Meu neto é pior do que um rato, disse-me ACM!. Por Marconi De Souza Reis
Eu cheguei do aeroporto na última quarta-feira por volta das 17 horas, deitei numa rede e sintonizei a TV no canal da ESPN, para saber as últimas notícias sobre o jogo do Grêmio, que ocorreria naquela noite.
Eu não gosto do Grêmio, mas tenho simpatia por Renato Gaúcho, seu treinador, por ele ser um cara autêntico, a despeito de a mídia priorizá-lo como o velho galã praieiro que não perde o eterno flerte de menino do Rio.
– “Todo clube de futebol tem um espião. Até a seleção brasileira tem espião”, afirmou Renato, antes do jogo, assumindo a denúncia da reportagem mal feita pelo ESPN, que acusava o clube gremista de espionagem durante a “Libertadores”.
A direção do Grêmio, mesmo após essa declaração, continuou negando a espionagem, o que revela como a atitude franca de Renato Gaúcho faz falta nos dias de hoje, tamanha a escassez de pessoas que revelem um mínimo de desvelo à própria imagem.
A tática que campeia na sociedade atual – e a maioria dos políticos reflete essa conduta – é a de parecer ser o que não aparece, ou seja, refletir para o outro uma imagem diferente daquela que se avista no espelho.
Luciano Huck, que deseja ser presidente da República, é um exemplo desse engodo. Logo que viu o senador Aécio Neves flagrado recebendo propina, deletou as inúmeras fotos que havia publicado ao lado do político mineiro na rede social.
Olha, até Antonio Carlos Magalhães decidiu morrer abraçado com Fernando Collor no dia 29/09/92, isto é, suportou ver o país inteiro vaiando o seu filho Luís Eduardo, quando este, seguindo determinação sua, votou contra o impeachment do alagoano.
A questão aqui não é nem de mérito, mas de lógica processual. Se João é ladrão, e seu parceiro José foi pego roubando, então aquele não pode alegar ser monge beneditino, não obstante Pedro, de forma covarde, também tenha negado a Cristo “diante do espelho”.
Com efeito, sem coragem não há autenticidade, e a maioria dos políticos de hoje – que refletem a sociedade – é tão covarde, que leva o colega prisioneiro a sofrer um isolamento mais indigno do que aquele experimentado pelo leproso na era romana.
Sinceramente, esse comportamento é mais repugnante do que o próprio crime que os une. Ignorar o parceiro pego no delito é algo mais fraco e covarde do que atirar-se com os roedores ao mar, ao menor sinal de fumaça na embarcação.
Pois bem: ACM Neto procurou a Justiça e obteve esta semana uma liminar que proíbe ter o seu nome associado ao de Geddel Vieira Lima, posto que este foi pego com R$ 51 milhões – que ambos iriam gastar nas próximas eleições de 2018 – e encontra-se preso na Papuda.
Caramba. Isso é inédito na Bahia. Aliás, isso é inédito no país. Nunca ouvi dizer que um político brasileiro foi à Justiça requerer que seu nome não fosse associado a um correligionário, que, por sua vez, foi candidato a senador há poucos dias com o seu apoio inflamado (veja o vídeo abaixo). E o pior: recebeu guarida judicial.
Olha, não leio jornais, revistas e nem vejo TV aberta, daí que não sei qual foi a repercussão desse fato – tomei conhecimento pela rede social –, mas se isso ocorresse há 20 anos, sem dúvida seria a notícia da semana, com o velho brocardo: – “Pense no absurdo, a Bahia tem precedente” (Octávio Mangabeira).
Pois é… O velho ACM, que também não era abandonado pelas ratazanas quando o seu navio pegava fogo (e não foram poucas as vezes que isso ocorreu), visitou-me naquela rede, na última quarta-feira, antes de começar o jogo do Grêmio, e me disse: – “Escreva algo sobre isso, porque meu neto tem se revelado, infelizmente, pior do que um rato”!
Marconi de Souza Reis é Advogado e Ex-Jornalista