Lula e o Projeto de Resistência Civil, por Sérgio Medeiros
Instalou-se a barbárie. O Poder foi tomado a força, ainda que alguns ainda não tenham consciência plena disso.
A prova é o total desrespeito pelas leis e direitos, num dia acusam Lula, sem quaisquer fundamentos reais ou lógicos, sem nenhuma prova, no outro, com um relato vago e meio perdido no tempo de fatos com mais de quatro anos, cria-se a prisão urgente de um ex-Ministro que aguardava em um hospital que sua esposa realizasse delicada cirurgia.
As provocações e a repressão da polícia militar aos protestos, é apenas a ponta de um iceberg feito de ódio força e intolerância.
Nesta brutalidade alguns clamam pela resistência mediante a força.
Mas, pergunto.
Será quem se combate a irracionalidade, a insanidade, o arbítrio, que se apossou do estado e de todo seu aparelho repressor de poder, com o uso da força bruta??? Da qual eles detém o monopólio.
A resposta é desenganadoramente negativa.
A única força que temos são nossas ideias, nossos projetos de emancipação coletiva e valorização da vida, de toda vida, e a denúncia sistemática de sua destruição pelo novo regime de força… bruta.
Lula, muito mais que a maioria, de doutores, de cientistas políticos, de quaisquer matizes, de esquerda direita, centro, tem a visão clara da luta que se descortina e quais as possibilidades de luta, entre forças tão desiguais.
Do inconsciente coletivo, traz novamente a única forma de luta capaz de conter a intolerância e o ódio que tomaram conta da política nacional, pois traz consigo a proposta de dialogar, de mostrar a verdadeira face do projeto desumano que, de modo vil e escuso, logrou tomar o poder.
Trata-se não de uma opção por uma conformidade travestida de pacifismo mas por outra forma de resistência, da constatação que, de outro modo, não conseguiremos ser ouvidos pela sociedade, contaminada por esta campanha difamatória que criminaliza os direitos humanos e destrói a concepção de que o trabalho(digno) dignifica o homem, pois, de forma distorcida, denomina vagabundo quem não se submete a condições degradantes de trabalho e desqualifica os que cansados, doentes, desamparados pelo sistema, crianças, não conseguem se sustentar, mostrando-os não como seres humanos mais fracos ou em condições precárias, mas sim como um peso demasiado para os demais carregarem.
A que ponto chegou a desumanização, que não há uma reação única de toda a sociedade contra esta forma primitiva e indigna de tratar outos seres humanos.
Nete momento, através de uma campanha sistemática de mídia, não há consenso da opinião pública sobre a defesa da vida e da dignidade humanas, elas se tornaram descartáveis.
Assim, a tarefa mais urgente é resgatar o que significa respeito, dignidade, solidariedade, humanidade.
Lula simplesmente passou, em seus discursos, a dizer e mostrar para que servem as instituições públicas, e que ele acredita que elas podem e devem servir ao propósito para o qual foram criadas e por ele fortalecidas em seu governo, ou seja, para defender a Constituição e o Estado Democrático de Direito, que nada mais é do que proteger a todo e qualquer componente da sociedade, Constituição Brasileira, art. 3º:
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Mostra claramente o que esta sendo feito, e desmascara o arbítrio e o desvio de finalidade da chamada força-tarefa da Lava Jato em sua constante tentativa de criminaliza-lo e ao Partido dos Trabalhadores.
Não prega a violência, ao contrário, em seu discurso exalta a dignidade da postura de quem luta e disputa ideias, e com isso, mostra toda a perseguição que lhe esta sendo feita por pessoas que deveriam zelar pelo correto funcionamento do Estado.
Lula, com seus gestos, intuitivamente, repete a trajetória de figuras ímpares na história mundial, de um Gandhi, Martin Luther King, que sem abrir mão de um milímetro de suas convicções, ousaram criar uma outra forma de luta, que muito mais que a força, era movida pela necessidade imperiosa de que as pessoas soubessem os motivos pelos quais estavam se movendo, e qual o futuro que isso deveria trazer.
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“*Eu tenho um sonho – Marthim Luther King, (http://www.dhnet.org.br/desejos/sonhos/dream.htm) trecho:
“Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.”
Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/fora-pauta/lula-e-o-projeto-de-resistencia-civil-por-sergio-medeiros