Passei a noite de ano novo no Comércio. Ponderei que seria uma ótima oportunidade de ver os fogos oficiais e achei que teria também fogos da Marina.

Vi o show de Saulo pela tv ainda em casa e uma parte do show de Gal na casa de meu irmão. De preto, sentada numa cadeira, cantando as canções de seu último CD, Recanto.

Achei a escolha do repertório imprópria para um show de virada e uma multidão de quase 200 mil pessoas. Mas uma das propostas era sofisticar a festa e proporcionar música de qualidade ao povão. Vamos lá.

Estacionamos o carro no Largo 2 de Julho e descemos a pé a ladeira que desemboca no Solar do Unhão. Eram mais de 23h. Tudo tranquilo, bem iluminado e policiado. Estava um pouco chateada com a proibição de levar a champanhe. Embora não seja bebida apropriada para eventos de rua, carrega uma simbologia importante para a emoção da virada. Tudo bem, brindemos com cerveja.

Porra, mas por que Schin? PORQUE SIM, foi ela quem "pagou a festa". Adepta ao tudo vale a pena quando a alma não é pequena, fui com espírito de filha da Chiquita para entrar em todas sem perder o tom. Ainda bem, porque a fila para ser revistada pela PM era longa. Ô meu Deus, em que nos transformamos... Mas melhor assim do que presenciar ou ser vítima de uma bala perdida ou um assalto à arma branca.

Quem sabe daqui a alguns anos não precisemos mais disso... (será que vai rolar isso no carnaval?). Por isso chame, chame, chame gente! Normal para mim que sempre gostei de multidão. Mas os meus acompanhantes acharam que estava de bom tamanho parar em frente à Igreja da Conceição da Praia. Achei que haveria caixas de som em todo o percurso e telões para os fora do gargarejo acompanharem o show de boa. Não foi bem assim.

Tudo bem, estávamos em frente ao local onde os fogos seriam detonados e veríamos bem a festa pirotécnica. Também não foi bem assim. Ok, foram 16' de fogos, mas muito concentrados em uma única região e longe, lá atrás da Marinha. Melhor se estivéssemos no alto. Ah, mas foi lindo terem colocado no som mecânico o Hino do Senhor do Bonfim para acompanhar a contagem regressiva. A religiosidade baiana é uma emoção à parte.

Todo mundo cantando o hino para brindar o ano novo foi um bônus que demos à Schin que valia umas dez vezes o valor gasto com a festa. Outro momento "só se vê na Bahia" foi presenciar um grupo de uns 100 malucos que cantaram todo o hino do Bahia em comemoração aos seus 83 anos, ainda durante o pipocar dos fogos. Mas quem é que tá falando tanto lá no palco?

Não dava pra ouvir direito, mas com uma esticada nas pernas para enxergar um telão lá longe vi Regina Casé (?) de microfone na mão pensando que estava no Esquenta. Ownnnnnnnnnnn.... tudo há de melhorar em 2014, não posso perder a fé...

Chegam Gil e Caetano cantando Avisa lá. Longe..... Todo mundo animado, querendo cantar, explodir, celebrar... Caetano nunca foi cantor de 200 mil pessoas. Faz uma Concha como ninguém, mas até suas participações carnavalescas são sofríveis. Quem sabe se cantar Alegria, Alegria - Vamo Cumê - Eclipse Oculto - Chuva, Suor e Cerveja - Frevo novo - A Filha da Chiquita Bacana - Cara a Cara - Deus e o Diabo - Qual é Baiana - Deixa Sangrar - Meia Lua Inteira - Ilê de Luz - É Hoje- Opaió - até Não Enche, afinal, virada é quase carnaval e esses sucessos poderiam bem fazer um mais sofisticado contraponto aos shows de pagode e axé das viradas dos anos passados. Mas a idéia era mais radical: Caetano, voz e violão, foi de Cajuína, Luz do Sol, Força Estranha, Abraçaço. Longe... quase inaudível para quem não estava nas mediações do Elevador Lacerda. Não percebeu que quando cantou Sozinho e Você Não Entende Nada havia um povo ávido em animar-se e fazer-lhe côro?

Gil com banda e a experiência com o seu trio Expresso 2222 foi de maior empatia. Cantou e fez dançar a massa ao som de Não Chore Mais, Palco, Vamos Fugir e quase fez chorar uma Bahia jamaicana com Is This Love, do ídolo Bob Marley. Mas a melancolia de Desde que o Samba é Samba trouxe de volta aquele sentimento de que não entenderam que era uma festa de reveillon. Tá bom, Caetano cantou Tieta com aquela dificuldade de ser acompanhado pelo povo na hora certa de cantar o refrão (todo mundo adianta o êta êtataratatá quando ainda tem letra rolando na música) e os dois desejaram a todos um feliz 2014. Fiquemos com Pablo, se a proposta é chorar... Lá eles...

Hora de ir embora. Enquanto arrumavam o palco ligaram o som mecânico e as caixas do percurso. Fomos embora na contramão das pessoas fazendo aquelas coreografias de axé para o Lepo-Lepo de Marcio Vítor e as mãozinhas rodando na frente dos corpos que se desmanchavam num frênico ziguiriguidum. Resumo da ópera, festa linda e lindo show para acontecer dia 29 de Março. Eu acho que a Cidade merece!

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