O que aprendi com o sorriso largo de Jorge Portugal . Por Bruno D'Almeida |
Sáb, 08 de Agosto de 2020 06:04 |
No início dos anos 2000, lecionava em diversos cursinhos vestibulares no centro de Salvador. No curso Base, depois terminar uma aula de Literatura Brasileira, o professor da próxima aula veio assoviando baixinho de longe, com mais de trezentos estudantes em silêncio a sua espera, como uma espécie de reverência ao mestre. Era Jorge Portugal. Com voz suave e elegante, Jorge debatia temas de redação com seus alunos. Eu, que já era professor formado, não aprendi nas cadeiras da universidade a magia da atenção e as estratégias pedagógicas para tornar uma aula emocionante. Foi no cursinho, dando aulas para multidões, sem as amarras das notas e da aprovação da escola regular, que aprendi a dar aulas com paixão e entrega. E meu mestre dessa prática era Portugal. Perdi a conta de vezes em que, tendo algum tempo livre entre o Neruda, Base, Integral, Acadêmico e outros cursos que lecionava, ficava ali na coordenação ouvindo Jorge filosofar sobre as relações sociais, a pobreza e a necessidade de superar os problemas da escola pública aprendendo a ler e a escrever bem. Tive a honra de ser colega de trabalho de um mestre que, junto a outros inúmeros mestres, conseguimos ajudar muitos estudantes trabalhadores, especialmente do turno noturno, a ingressar nas universidades públicas. Depois no programa Aprovado e na Secretaria de Cultura, pude acompanhar de longe a trajetória de um grande educador. Hoje Jorge Portugal nos deixou de surpresa, não se sabe ainda se por problemas no coração, ou se foi ceifado pelo empurrão de uma gripezinha dos ignorantes negacionistas. Eu não consigo acreditar ainda. Na minha memória, pelos corredores dos cursinhos, aquele sorriso largo de Jorge ainda passa por mim e, colocando a mão sobre meus ombros, saúda-me apenas com o abaixar da cabeça, seguindo tranquilo para mais uma aula magistral. Professor Jorge Portugal, para sempre presente no aprendizado de cada um de nós! Bruno D'Almeida |
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