Lula, o iluminado por Raul Lago
Com popularidade recorde, o presidente brasileiro cutuca os
protagonistas da crise econômica, conquista prestígio internacional e
ofusca Hugo Chávez na América do Sul.
CLINTON DO SUL Para a revista americana Esquire, Lula é uma das 75 personalidades mais influentes de hoje O mundo discute o petróleo e os modelos energéticos alternativos. O Brasil tem as duas coisas: a perspectiva de se tornar um dos principais produtores de petróleo do mundo graças às reservas do pré-sal e o domínio da produção e a tecnologia para o uso do etanol como combustível. E tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compreendeu a importância estratégica desses dois fatores. E que também exerce o papel de mediador da América do Sul perante os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ofuscando o radicalismo de um Hugo Chávez. Esses foram os argumentos que a revista americana Esquire usou para escolher Lula, na sua edição deste mês, como uma das 75 personalidades mais influentes do mundo neste início de século XXI. A revista diz que Lula é o "Bill Clinton da América do Sul". Na definição da Esquire, o ex-presidente americano – que também integra a lista das 75 personalidades – é uma mistura de "agente da mudança" e "agitador."
Na mesma semana em que apareceu na relação elaborada pela revista Esquire, Lula também foi personagem de um artigo do principal jornal francês, o Le Monde. Na quinta-feira 18, o jornal chamou a atenção para o papel de Lula e do Brasil na solução da crise da Bolívia, durante reunião dos países da Unasul em Santiago do Chile. "Luiz Inácio Lula da Silva se comporta como líder regional. Ele tem as ferramentas para fechar um consenso e exercer uma influência mediadora aceitável dentro do subcontinente e no Exterior, principalmente nos Estados Unidos", registra o Le Monde. A atuação de Lula como mediador, aliás, tinha sido ressaltada antes por diversos líderes que participaram da cúpula da Unasul no Chile.
Lula de fato vive um momento iluminado. Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de setembro, aponta que ele bateu seu próprio recorde de popularidade: nada menos que 64% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. É, disparada, a melhor avaliação de um presidente desde a redemocratização do País, em 1985. E Lula surfa nessa popularidade. Nem seus adversários ousam criticá-lo. Em sabatina feita na quinta-feira 18 pelo jornal Folha de S. Paulo, o candidato do DEM à Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou Lula, Fernando Henrique e o governador paulista José Serra como os três principais políticos brasileiros.
"Nada disso está longe de ser gratuito", observa o cientista político José Luciano Dias, da C.A.C. Consultoria, de Brasília. "Lula é um exemplo de como um líder de esquerda pode modernizar seu discurso e abrir-se para o mundo sem perder a relevância", observa ele. Para Dias, a comparação que a revista Esquire faz entre ele e Clinton não é exagerada. "Clinton reciclou as idéias dos democratas para abarcar as teses liberais sem deixar de lado a necessidade de políticas sociais de inclusão. É o que faz Lula no Brasil:
mantém um Banco Central independente, mas ao mesmo tempo acelera a inclusão social", avalia.
Para completar, do ponto de vista político, Lula agrega à sua base nada menos que 13 partidos, o que praticamente asfixia a oposição.
"Não apenas por causa de Lula, mas também por conta de algumas cooptações feitas pelo PT, as oposições estão praticamente revogadas", constata o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
No Brasil, a Bovespa sofreu baixa de 7,6%, a maior dos últimos sete anos.
Porém, apesar do nervosismo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, relativizou o problema: "Em outra situação, estaríamos de quatro."
Confiante em que a economia brasileira resistirá bem, o presidente Lula abriu a seqüência de ironias contra o império cambaleante. Disse lamentar o fato de que "bancos importantes, que passaram a vida dando palpites sobre o Brasil estejam quebrando". Merrill Lynch, por exemplo, mede o afamado risco Brasil. Lula afirmou que os efeitos sobre o País "serão quase imperceptíveis". E brincou com os
jornalistas: "Crise? Que crise? Vai perguntar para o Bush." A frase de Lula, dita durante reunião no Chile sobre a crise na Bolívia, correu o mundo na sua tradução para o inglês: "What crisis? Go ask Bush." Foi publicada em vários jornais americanos.