Não existe democracia sem política. Por Ulysses Ferraz
Todos os partidos têm seus corruptos. Sem exceção. Mas a corrupção não é exclusividade da política. Há políticos corruptos mas nem todos os corruptos são políticos. E nem todos os políticos são corruptos. Políticos sérios e competentes existem.
Pensar que a corrupção é um fenômeno político é, no mínimo, uma ingenuidade. Há corrupção generalizada na administração pública em todos os escalões, nas Forças Armadas, nas Polícias Militares, na Polícia Federal, no Poder Judiciário, no Ministério Público, nas empresas públicas, nas ONGs, nas empresas privadas, sobretudo nos setores de compra e gestão da cadeia de suprimentos.
Há também muita sonegação fiscal, que é uma espécie de corrupção. E causa mais prejuízos aos cofres públicos do que a corrupção. No mundo, o Brasil é o segundo colocado em sonegação fiscal e sexagésimo nono em corrupção. As perdas dos cofres públicos com a sonegação são de R$ 500 bilhões anuais, contra R$ 67 bilhões em razão da corrupção propriamente dita.
Corrupção e sonegação não são combatidas simplesmente eliminando a esfera política. Isso se combate fortalecendo a democracia e instaurando mecanismos continuados de auditoria, fiscalização e controle. O combate a corrupção, portanto, não significa negar a política, mas aperfeiçoar suas instituições.
É preciso renovar a classe política sem, contudo, eliminar a esfera do político. Demonizar a política é ignorar o fato de que ela é um espelho da sociedade e não uma abstração descolada da realidade social. Sociedades são construídas mediante decisões políticas tomadas pelos indivíduos que a compõem. Não existe resposta fora da política. Programas públicos só ganham a universalidade e a escala necessárias por meio de ações políticas.
As demandas da micropolítica só se convertem em lei mediante o processo legislativo, que é essencialmente político. Eliminar a política é, no limite, eliminar a democracia. É instaurar o governo da tecnocracia. Que também sabe ser corrupto, ineficaz e ineficiente. E age sem nenhum controle popular. Na ausência da democracia, só nos resta a ilusão tecnicista: o totalitarismo.