A amizade tem na música uma forte aliada e entre claves e semicolcheias ocorrem as celebrações extrema de votos, laços, acordos, afetos ou as mais puras cumplicidades.
O amigo é persona grata quando trata-se de solicitar um favor e Waldick Soriano fazendo uso do direito fraterno, grafou “ Amigo por favor leve essa carta/E entregue aaquela ingrata”. Em Paixão de Um Homem, Soriano fez do parceiro,o carteiro perfeito para expressar a dor de um coração em frangalhos angariando a reconcialiação. “ Oh! Antonico, vou lhe pedir um favor/ Que só depende da sua boa vontade”, o carioca Ismael Silva acreditando na presteza de um brother, envida apoio para um terceiro que passa por dificuldades. Amigo tem dessas coisas!. O clássico folk You´ve Got a Friend em versão traduzida, cita ”Não é bom saber que você tem um amigo/Você tem um amigo” – James Taylor reafirma a solidariedade em qualquer momento ou lugar. Nada mais acolhedor que um ombro amigo pra dizer que ” Rosa acabou comigo/Meu Deus por quê/Que bom se eu morresse/Pra que rapaz?“, o pronto socorro da vida ampara, consola e convida pra tomar uma. O cronista musical Aldir Blanc e o parceiro Sílvio Junior alinhavaram um diálogo em Amigo É Pra Essas Coisas com o mais puro sentimento de respeito e admiração que pode ser devotado a um confrade.
Um hino à amizade.
O encontro inusitado em meio ao tráfego foi suficiente para entabular uma conversa efêmera diante o semáforo, um dispara “Tudo bem! Eu vou indo pegar meu lugar no futuro...e você?”. Paulinho da Viola encontrou tempo para formatar o diálogo entre velhos amigos em Sinal Fechado. Tudo antes de acesa a luz verde. Amizade é como carbono bruto lapidado num contínuo através dos tempos e reservado em arcas especiais no fundo do coração. Ali ficam divididos, também, segredos, dores, amores, alegrias e tristezas. Amizade é uma espécie de casamento indissolúvel.Tem como imaginar uma parceria de Buchecha sem Claudinho ? Roberto Carlos exprime com certeza quando declara “ Amigo você é o mais certo das horas incertas”- suponho, que Erasmo Carlos nunca deixou de atender ao chamado. Bicudo, Cléber Bastos e Djalma Falcão tomaram de caneta e papel e sacramentaram os versos fortes, tais como “ A amizade nem a força do tempo vai destruir”. O grupo Fundo de Quintal ficou encarregado do registro para posterioridade. Um hit das confraternizações onde o samba é celebrado. Lô Borges cultivou o apêgo a um jipe amarelo chamado Manuel, o audaz capaz de levá-lo pelas estradas poeirentas do interior de Minas nas aventuras de descobertas pelo mundo. Extraordinário ! A elegância afetiva de Caetano Veloso permitiu propor em Chuvas de Verão “ Podemos ser amigos simplesmente/Coisas do amor nunca mais”- conciso, delicado e eficiente. Ele sabe muito bem dos paranauês do amor e da amizade. A verve dramática de Lupiscínio Rodrigues beira o inadimissível em nome da amizade citando “ Se acaso você chegasse/No meu chatô encontrasse aquela mulher/Que você gostou/Será que tinha coragem/De trocar a nossa amizade/Por ela que já te abandanou”. O amigo foi deixado numa verdadeira sinuca de bico. Assim, a música brasileira á feita de chegadas e partidas,mas, sempre celebrando a amizade e tomo dos versos de Milton Nascimento e Fernando Brant, em Canção da América, que expressam:
“ Mas quem ficou, no pensamento voou Com seu canto que o outro lembrou E quem voou, no pensamento ficou Com a lembrança que o outro cantou”
Ao meu amigo Jorge Portugal
- Zuggi Almeida é baiano, produtor cultural, roteirista e cronista. |