O novembro deu início marcado pelos 46 anos de resistência cultural do Ilê Aiyê pautados na luta racial, na afirmação e  nas ofertas generosas de auto-estima para o povo negro. Surge a minha primeira dúvida relacionada ao novembro: E se não fosse você, Ilê?
O isolamento social requerido pela pandemia impediu que abraços, sorrisos e beijos negros fossem trocados no Quilombo do Barro Preto. Tudo em nome do respeito à vida.
Ao acordar numa segunda-feira cinzenta como parece ser o Dia de Finados, a fé católica nos impele a chorar nossos mortos e  ser resignado pela fé. Em África, a morte é considerada uma transformação, a sublimação, a elevação para outro estado existencial. A morte é celebrada com festa. Faces antagônicas de culturas distintas.
O consolo católico induz chorar  nossos mortos. A indignação política exige protestar diante do genocídio cotidiano praticado contra os  irmãos negros. Política e Religião sempre caminharam de braços dados em assuntos relacionados ao controle do poder, na maioria dessas oportunidades a representação religiosa estava ao lado do opressor.
Acontece que esse novembro negro atípico coloca no meio da caminhada mensal, uma eleição municipal com aspectos distintos dos pleitos anteriores. Uma corrida eleitoral que pôs na cena da disputa pelo poder,negros e negras como protagonistas na disputa pela cadeira principal do Palácio Thomé de Souza, sede da Prefeitura de Salvador. A ressonância está no crescimento de candidaturas negras à Câmara Municipal e o quantitativo de mulheres na luta pela representação. Então, surge minha segunda dúvida relacionada ao novembro: o percentual de votos negros asseguram essa tomada de poder?
O título de cidade mais negra fora da África com uma população formada por 83% de negros e pardos (PNAD/2017), a negritude vistosa exibida nas ruas da cidade ( efeito causado pelo movimento negro protagonizado pelo Ilê Aiyê, também), o impacto causado pelos protestos raciais do Black Lives Matter, associados estão, os números altos nas estatísticas das mortes por violência de pessoas negras, deter  maior parcela de desempregados, menor quantidade de anos de escolaridade e receber 1/3 do salário médio do trabalhador branco. Serão motivos suficientes para derrotar a oligarquia branca perpetuada no comando político de Salvador?
Eis, a minha terceira dúvida.
Apenas uma certeza, Salvador nunca teve candidaturas tão excelentes em qualidade e quantidade para representar a maioria da população como nessas eleições de 2020.
O eleitorado  tem a responsabilidade de justificar nas urnas o mesmo orgulho negro exibido nas quadras, praças e praias diante dessa oportunidade ímpar de mudanças, de transformações sociais e de representatividade nos espaços do poder.
Pega a visão, pois, mais à frente vai estar o dia da Consciência Negra e você vai saber que fez a coisa certa.
Assim, você pode fazer seu Novembro Negro. sem camargos nem holidays.
É por isso que você existe, Ilê!
Zuggi Almeida é baiano, escritor e roteirista

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