Aldeia Nagô
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Mar Grande: Tragédias & Afetos. Por Franciel Cruz

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura
Franciel_Cruz

É impossível e inútil tentar mensurar sofrimentos, mas a tragédia quando atinge nossos afetos torna-se ainda mais insuportável. A dor lambe o paroxismo, a sensação estranha de tristeza e impotência provoca aflições inconsequentes.

Foi exatamente assim, impactado por estas vastas, tormentosas e adjetivadas emoções, que vi agora, ao acordar, a triste notícia sobre o desastre na Baía de Todos os Santos, pois as coisas ligadas à Ilha de Itaparica sempre estiveram tatuadas em nossas vidas, separadas/juntadas por um sinuoso naco de oceano. Era lá na Ilha que íamos cometer pecados na adolescência e é lá que vamos sempre tentar olvidar ou amenizar as dores do mundo no mar calmo e morno.

A Ilha é uma utopia onde a esculhambação rima com saudades e outras coisas inconsequentemente telúricas. Porém, é também o local onde o perigo está sempre à espreita, onde a tragédia é anunciada, apesar de a gente achar, paradoxalmente, que lá nada de mal vai acontecer.

E, anestesiados, esquecemos de denunciar, com a devida contundência, as mazelas ancestrais, o desleixo do poder público e outras sacanagens. Aliás, sobre a falta de cultura de prevenção, Paulo Leandro larga muito bem quando afirma que “O jornalismo poderia salvar mais vidas em vez de esperar perdê-las para perceber que ali há, afinal, uma notícia, uma tragédia”. Ainda no campo do jornalismo, há um texto muito bom de Malu Fontes falando sobre o desleixo da imprensa mesmo depois da tragédia consumada. E mais. Ela aponta/denuncia como os abutres das notícias sinistras se comportam.

E já que derivei para este lamaçal onde habitam estes seres, é muito triste ver que, em vez de juntar forças nesta hora pra tentar amenizar as dores, os órgãos (ir) responsáveis já começaram a jogar a culpa um no outro. http://bahia.ba/…/diretor-da-agerba-diz-que-questao-da-seg…/.

PUTAQUEPARIU A INSENSIBILIDADE!!!

Esta galera parece esquecer que, neste grave momento, o fundamental é, de verdade, prestar solidariedade e, principalmente, assistência aos familiares, o que é bem diferente das falsamente compungidas notinhas de condolências nos omissos jornais da vida e da morte.

Porém, como desgraça pouca é bobagem nesta província lambuzada de dendê, exclusões e desastres, daqui a pouco surgem outros abutres, ainda mais perigosos, para se aproveitar da tragédia e tentar reforçar a (péssima) ideia de que a solução é a (mal) dita ponte, monstrengo que poderá provocar destruições ambientais, culturais e históricas na terra e no mar. (A velha Fonte Nova e o Histórico Prédio de Azulejos no Comércio são dois exemplos desta nefasta estratégia).

É isso. Eles não cuidam do passado, deixam deteriorar tudo no presente para vender, literalmente, o crime como solução de futuro, num eterno e desrespeitoso cavalo de pau marinho.

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