem a posse de sua soberania intelectual. A despeito de suas declarações polêmicas (a rigor, apenas um diversionismo), ele está sendo frio como se deve ser em um momento dramático de costura de alianças e de retomada épica do curso da história. Ciro é um agente extremamente importante em todo esse cenário.

Desta conjuntura, unir Ciro ao PT e a Lula seria um risco muito maior para a esquerda. Unida, a esquerda sofre muito mais ataques porque, justamente, é ferida de morte na sua característica principal, que é a diversidade soberana. É tudo o que a imprensa tradicional, assustada com a ausência de candidatos viáveis, quer.

Ciro, no seu flanco de batalha, chega fácil aos 15% de intenção de voto. Ele é esperto demais. Vai herdar os eleitores órfãos de Bolsonaro, porque tão logo comece a campanha, Bolsonaro derreterá como um Celso Russomano, dotado daquele imenso vazio que caracteriza sua mente e sua história.

Isso posto, resta-nos mais três breves considerações: Boulos, Manuela e Haddad.

Boulos, Manuela e Haddad

Estivesse o Brasil em condições normais de temperatura e pressão, teríamos uma das melhores e mais qualificadas eleições da história. Guilherme Boulos é um luxo intelectual e uma iguaria popular. Ele fala com o povo como Lula e formula teses e leituras como inteligência ambulante que é. Tem coragem, tem discurso, tem presença e tem senso de humor. Não foi à toa que o Psol não pestanejou em escolhê-lo para encabeçar a chapa presidencial.

Boulos é um candidato que pode alçar os dois dígitos de intenção de voto com relativa serenidade. Ele é um perigo para a direita e será uma imensa pedra no sapato da ala conservadora do país por muitos e muitos anos. Iniciados os debates, um movimento pendular é escandalosamente previsível: Boulos cresce feito um bolo e Bolsonaro murcha feito um balão de papel. É até covardia pensar em um Boulos psicanalista diante de um Bolsonaro “brutalista”. Não há marqueteiro nem teoria da comunicação que dê jeito nisso. É a linguagem humana que irá se impor, nada mais.

Manuela já apresenta surpreendentes 3% para uma situação de pré-campanha. É o que Ulisses Guimarães conseguiu em 1989 na apuração final. Manuela é sensacional. Corajosa e inteligente, ela tem domínio estratégico do discurso e das bandeiras sociais. Não passa nem perto da definição de candidata “pequena”: é do PCdoB, um partido grande por definição, com penetração e bancada, com história e com muita “pegada” político-eleitoral.

O potencial de crescimento de Manuela é imenso. Quando alguém como ela aparece numa tela de TV em horário eleitoral gratuito e nos demais vetores de campanha, luminosa como é, os olhos dos eleitores brilham em agradecimento. Alguém aqui acha que Lula quis ceder sua imagem e sua significação quando abraçou e elogiou a candidatura de Boulos e Manuela? Foi exatamente o contrário, meus queridos navegantes: Lula sabe que Boulos e Manuela são o futuro e o presente da cena democrática brasileira. Lula é mais esperto do que todos nós, além de ter um olho certeiro e dotado de profunda intuição.

É nesse xadrez eleitoral que entra Fernando Haddad, talvez o político concreta e partidariamente mais promissor que o país viu desde Lula. Haddad acumula muitos significados neste momento: é o anti Doria (e Doria mergulhou em rejeição e repulsa recordes depois do desastre que foi – e é – sua ‘gestão’ na capital paulista), é a voz da contenção e da concertação, é um gestor premiado internacionalmente e é, nada mais nada menos que o coordenador nacional da campanha de Lula.

Haddad, meus amáveis leitores – que chegaram até aqui neste longo artigo –, é um nome nacional desde 2005, quando foi designado ministro da educação e promoveu uma revolução no setor. O nordeste conhece Haddad, não se preocupem com isso.

Haddad sai de um patamar de 5% mesmo sem ser candidato. É a típica barbada: numa semana de campanha oficial, seu nome atinge 10% e depois 20%. Como virtual candidato do PT em substituição a Lula nesse cenário de guerra em que todas as projeções devem ser consideradas, intra ou extramuros, Haddad é a transfiguração de Lula: herda todos os votos de maneira irresistível, como as próprias e confusas pesquisas já demonstraram.

Ora, ora, ora. Por que eu iria querer unir quatro candidatos tão espetaculares e singulares como esses em uma única chapa? Soberba? Fetiche? Delírio? Não. O nome dessa pretensa “união” é: “serviços prestados à direita, disponha”.

Esses quatro cavaleiros da democracia, cada um à sua maneira, reúnem muito mais do que 50% das intenções de voto. São quadros qualificados. Não podem ser neutralizados por um desejo de homogeneização do debate público. É preciso deixá-los operar, crescer, conquistar corações e mentes. Quem tem medo do jogo jogado?

Eu respondo: como sempre, quem tem medo de jogar o jogo é a direita. Que não concedamos a eles mais uma vez esse benefício estratégico. A palavra de ordem continua sendo: lutar pela legitimidade da candidatura de Lula e sua liberdade como gesto maior do que qualquer eleição e estar a postos para cenários eleitorais de emergência. Nós vamos precisar deles.

Gustavo Conde é músico, linguista e professor. Lida com teorias do humor e com os processos de produção do sentido político. É autor do Blog do Conde, espaço de discussão de temas políticos, acadêmicos e literários

Ricardo Stuckert

Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/pt/colunistas/gustavoconde/354362/Lula-Ciro-Boulos-Manuela-e-Haddad-a-democracia-depende-deles.htm

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