Amigos. Sinto falta deles. Por Zuggi Almeida |
Seg, 03 de Agosto de 2020 05:51 |
Houve tempo em que eram muitos. Tipo: podia escolher um time do baba na praia com um excelente banco de reservas. Mas sempre jogamos contra um adversário impiedoso - o tempo. Como cordas de um violão que se partem ao longo da trilha sonora da vida ficando apenas a voz do coração.
Saudades do prato de feijão repartido, do ombro amigo pra ser consolado na hora do amor partido. Farras homéricas em tempos de pouco dinheiro e ousadia aos extremos. Sempre fomos os melhores, os mais inteligentes, os mais bonitos ( até os feios amigos). Como não exagerar nas qualidades dos nossos amigos? Uma obrigação de direito de fato. Aquele que escolhia não sair no sábado pra lhe emprestar o fusquinha e você impressionar a namorada nova que morava do outro lado da cidade. Ah! Cedia também, o blazer quando a cerimônia exigia e algum trocado pra ajudar na gasolina. Sim, também tinha os culhudeiros. Eram fantásticos, como as aventuras fictícias ocorridas em eventos sem algum testemunho amigo. Esses sempre pegavam a melhor mina da festa num bairro de classe média onde nenhum da turma estava presente. Logo, viria o convite para um final de semana na casa da ilha do pretenso sogro. O real era o final de semana na companhia dos primos, na casa da tia em Castelo Branco. Esses parceiros inseparáveis foram colhidos nas turmas do ginásio e na vizinhança. Aí estavam 'os amigos de rocha', pois compravam sua briga mesmo que o oponente fosse mais forte. Batia primeiro e se picava e você seguia atrás dando gargalhadas. Mais uma façanha no Curriculum vitae.
Amigos! Sinto a falta daqueles que se foram pra não mais voltar. Amigos! Sinto temor por aqueles que aqui estão. Um vocábulo esdrúxulo, escroto chamado comorbidade decidiu fazer moradia no corpo da maioria deles. Segundo a ciência é porta aberta para esse visitante indigno que veio para destruir vidas deixando as poucas amizades destroçadas. Por isso faço pedidos aos orixás, me apego a Deus, oro, acendo velas. A lembrança da minha mãe fez recordar ouvir a Ave Maria quase sempre às 6 horas. Por meus amigos vale tudo e nesses momentos a fé substitue uma vacina até que Tempo e Obaluaiê dêem a devida concessão aos cientistas. Assim como me permitir dormir e acordar tranquilo.
Atôtô! Meu pai. Bença meu velho amigo.
Zuggi Almeida é baiano, escritor e cronista. |