Iberê Camargo, o grande pintor brasileiro, dizia algo mais ou menos assim: “eu sempre nadei contra a correnteza, só peixe morto se deixa levar pela maré”. Sem a genialidade do artista plástico gaúcho, sou deste clube. Não estou de acordo com a imensa maioria dos analistas políticos e jornalistas nacionais sobre as consequências da fala de Lula na África. Pelo contrário.

Lula foi claro na condenação dos atos terroristas do Hamas contra civis israelenses e na condenação da resposta desproporcional de Israel na Faixa de Gaza. Esta última, por causa da brutalidade e violência que atingem de forma indiscriminada a população civil palestina - sitiada em condições terríveis de sobrevivência -, Lula, visivelmente abalado com o sofrimento imposto pelas forças armadas de Israel, em particular, a crianças e mulheres palestinas, usou uma comparação forte associando este drama à decisão de Hitler, o líder nazista alemão, de ”matar judeus”. 
Não houve comparação entre a realidade em Gaza e o Holocausto, em toda sua dimensão, apenas no tocante a decisão de eliminar civis judeus na Europa dos anos 40, no caso de Hitler, e na eliminação de civis palestinos no caso da ação de Israel na Faixa de Gaza nos dias de hoje. 
Oportunista e mau-caráter, o premier israelita, Benjamin Netanyahu, aproveitou a frase do Lula para fazer um estardalhaço e, como sempre, brandindo arrogância e grosseira. Repercussão imediata, como sempre também, na mídia controlada por sionistas e aliados em quase todo mundo. 
O que Lula perde com a ofensiva sionista visando lhe imputar um antissemitismo inexistente? Acho que muito pouco. Talvez alguma coisa na Europa Ocidental. Nada muito relevante. Aqui no Brasil a agressividade sionista, que carrega no bojo judeus conservadores e até alguns progressistas e a direita goe quase sempre radicalmente anti-petista -, já está marcada, de certa forma precificada, ao imputar antissemitismo a qualquer crítico mais duro das ações de Israel contra os palestinos.

Lula nada perde entre a direita que apoia Israel incondicionalmente. São seus adversários. Ontem, hoje e sempre. 

Entre os eleitores de centro-direita, que foram obrigados, por exclusão, a votar em Lula em 2022, alguma perda? Muito pouco. Estes só votarão em Lula numa possível candidatura à reeleição caso nenhum candidato de centro-direita ou direita “aceitável” seja viável e a disputa seja contra um extremista de direita. 
Na minha avaliação, a médio-prazo, Lula só crescerá em prestígio em todo o mundo progressista, na África, Ásia e na América Latina. Na Europa continuará sendo uma liderança respeitada. Foi o primeiro dirigente de um país das dez maiores economias do mundo a expor, sem meias palavras, a brutalidade das ações de Israel contra a população civil palestina. E isso terá um significado enorme quando o balanço da real destruição na Faixa de Gaza for realizado aos olhos do mundo. 
Benjamin Netanyahu se encaminha para uma dura condenação mundial. Lula, na direção oposta, se encaminha para ser uma espécie de herói, de voz ativa, dos povos espoliados, agredidos e submetidos ao jugo violento dos interesses dos EUA e seus protetorados ao redor do mundo. 
Vamos acompanhar.

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