Muniz Sodré discute cultura e crise na abertura do Enecult
A Universidade Federal da Bahia promove de 12 a 15 de setembro o XIII Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult), um centro de discussões entre diferentes áreas do conhecimento no campo da cultura. Já na abertura, dia 12, a partir das 18 horas, o professor Muniz Sodré, referência na pesquisa em comunicação e cultura no país e na América Latina, apresenta a palestra “Cultura como crise” na Reitoria da UFBA, no Canela.
Essa é a segunda vez que Muniz Sodré participa do Enecult – ele esteve presente na edição de 2007. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sodré desenvolveu um olhar articulado entre comunicação e cultura, defendendo a superação da abordagem meramente mercadológica. Seu trabalho define a cultura a partir de forças basilares como o poder, a subjetividade e a identidade, e se afasta de concepções estruturalistas que insistem em contrapor “cultura elevada” à dita “cultura de massa”. Sua militância intelectual contribuiu também para o reconhecimento da comunicação no campo científico, a partir da superação da ideia de ciência como conhecimento fechado, exato e universal. Para ele, mais que estudo da mídia, a centralidade da comunicação estaria no processo de partilha de um comum vivido, elemento chave para a compreensão do século XXI.
Aos 75 anos, baiano de São Gonçalo dos Campos, Muniz Sodré é graduado em Direito, mestre em Sociologia da Informação e Comunicação e doutor em Letras. Foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional, órgão vinculado ao Ministério da Cultura, entre 2005 e 2011. Publicou 33 livros nas áreas de Comunicação e Cultura, número que será ampliado com o livro “Pensar o Nagô”, pela editora Vozes, cujo lançamento encerrará a programação do primeiro dia do Enecult. Sua obra contesta a exclusividade greco-europeia na filosofia brasileira e defende um paradigma afro de pensamento.
Após a palestra de Muniz Sodré, o debate sobre cultura e crise continua com a professora da Universidade do Estado de Santa Catarina, Marlene de Fáveri, o poeta José Carlos Capinam, e a historiadora da UFBA Wlamyra Albuquerque. A discussão está prevista para começar às 19h30.
“Há uma crise cultural e institucional muito forte e também uma crise de valores. Com todo esse acirramento político, muitas questões estão voltando à tona, se é que elas deixaram de existir algum dia”, diz a vice-coordenadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Cult), Renata Rocha. Ela explica que a cultura estrutura a vida e o modo de fazer, tendo importante papel em momentos de crises de valores.
Consolidado como o principal evento multidisciplinar de estudos em cultura no Brasil, o Enecult soma mais de 3 mil trabalhos apresentados ao longo de sua história. Na atual edição, são 327 artigos aprovados e 594 inscritos. Todas as atividades são abertas ao público, de acordo com a disponibilidade de vagas, mas a emissão de certificado é restrita aos participantes cadastrados.