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Feliz Ano Velho, Sankofa por Nelson Maca
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Sáb, 28 de Dezembro de 2013 12:51

Nelson_Maca2É fim de ano. Façamos também nossa retrospectiva. Onde está e para onde vai a vida cultural dos negros da Bahia? Desatrelados do turismo étnico, dos editais e do  carnaval, o que podemos nós?

Enquanto um conhecido site elege TCA, Solar Boa Vista, Caixa Cultural e Commons Bar como aparelhos mais atuantes em 2013, a comunidade negra, além de ter seus espaços de cultura apagados nessas manjadas avaliações, assiste ao fechamento de casas como o Sankofa African Bar, trincheira da arte negra.

Durante sete anos, o Sankofa foi nosso ponto de cultura, reunindo artistas, produtores, pesquisadores e ativistas que insistem em ações independentes. Apesar dessa relevância, o bar e seu proprietário, o ganense DJ Sankofa, sofreram questionáveis investidas da Sucom e abordagens da Polícia Militar. Repressão aos espaços e coação contra a negrada caracterizam, historicamente, a relação das instâncias governamentais com nossas instituições. Em verdade, foi daí que resultaram ao Sankofa autuações, multas, apreensões de equipamentos, intimações e processos, que provocaram seu fechamento. Ainda assim, uma semana de eventos positivos marcou sua despedida. Com o futuro interditado, desejamo-nos um Feliz Ano Velho!

Do bar em si, fica na memória um capítulo de resistência aos que tentam alijar nossas demandas físicas e subjetivas. Mais um exemplo de enfrentamento ao conflito racial brasileiro. O mal-estar que se estabeleceu com a última ação da Sucom no Sankofa Bar e outros estabelecimentos – amparados por policiais fortemente armados - foi destaque em reunião de lideranças negras com o governador do estado e também tema de debate no Conselho Estadual de Cultura, com presença do secretário de Cultura, representante da PM, produtores culturais, artistas e ativistas. É sintomático que apenas a Sucom, que confirmara presença, não se fez representar. Essa conjuntura exige o chamamento de uma ampla campanha “contra a criminalização dos espaços negros de cultura”.

Diferencio “espaço de cultura negra” de “espaço negro de cultura” para colocar, objetivamente, o problema. Qualquer casa ou projeto financiado com dinheiro público ou de empresas pode promover eventos de cultura negra, mas que ainda passam ao largo da vida cotidiana da maioria da população baiana, que  ocupa os bolsões de miséria e transita na condição de pele preta numa sociedade que lhe é adversa. Proponho localizar o caso do Sankofa e afins numa perspectiva histórica, aproximando seus supostos isolamentos a uma série de ações que agridem nossos gestores e nossos espaços ao longo dos anos.

A perseguição e provável fechamento desses espaços - bem como as agressões físicas e morais aos proprietários - não se resumem a uma questão legalista, de desacato à autoridade ou endividamento pessoal. Essa perseguição perpassa o histórico do lundu, da capoeira, do samba, do maracatu, do bloco afro, do carnaval negro, do candomblé, do funk carioca, do pagode baiano... No entanto, essas manifestações não abaixaram a cabeça diante da rejeição ou incompreensão alheia; nem sucumbiram na ausência de autorização ou tolerância de fora pra dentro. São quilombos culturais que lutam contra legislações que criam e recriam mecanismos para travar nosso processo humano.

O enfrentamento dessa tensão requer situá-la na lógica do racismo institucional que tenta emparedar nossas demandas físicas e abstratas. Simbolicamente, as agressões que sofreu o DJ Sankofa frente ao Sankofa African Bar, em Salvador, seguem a mesma lógica das agressões a Fela Kuti frente ao Afrika Shrine, em Lagos, Nigéria. Se hoje aprendemos a reinterpretar a grandeza política e artística de Fela, temos a obrigação de estar atentos à significação da trajetória do DJ Sankofa e do Sankofa African Bar... da cantora Gal e do lendário Beco de Gal... de Mãe Rosa e do Terreiro Oyá Onipó... Uma lista incontável de pessoas e espaços violados pelas patas irracionais do racismo, que ainda tenta nos impedir de celebrar um feliz ano novo em família reunificada.

*  Nelson Maca  é poeta, articulador do Blackitude, professor da UCSal e membro do Conselho Estadual de Cultura

Artigo publicado originalmente em http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/nelson-maca-feliz-ano-velho-sankofa/?cHash=aaedce64179f2d12711482f7b06f7174

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