Dona Odete por Zuggi Almeida |
Qui, 24 de Dezembro de 2020 06:20 |
Dona Odete, tinha a função de tesoureira da paróquia praticada com afinco e muita responsabilidade. A reforma completa das instalações do templo, incluindo novos bancos e um moderno sistema de sonorização foram algumas das realizações da devota portuguesa. Ela era respeitada por todos os paroquianos e despertava um certo temor ao jovem padre Gaspar por conta da interferência até na liturgia das celebrações. As festividades do mês de dezembro na Bahia iniciam-se com os adeptos do candomblé celebrando Iansã, a rainha do raios com sua mesa farta em azeite de dendê e seus filhos irreverentes e temperamentais. Ao ver a negra usando um torço vistoso na cabeça e exibindo um colar de contas vermelhas e brancas no busto, perguntou para uma voluntária da paróquia: - O que essa senhora quer aqui na nossa igreja? E saiu rápido como chegou. A filha de Iansã ouviu a advertência ne demonstrando indignação no olhar, agradeceu pelo atendimento e foi embora. Era noite de Natal e mais uma vez a família Pimentel estava reunida. Dessa chegaram parentes de Lisboa para comemorar o Ano Novo nas praias de Salvador. A imensa mesa exibia o indefectível peru natalino,o tradicional bacalhau à Gomes de Sá, os bolinhos de chuva, doces, frutas cristalizadas, vinhos e uma imensa garrafa de champagne. Uma das filhas demonstrando preocupação com a demora de Dona Odete prepara-se para ir até o quarto, quando a matriarca surgiu na porta. Dona Odete causa espanto a todos exibindo um vestido de lamê vermelho um pouco reduzido para suas medidas fartas, um brilhante batom vermelho delineia os lábios, cobrindo o decote generoso estão os colares dourados combinado com os brincos e na cabeça, o cabelo preso num coque. Sem emitir uma palavra siquer, vai para a cabeceira da mesa, Seu Brandão posiciona-se ao seu lado evitando fazer perguntas e todos reunem-se da mesma forma. Diante do adiantado da hora, um dos filhos pega a garrafa da champnge e trata de abrir para fazer o brinde natalino. Ao espoucar da garrafa, uma gargalhada metálica explode pela sala. Então, a matriarca toma a garrafa da mão do filho e bebe todo o champagne de um gole só. A entidade recém-chegada anuncia: “ Ah! Vocês estavam reclamando que eu estava demorando, pois estou aqui !” A mulher olha em direção ao filho mais novo e diz: “ Seu moço de camisa azul dê um abraço nesse moço seu irmão do lado” e aponta o sobrinho Ricardo que não entende. Então, a mulher volta-se para mãe de Ricardo e complementa: “ O pai do seu filho que você disse que foi embora pro estrangeiro quando o menino nasceu está aqui nessa sala ". A família é abalada pelo terremoto de revelações que seguem-se através daquela presença antes desconhecida. “ Pegue esse moço e entregue pro velho, porque é filho dele e deve ser cuidado por ele” O pequeno Antônio sempre acometido por crises epiléticas era um dos sofrimentos da família nas idas e vindas à emergência dos hospitais. Após abrir a caixa de Pandora da família Salazar, a entidade afasta-se da mesa e vai em direção à varanda. Uma Odete Salazar Pimentel retorna lívida para a sala de jantar e reúne-se à família.. Ela exclama: - Meu Deus, que hora é essa? A missa do Galo já está começando e eu ainda estou aqui ! zuggi almeida é baiano, escritor e roteirista. |
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