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O jantar que virou cinza. Por Marcelo Veras
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Qua, 26 de Setembro de 2018 15:45

Marcelo_VerasA fragilidade da democracia não decorre do fracasso da humanidade, a falha é de estrutura. O que nos distingue da natureza é precisamente a imperfeição da linguagem, jamais dois seres humanos terão uma mesma resposta para o que é o gozo. Este é o núcleo problema que parasita toda democracia, o gozo do outro.

Que haja representantes da vida pública que sejam violentos ou estúpidos, cínicos ou narcisistas, homofóbicos ou racistas não é novidade alguma. O mundo jamais estará livre de opiniões monstruosas. Basta apurar a audição, o desprezo e o preconceito estarão sempre muito próximos. Já contei esse episódio anteriormente. Lembro-me de uma vez em que jantava em família, em um restaurante no sul em um local com forte influência germânica. Escutava com prazer um senhor muito afável, já na casa do 80 anos que nos cantava, acompanhado de seu acordeon, músicas de seu país natal. Ao final, embalados pelo vinho e a lareira, me aproximei e começamos uma longa conversa. Custou um tempo para me dar conta que estava falando com um verdadeiro ex-militar nazista alemão, e que por detrás daqueles cabelos brancos e olhar angelical, ele falava sutilmente coisas monstruosas. O ar aos poucos foi se tornando irrespirável. As cinzas da lareira, Freud explica, tornaram-se almas, saímos rapidamente do restaurante.

A violência contra o outro é um dos afetos mais conhecidos da civilização. Sem políticas, com certeza cairíamos na barbárie. Há contudo um risco sério em montar um programa de governo baseado no aumento de arma para a população dita de bem. Se o projeto neoliberal nos empurra a tratar nossa vida como uma empresa, o projeto armamentista propõe que, além disso, tratemos nossa vida como um quartel. Alem da quantidade de incompetentes, como eu, que serão uma temeridade armados, sempre é bom lembrar que para cada cidadão armado há um vendedor de armas sorrindo. Sempre que recebo amigos estrangeiros, percebo uma certa inquietude da parte deles com relação à violência urbana no Brasil. Minha resposta é sempre a mesma, a violência entre os homens não me faz tanto medo quanto a violência de Estado. Para mim, quando o Estado toma para si a violência que ele deveria neutralizar estamos diante do pior. Gosto muito dos memes que se espalham pelas redes sociais, eles muitas vezes são um respiro de ironia onde o mundo só encontra sarcasmos. Faço parte da turma que prefere andar amada do que armada.

Marcelo Veras é psicanalista

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