Sobre "Rancharia, com Elomar e velhos amigos tropeiros” por Tito Baiense |
Qui, 02 de Agosto de 2018 12:10 |
Além de Elomar e João Omar, estavam lá, Fábio Paes, Roze e Carlos Pitta, artistas convidados, Este “Western baiano”, como Elomar me fez entender a partir de elucubrações dele próprio dizendo para a platéia de como o inconsciente coletivo do estilo “velho oeste” foi bem trabalhado pelo cinema americano e que a partir disso a cultura do lugar, da região, sai ganhando. Me remete de imediato a Glauber Rocha, em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” película marco do Cinema Novo filmada em plena caatinga de Monte Santo- Bahia. Este estilo baiano de cantador do sertão deste agreste que se assemelha a faroeste. São aspectos que habitam um homem de Vitoria da Conquista-Ba do alto de seus 80 anos, o estilo de “Cantador” continuar firme. Um violão como sempre muito bom, a voz, um pouco mais velha que o habitual, não menos melodiosa, nos conduz ao mais profundo silencio, necessário para compreendermos os longos tesouros-textos introdutórios das canções, pausas de “causos”, para em seguida nos darmos conta que o Mestre brinda-nos com uma novidade tecnológica: um microfone de rosto, que ao meu ver solucionou muito sobre a mobilidade de cena para o artista Elomar, mas, exigiu do técnico um traquejo extra em nos garantir um claro vocal de um homem cheio de histórias, de pronúncias, dialetos, de um espírito antigo e ao mesmo tempo enigmático. Que confessa risonho inadequações deste novo tempo. Tempo. Tempo é um tema que para Elomar é a própria carne ali exposta. Parece que ele traz consigo uma chave que nos abre para uma sala, um espaço criativo onde tudo de repente precisa parar para ele, o Tempo-Elomar, com suas óperas-canções, passar. O instante dos convidados foi um show a parte, uma surpresa mais do que para além do que alguns mais puristas, na expectativa, como eu que comentava com outros ao final do concerto, que o “velho bode” poderia ter optado pelo mesmo show que vem rodando o Brasil inteiro; só ele e João Omar ao violão e cello, mas, como ha muito não aparecia em Salvador precisava-se de 2:30h de espetáculo para grandes amigos se confraternizarem no palco e tudo assim transformar-se numa inesquecível odisséia de grandes tropeiros! Vamos além de Ellomar: João Omar! Para reforçar o time foram chamados Tota Portela, grande concertista brasileiro, flautista da OSBA, e o querido Kito Mattos, ao violão que acompanhou brilhantemente Pita. Kito acompanhou tb alguns momentos de Elomar e João. Kito Mattos, um prof de violão! Roze! Fábio Paes! Carlos Pitta! Caminhamos para um final delicioso onde convidados e Elomar entoaram improvisos em quadrinhas melódicas dentro de um tema que evoca muito bem esse estilo caatingueiro do sertão baiano que tanto me fascina. Estar diante de Elomar é algo impressionante. Ele traz consigo uma carga atmosférica que muitas vezes só vivenciamos em literatura. É mágico, dramático e inspirador! Além do Amor, da Natureza, o artista Elomar tem como fonte de inspiração o sofrer. Ele reflete nas suas letras o abandono, o descaso político, a fome, o tísico corpo que não se aguenta, e ao mesmo tempo inclina uma esperança. Percebo que por vezes ilustra àquela máxima de Euclides da Cunha de que: “...o sertanejo, é antes de tudo um forte...”. Me arvoro num gancho: se caso este sofrimento acabasse, como seria a inspiração do poeta diante de um Novo Sertão? Alguns gritos de Lula Livre rolaram. Eu gritei e do meu lado um bocado de gente ficou calada. Elomar tem um grande publico. Uma grande Fraternidade que me sinto parte. Daí penso: Assim ví, assim encantado saí de "Rancharia, com Elomar e velhos amigos tropeiros”. |
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