O sujeito não quer ser chamado de fascista, acha-se bem diferente disso e até se ofende com a expressão.

Mas passou as últimas semanas repetindo que o Golpe de Estado de 1964 foi tão somente uma reação dos militares, estimulado e apoiado pela sociedade, para evitar o totalitarismo comunista.

Ora, posso estar enganado, mas se bem me lembro foi exatamente este o principal argumento empregado pelas direitas europeias para os golpes de Estado que perpetraram nos anos 1920 e 1930. Tanto o fascismo quanto o nazismo se apresentavam como contrarrevoluções, ou revoluções populares preventivas para evitar a propagação da revolução bolchevique. Assim, dizer que o Golpe de Estado foi um ato virtuoso e nacionalista que nos protegeu da praga comunista não torna quem o diz em nada diferente de um membro dos "camicie nere" de Mussolini ou de um militante da HJ nazista. Ao contrário: está dizendo exatamente o que eles diziam. Se isso não é ser fascista...

Mas mesmo que isso fosse verdade, não entendo o aspecto virtuoso do argumento. Também abomino o totalitarismo, mas por que haveria de considerar o fascismo menos odioso se ambos me roubam direitos, me violam a liberdade e me retiram a democracia? A tese de que os comunistas iriam tomar o Brasil me parece pouco plausível, mas ainda assim, virtude seria defender as instituições e os princípios da democracia, não evitar uma autocracia presumida, de esquerda, por meio de uma autocracia real, de direita. Por outro lado, reais ou imaginários que fossem os comunistas, não há notícia no Brasil de comunista matando, torturando, explodindo bombas, violando direitos civis, brutalizando arbitrariamente, devorando liberdades e tudo isso sob as asas do Estado. Podem ter feito isso em outros lugares, mas aqui a brutalidade política e o arbítrio violador foi obra da direita. Ora, depois de passar pelo laboratório liberticida da direita por mais de vinte anos, o mínimo a que tenho direito é de culpá-los por tudo o que fizeram. Ora, se não...

Wilson Gomes é professor da FACOM/UFBA

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