Solidariedade. Por Zuggi Almeida |
Qua, 23 de Maio de 2018 18:56 |
A esposa tinha saído cedo para ir a missa, mas, decidiu não despertar do sono angelical seu marido. Desde a época do noivado Nestor já exercia a profissão de vendedor autônomo, mantendo a rotina de quinze dias na capital e quinze dias em viagens pelo interior do estado. Agora, Nestor tinha a oportunidade de realizar o sonho de D. Margarete – colocar uma laje sobre a casa herdada dos pais dela -, e mesmo sendo um domingo foi à casa de material de construção do bairro comprar os itens da grande obra. D. Margarete tomada pela emoção da realização, embora praticante do catolicismo, resolveu fazer uma visita à madame Zoraide, consultora esotérica com currículo recheado por salvações de casamentos ameaçados, efetivação de clientes em bons cargos públicos. Dizem alguns, que a cartomante ajudou um deles a acertar na mega–sena. Embora, isso nunca tenha sido provado. D. Margarete tinha um bom motivo para antecipar os fatos, afinal, segundo ela, os vizinhos tinham o estranho hábito de torcer contra a evolução da família dela, inclusive imaginava que o casal sem filhos era fruto do “olho gordo” das solteironas do bairro sobre Nestor. Madame Zoraide jogou as cartas e isso aumentou a ansiedade e a adrenalina em D. Margarete. Mudança. Recomendou também, o sacudimento para afastar o mau-olhado dos invejosos e entregou uma lista com nomes das folhas do sacudimento para comprar na barraca da feira. D. Margarete saiu da consulta transformada, levando no rosto um misto de felicidade e sensualidade. Logo comprou todas as folhas. Naquela noite fez amor com Nestor como nunca tinha feito em todo tempo de casamento. Uma semana após, a grande inauguração da laje e Nestor tratou de contratar um carro de telemensagem, D. Margarete recebeu flores, ouviram-se o pipocar de foguetes e todos se preparam para subir até laje para participar do café da manhã. Nestor ouviu seu nome ser chamado, olhou para trás e desmaiou. Em frente à casa de Nestor estavam D. Almerinda com Nestorzinho, nove anos e o irmão, Wendel de três de idade. O que D. Margarete não sabia,era que todas as viagens de Nestor nos últimos dez anos do casamento foram para São Tomé de Paripe, no subúrbio de Salvador. Também não sabia que aquela prole em crescimento era administrada por Nestor durante quinze dias todos os meses do ano. Esse era o motivo do seu marido nunca ter saído em férias. Segunda-feira, após um dia de desmaios sucessivos de Nestor, D. Margarete retornou à casa de madame Zoraide. As cartas foram expostas sobre a mesa, a advinha, observou... observou... e fez uma pergunta a D. Margarete: D. Margarete respondeu inquirindo. Madame Zoraide foi enfática. Dessa vez quem desmaiou foi D. Margarete. Madame Zoraide nunca falhou nas suas previsões. |
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