Manipulação da Mídia por Mário Augusto Jakobskind
Os anos de chumbo na América Latina ainda guardam certos mistérios. É o caso,
por exemplo, da chamada Operação Colombo, no Chile, que provocou a morte de 119
pessoas. Familiares destas vítimas da ditadura ingressaram na Justiça pedindo o
enquadramento de meios de comunicação acusados de cumplicidade na referida
operação.
A Justiça chilena agora está investigando a participação de editores e
jornalistas que participaram da estratégia midiática destinada a dourar a pílula
dos assassinatos dos opositores da ditadura do famigerado general Augusto
Pinochet. Não será de se estranhar se a Justiça chegar a países como o Brasil e
a Argentina. Na ocasião, lá pelo mês de julho de 1975, vários jornais chilenos
aliados da ditadura – El Mercúrio, La Segunda e La Tercera – divulgavam a
informação plantada pelos serviços secretos de Pinochet incriminando o Movimento
de Esquerda Revolucionário (MIR) pelas mortes dos opositores.
Manchetes de primeira página diziam que “O MIR assassinou 60 de seus homens”,
“Executados por seus próprios companheiros” e assim sucessivamente. Para dar
maior “credibilidade” à notícia, os jornais chilenos diziam que a revelação
tinha sido divulgada em publicações brasileiros e argentinos. Ou seja, a
inteligência pinochetista havia plantado a falsa notícia em publicações do
exterior que, segundo informações, só tiveram um número. Não há dúvida que
correu grana atrás do pano. Os familiares das vítimas da Operação Colombo
consideram os meios de comunicação “encobridores dos assassinatos”.
Mas quem imagina que em 2008 os tempos são outros, em alguns aspectos sim, mas
em outros não, vale conhecer o que escreveu o jornalista estadunidense Jeremy
Bigwood. Ele denunciou um escândalo na área jornalística: o de que o governo dos
Estados Unidos financia secretamente meios informativos e jornalistas
estrangeiros. Em mais de 70 países, a grana rola via Departamentos de Estado e
de Defesa norte-americano, USAID (US Agency for International Development),
Fundo Nacional para a Democracia, Conselho Superior de Radiodifusão etc.
A revista In These Times descobriu que os referidos programas mantêm centenas de
organizações não governamentais estrangeiras, jornalistas, políticos,
associações de jornalistas, meios de notícias, institutos de melhoramento de
jornalistas e faculdades acadêmicas de jornalismo. E que a boca rica pode chegar
a milhões de dólares.
Segundo ainda Jeremy Bigwood, o Centro para a
Ajuda Internacional dos Meios de Comunicação (Center for International Media
Asístanse, CIMA), uma repartição do Departamento de Estado financiada pelo Fundo
Nacional para a Democracia distribuiu, via USAID, quase 53 milhões de dólares
para os meios de comunicação estrangeiros.
Podem imaginar a USAID
ensinando os jornalistas, como explicou o porta-voz do órgão, Paul Koscak, a
contar uma história, como escrever balanceadamente e a mecânica do jornalismo,
seja, impresso, televisivo ou radiofônico? Calculem, enfim, os órgãos do governo
estadunidense ensinando jornalistas a serem “imparciais”?
Todas estas informações servem para se refletir sobre o tipo de jornalismo que
vem sendo praticado atualmente em muitas publicações e meios eletrônicos da
América Latina. Veja bem, sob a capa da imparcialidade, leitores, ouvintes e
telespectadores estão sendo bombardeados midiaticamente com informações que não
resistem a menor análise e objetivam apenas desestabilizar certos governos
independentes e que não aceitam imposições do Departamento de Estado
norte-americano.
Em suma, a manipulação informativa e o esquema de
fabricação de notícias falsas, como aconteceu no Chile com a Operação Colombo,
não terminaram com o fim das ditaduras.
Publicado originalmente por http://www.diretodaredacao.com