Nós, Pai. Por Andrezão Simões
A figura masculina está em transformação? Parece que sim. Ouço várias pessoas asseverando a atitude dos humanos masculinos buscando um novo lugar, um novo referente para suas atuações.
Lendo as mensagens diretas e subliminares de dia dos pais percebe-se no senso comum, as feridas do patriarcado. O quanto mal causou e causa nas estruturas familiares. Um modelo hermético, de pouca amplificação e diversidade para o ser, de poder vertical, de distância e ausências da figura masculina para mulheres e principalmente para os próprios homens.
A construção da figura masculina é inacessível neste sistema. Parida para a vida humana, limita-se em condicionamentos, tão sem propósitos, que anula sua própria atuação como ser e impossibilita ver-se a si mesmo. Daí tanta dificuldade em nossos “machos” conviverem nestes novos arranjos afetivos. Hordas de homens depressivos e distantes da compreensão do seu mundo emocional.
Apesar de tantos anos de autoflagelo patriarcal, a atualidade tem propiciado novas atitudes do masculino, por necessidade de sobrevivência psíquica e de coexistência social. Homens que não receberam de outros este preparo superam e constroem, a duras provas, novos comportamentos. Ainda em pequena escala, mas em alta projeção de transformação.
Novos pais, novos homens, novos seres, novas compreensões na luta pelo feminino, em si mesmo e nas mulheres, na atualização dos arquétipos de gênero, um novo modelo masculino para caber no ventre da vida.
É preciso entender e reforçar este novo homem. Esta nova conduta de responsabilidade paterna, por exemplo. Pais que estão presentes, não como coadjuvantes, mas como protagonistas atuantes no desenvolvimento das suas crias. Pais que não se furtam ao papel de horizontalizar o amor e o poder, de expressar seus sentimentos, de compartilhar seu mundo interior, de rever o domínio sobre o outro, pois conhecem mais das suas inseguranças e conflitos.
Muito o que caminhar, mas é papel da consciência reconhecer e estimular o novo. São estes companheiros que escolheram trilhar outros rumos que construirão diferentes seres. Novas figuras paternas. Novos colos de pai.
Com tantas questões de atualização de identidade, gênero, postura, comportamento, parece natural que se busque o conforto da resistência à mudança, do retrocesso como forma de auto compreensão, mas não se sustenta. Está ultrapassado em sua origem humana e é inevitável uma mudança de paradigma. Que venha.
“No presente a mente, o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais” – Belchior