O lado perverso da folia. Por Claudio Guedes |
Qua, 14 de Fevereiro de 2018 05:10 |
Na oportunidade, fui de carro de Lauro de Freitas até o Vale do Canela, no Campus da UFBa, nas proximidades do Campo Grande, e lá estacionei. Passei o dia e parte da noite andando pela Av. Sete até o Pelourinho. Muita gente, vi a saída, linda, do Ilê e seu canto de raiz. Na volta, ao passar pelo Campo Grande e entrar no Canela, vi cenas que me deixaram deprimido. Famílias inteiras, muitos jovens de 10 a 15 anos, amontoados, dormindo no chão. Perguntei a um jovem adolescente por que estavam ali. Ele me explicou que as famílias eram o interior e de bairros distantes do centro de Salvador e estavam ali para trabalhar, vendendo cerveja em latinhas e pequenos lanches. Passariam a semana trabalhando e dormindo naquelas condições, para levantar uma grana. Uma tristeza. Vi, agora, na Folha, 10/02, matéria sobre isso: "Ambulantes que armam as suas barracas, deitam nas calçadas e lá fixam a moradia por pelo menos 10 dias: esse é o cenário de centenas de profissionais autônomos - alguns vindos de longe - para extrair uma renda extra no Carnaval de Salvador. O lado deprimente da folia. O repórter da Folha, provavelmente um jovem com pouca vivência, disse que são "centenas de profissionais autônomos". Linguagem do novo credo neoliberal do pasquim paulistano. Não são centenas, são milhares de pessoas, 30 ou 40 mil, se espalham pelas ruas trabalhando de dia e noite e dormindo nas calçadas na madrugada. E não são profissionais. Conversa fiada. São pessoas muito pobres, excluídas por um sistema econômico perverso. São, na maioria, crianças e idosos batalhando por uma grana, à margem da folia. O lado perverso da folia. A face excludente do Brasil. Claudio Guedes é empresário e professor universitário |
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