Desde 2013 vivemos um golpe. A partir das manifestações do "não é só por 20 centavos" as elites brasileiras investem pesado na destruição do precário Estado Social que começou a ser construído com a Constituição de 1988 e que foi timidamente iniciado pelo ciclo de esquerda dos governos Lula e Dilma.
Avançaram no desmonte: afastaram Dilma, condenaram Lula injustamente e colocaram no poder o que havia de mais corrupto e entreguista no país: a coligação golpista Temer/PSDB. Ativaram uma agenda "moralista", protagonizada por moleques cínicos do MBL e por falsos pastores miliardários. Tentaram, e em certa medida conseguiram, colocar na conta esquerda brasileira, desde exposições em que "crianças viam pintos de adultos", até quadros de nu pintados em 1866 e expostos no Museu Dorsay, em Paris. Tudo isso para criar uma nuvem de fumaça no que realmente interessa: eles querem sacrificar o povo e entregar nossas riquezas. Para as eleições de 2018 prepararam um cardápio salgado, intragável. Prenderam Lula, negaram sua candidatura, se recusaram a libertá-lo por ordem de um Desembargador do TRF4, se recusaram a obedecer determinação da ONU por mais de uma vez. Partimos para o jogo "de cartas marcadas". Mas faltou um detalhe: combinar com o povo. Em pouquíssimo tempo, o povo tornou Haddad uma opção real de vitória contra o golpe. Saiu de zero a 22% em 15 dias e tornou-se em uma ameaça a tudo que foi "construído" pelas elites nos últimos cinco anos. O que fazer? Pensaram eles. Há sete dias das eleições, o combo da maldade Moro/Globo/STF articulou-se e lançou a última cartada. Foi encomendada uma "pesquisa" do IBOPE em que salta aos olhos a discrepância em relação às outras, tanto pelo aumento da aceitação do candidato fascista quanto pela rejeição do candidato das forças democráticas e populares. O aumento do coiso se deu no momento em que ele foi alvo de manifestações imensas em todo o Brasil de outras tantas em mais de 60 cidades pelo mundo. Associa-se a isso, o anuncio pelo seu vice de que são contra o 13o e as férias dos trabalhadores. O que justifica, então, esse aumento, que nem a comoção pela facada conseguiu provocar? Quanto à rejeição de Haddad, fica mais estranho ainda. Cresce 11%, sem que Haddad tenha tido cometido um único deslize, nenhuma gafe, nenhum erro de posicionamento. Ontem, faltando sete dias, dois fatos graves aconteceram: a liberação da delação genérica e mentirosa de Palocci (já rejeitada pelo MPF) e a proibição da entrevista de Lula pelo peruqueiro Fux com o aval do Exmo. Presidente do STF, num novo episódio que enxovalha a imagem do judiciário brasileiro. Tiveram a desfaçatez de nem esperar mais um ou dois dias para que a "pesquisa" medisse o efeito da tal "delação" de Palocci. Não dava tempo, devem ter pensado. A esposa de Moro, sintomaticamente, postou ontem no Instagram: "não podemos arriscar perder o que conquistamos. Meu palpite para isso tudo? Trata-se da última tentativa do Império de fraudar a vontade popular. A Globo não quer o fascista e não quer Haddad. Aposta agora em Ciro, porque Alckmin e Marina acabaram. Vão tentar sufocar Haddad a qualquer custo e viabilizar Ciro nos próximos dias. Não notaram a virulência dos ataques de Ciro contra Haddad nos últimos dias? A única saída nossa é "faca nos dentes" muita força para lutar pela vitória de Haddad. Para o povo, nada nunca foi fácil. E o cenário dessa guerra é vizinho ao precipício.
Renan Araújo é médico |