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Tangolo Mangos lança “Garatujas”, seu primeiro álbum cheio
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Dom, 03 de Dezembro de 2023 03:50

Tangolo_MangosEles são jovens adultos de Salvador, cidade onde, a despeito de ter gerado Raul Seixas e Pitty (e tantos outros nomes grandiosos), o debate sobre a morte do rock se confunde com uma questão ainda mais retrógada: como é fazer rock na Bahia?

Para a Tangolo Mangos, talvez, responder esta pergunta pode gerar uma ótima e bem-humorada conversa.

Formada em 2017, quando nenhum de seus integrantes havia ainda chegado aos 20 anos, a banda produziu dois EPs totalmente independentes, atravessou uma pandemia com criatividade e encerra 2023 cumprindo a meta prometida: o primeiro álbum posto no mundo.

“Garatujas” entra nas plataformas digitais de música no dia 8 de dezembro (sexta-feira), feriado municipal soteropolitano pelo Dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Na terça-feira anterior, dia 5, às 20h, a banda celebra com uma audição pública em primeira mão, no Teatro Cambará da Casa Rosa, no bairro do Rio Vermelho.

A produção musical e executiva do disco é assinada coletivamente pelo próprio quinteto: Bruno Fechine (vozes e percussões), Felipe Vaqueiro (vozes e guitarra), João Antônio Dourado (bateria), João Denovaro (vozes e baixo) e Pedro Viana (vozes e guitarra). Na tentativa de definir a sonoridade do trabalho, pode-se dizer que é um som tropical que se identifica com diferentes gêneros musicais, destacando-se o rock clássico, a MPB e a música regional nordestina, com uma estética ligada à psicodelia. É essencialmente um disco brasileiro de cançõ ;es, ainda que, em alguns momentos, abrace estruturas musicais mais experimentais, caminhando para uma abordagem mais progressiva. É também um passeio pelo samba, choro, baião e bossa nova, junto com blues, grunge, heavy metal e stoner. “Se eu pudesse dizer somente uma palavra sobre a sonoridade, eu diria: estranha”, resume João Antônio.

Com essa pegada e sua aura afetuosa (também não há o clichê do roqueiro brabo aqui), a Tangolo Mangos vem acumulando públicos, shows, eventos, produções, viagens e o reconhecimento de sua competência artística. Todos os cinco integrantes assinam as composições – às vezes sozinhos, às vezes entre eles mesmos ou com outros parceiros. Eles também se dividiram na mixagem, deixando a masterização por conta de Wagner Sasaki. A autonomia ap resentada na ficha técnica é característica da trajetória do grupo, que lançou do mesmo modo, na pegada do “faça você mesmo”, o EP “Mangas a Caminho da Feira nº 1”, em 2019, e o “tngl_mngs.rar”, em 2020.

Agora o “Garatujas”, com 13 canções, é uma realização reinventada várias vezes desde que a Covid-19 começou a obrigar mudanças de planos. Assim, as músicas foram gravadas em diferentes lugares e tempos, majoritariamente em Salvador, mas também em Lauro de Freitas e São Paulo, entre os anos de 2019 e 2023. O escritório da banda, residências dos membros e suas amizades foram estúdios junto com o Toca do Caranguejo e o Casarão Studios.

Toda esta descrição pode conotar improviso e desleixo, o que é o avesso da realidade: Tangolo Mangos é uma banda caprichosa, cuidadosa com cada detalhe. “A gente produz e mixa tudo que a gente faz, a gente compõe todas as nossas músicas, a gente faz toda a nossa identidade visual, a gente dirige todos os nossos clipes (ao lado de uma rede de amizades do audiovisual). E a gente trabalha muito para que as coisas fiquem muito boas”, lista João Denovaro. Mas os vínculos são vários e o disco é cheio de participaç&oti lde;es especiais: “A gente tem uma rede que rendeu muitos feats, foi um processo muito gostoso de fazer, montar esse grande espetáculo”, completa ele.

E o rock na Bahia, se não morreu, está “fora de moda”, onde eles se encaixam? “A gente se insere na realidade das bandas independentes, do underground, casas de show inferninho e galera de preto. Mas a gente se posiciona de uma maneira a entender quais são os aspectos interessantes que a Bahia pode nos dar em termos de sonoridade, de capital cultural e ideológico. Uma terra de muito questionamento, com um pulso artístico evidente, que abre portas para o nosso país. O sentimento de fazer parte disso é de orgulho”, descreve João Denovaro.

Sobre a temática das letras, Pedro Viana explica: “As faixas foram compostas ao longo de anos, e cada uma conta uma história própria. Os temas perpassam o campo dos afetos românticos, como a melancolia e a saudade, bem como indagações existenciais e até inquietações acerca da realidade social, de hábitos e costumes culturais que envolvem as dinâmicas da vida moderna no século XXI”. Bruno Fechine torce: “Eu espero que as pessoas se intriguem mais pelo projeto. Que digam: ‘olha, esses meninos tão aí de novo’”.

“O álbum é esse retrato em movimento de diferentes momentos e transformações em nossas vidas, rabiscado e desenhado à mão ao longo do tempo. O nome ‘Garatujas’ talvez brinque justamente com isso, ser um disco que, no futuro, a gente ouça e tenha uma impressão parecida com aquela que dá quando você encontra uma caixa ou pasta com desenhos antigos que você nem lembrava que havia feito. Mas que continuam fazendo tanto sentido. Riscando, rabiscando e se arriscando”, conclui Felipe Vaqueiro.

FAIXA A FAIXA

Canaã (Pedro Viana) part. Joca Lobo

A faixa de abertura é sobre esperança em meio às dificuldades da vida e da realidade social. Fala sobre cultivar a paciência e aliviar as dores ao perceber que nossas amizades podem tornar nossas encruzilhadas menos solitárias. “Canaã” é, essencialmente, um baião rock, ainda que tenha uma seção mais carregada de jazz e garage rock. Sanfona, rabeca, pifes (estes três primeiros gravados pelo convidado Joca Lobo), violões, bandolim, triângulo e demais percussões se unem às costumeiras guitarras, baixo e bateria, resultando numa obra com diversos momentos, atmosferas e texturas.

Animais Noturnos (João Denovaro) part. André Becker, Cidade Dormitório

Música de rock experimental, “Animais Noturnos” abre espaço para sonoridades em que o grupo ainda não havia se debruçado, como o grunge e o punk rock. A canção retrata a noite sob a perspectiva urbana das metrópoles, alternando entre elementos líricos abstratos e concretos. Conta com participações especiais de André Becker, no saxofone, e da Cidade Dormitório, representada por Yves Deluc, que assume vocais e efeitos de voz. O resultado foi batizado como sendo do gênero musical cartoon rock, influenciado pelos comentários e falas gravadas por Yves no estilo de dublagem brasileira de desenhos animados.

O Gato Gateia e Você Quer Saber (Pedro Viana)

Canção que reflete acerca dos dilemas e escolhas humanas em busca da felicidade e da verdade, o propósito por detrás das decisões, a necessidade de identificação com estas causas e os apegos que criamos em torno delas. Composição de 2016, a faixa carrega elementos sonoros do rock, blues e pop, explorando rhodes, guitarras e gaitas.

Hélio (Felipe Vaqueiro)

Segundo single do álbum “Garatujas”, “Hélio” é um laboratório de riffs e atmosferas que apontam diferentes aspectos da linguagem daquilo que se entende como rock. Explorando elementos de garage rock, surf music, indie, rock progressivo, psicodelia, krautrock, stoner e metal, a faixa transita entre muitos climas, alternando entre o sujo e o etéreo. A composição data de 2016 e tem sua letra pautada numa personificação e narrativização fantasiosa e apocalíptica acerca do elemento químico hélio. Presente no repertório de apresentações dos Tangolo Mangos já há alguns anos, a música é um ponto alto de energia nos shows da banda, se tornando uma das canções mais pedidas pelo público cativo.

Poca (Felipe Vaqueiro)

Samba-rock de embalo nostálgico e dançante, “Poca” reúne muitas facetas musicais do Tangolo Mangos, passeando de maneira descontraída por psicodelia, samba e garage rock. Composta em 2017 e presente no repertório desde então, é uma faixa querida e esperada pelo público. Primeiro single do álbum, a canção traz uma temática ligada ao amor e aos processos de afastamentos naturais e inevitáveis envolvidos nas relações humanas. Além de vozes, o fonograma é carregado de instrumentos de corda e percussão, por vezes acrescentado com sintetizadores, metalofone e piano elétrico joãodonatiano.

Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem) (Felipe Vaqueiro/Pedro Viana)

Primeira parceria de Felipe Vaqueiro e Pedro Viana a ser lançada, “Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem)” é uma canção que divaga sobre os impactos da tecnologia digital na nossa vida contemporânea. Fala sobre a circulação de nossos dados pessoais no ambiente virtual, a sofisticação das propagandas e como todas estas novas dinâmicas se relacionam com nossos afetos pessoais e nossa socialização moderna. A faixa mescla rock clássico com pitadas de jazz e funk a elementos digitais como samples e sintetizadores.

Enxaqueca (João Antônio Dourado) part. Natan Drubi, Ruan Skatipunk, xoronobanho

Um eu-lírico que está tendo uma tarde legal e é acometido por uma dor de cabeça. A música, além de descrever as dores do narrador, consegue trazer a visualização de uma possível melhora. O arranjo se traduz numa mistura de sambas, contando com vários elementos que fazem parte de seus diferentes subgêneros – a exemplo de samba-canção, choro, samba de roda e samba rock, traduzidos em cavacos, pandeiros, bandolim, violão 7 cordas, atabaques, palmas, berimbau, órgão, dentre outros. A faixa tem participação de Natan Drubi no violão 7 cordas, Ruan Skatipunk no berimbau e xoronobanho nos vocais.

Dog Dilema pt. 1 (Felipe Vaqueiro)

Rock progressivo à brasileira, a canção traz em sua letra versos existencialistas que se firmam no mantra-dúvida: “rei dos cachorros, cachorro dos reis? Ser o rei dos cachorros, ser o cão dos reis?”. Finalizada e produzida a partir de uma demo de 2016, “Dog Dilema pt.1” é uma faixa de história peculiar. Depois de permanecer por muito tempo na gaveta, a produção da canção foi retomada após convite para integrar coletânea da Seloki Records, em 2021. Instigados a entregar uma faixa inédita em um curto espaço de tempo, a banda optou por revisitar um projeto antigo, com bases e estruturas relativamente encaminhadas. Desse modo, a faixa opera quase como uma máquina do tempo, resgatando do passado vocais agudos e quase infantis de um Felipe Vaqueiro de 19 anos. A gravação da bateria, instrumento que não constava na versão demo, foi realizada de forma caseira, aliando microfones e interfaces de áudio ao microfone do smartphone.

Dog Dilema pt. 2 (Felipe Vaqueiro) part. Natan Drubi

Continuação narrativa da faixa irmã que a antecede, “Dog Dilema pt. 2” é um pequeno samba que tenta concluir ideias apresentadas na canção anterior, tanto a nível musical quanto lírico, ainda que de maneira abstrata. A partir da retomada do tema melódico do final da parte 1, a faixa começa e termina no embalo de cavaco, violão 7 cordas, surdo, pandeiro e guitarras. A música conta com participação de Natan Drubi no 7 cordas e teve sua base gravada ao vivo, na casa de Felipe Vaqueiro.

Você Me Conhece Tão Mal (Bruno Fechine / Felipe Vaqueiro / Flora Dourado / Pedro Viana / Vênus Não É Um Planeta) part. Tecnoplanta, Vênus Não É Um Planeta

Faixa mais eletrônica e sintética do álbum, nasceu de um beat produzido por Bruno Fechine durante residência intensiva para gravar o álbum, em fevereiro de 2020. Influenciado pela produção do disco, ele gerou uma curta peça instrumental a partir da harmonia e alguns samples da faixa “Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem)”, nascendo automaticamente a ideia de incluir aquele som como um interlúdio no futuro álbum. O pensamento tomou forma e a banda se aliou às produtoras e compositoras Tecnoplanta e VenusNotPlanet, que integram a faixa como participações especiais.

Eneágono (Bruno Fechine / Felipe Vaqueiro / João Denovaro)

Nascida a partir de trechos instrumentais compostos por Bruno Fechine e finalizados por João Denovaro, é a faixa mais nova do disco, em termos de quando se deu a composição. Passeando por blues rock, soul, indie, stoner, krautrock e math rock, é um passeio por diferentes temas, riffs e motivos melódicos. Ainda que tenha seus momentos de mudança de dinâmica, “Eneágono” se mantém upbeat pela maior parte do tempo. Inicialmente uma faixa instrumental, ela teve sua letra composta e finalizada de maneira colaborativa por Bruno Fechine e Felipe Vaqueiro, após gravação das bases. É possível perce ber notas de Led Zeppelin, The Doors, King Gizzard & The Lizard Wizard, dentre outras referências.

Glauber Rocha (Artur Dantas / Caio Santana / Caique Fernandes Malaquias dos Santos / Felipe Vaqueiro / Samuel Carvalhalpart. Fernão Gaivota

Interlúdio acústico, “Glauber Rocha” é um respiro leve e descontraído dentro do repertório do álbum. Gravada num smartphone em 2019 de maneira despretensiosa, ébria e espontânea num encontro entre membros das bandas Fernão Gaivota e Tangolo Mangos, a canção já fazia parte do cotidiano da Fernão há algum tempo. A música funcionava como uma espécie de hino na sua época de ensino médio: como eles estudavam no Colégio Central, era costumeiro sair das aulas e ir direto para o Cinema Glauber Rocha, também localizado no Centro. A canção nasceu com esse teor orgânico e dinâmico, se modificando a cada momento em que os membros do grupo entoavam a cantiga, sempre mantendo uma estrutura base, no caso, bradar “Glauber Rocha”, e complementando o verso com alguma ação, gritos e batuques. Anos mais tarde, Samuel Carvalhal e Felipe Vaqueiro reencontraram a gravação daquela tarde já nostálgica.

Roda Gigante ou Rebimboca da Parafuseta Cósmica (Brian Dumont / Felipe Vaqueiro)

Última faixa do disco, “Roda Gigante (...)” é a música de maior duração no álbum e, possivelmente, a mais progressiva, explorando folk, samba, baião, hard rock, psicodelia e muitos outros temperos. A composição da música é um pouco curiosa. Em 2017, Brian Dumento criou o riff e harmonia principal. Felipe Vaqueiro deu continuidade à composição, adicionando acordes e versos, mais tarde complementados por Brian. A letra é fruto de uma brincadeira narrativa trazida por Felipe a partir do exercício de criar um eu-lírico que refletisse questões afetivas e existenciais vividas por Brian na época da composição – as transformaç&oti lde;es das relações causadas por distanciamentos geográficos, a expectativa da espera e a incerteza angustiante da retomada (ou não) desses laços. A faixa é finalizada com uma catarse instrumental que é encerrada com a melodia de abertura do disco, “Canaã”.

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Última atualização em Dom, 03 de Dezembro de 2023 04:03
 

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