O amor é revolucionário! Por Lívia Natália
Não tem príncipe encantado negro em nenhuma história. Não tem príncipe nenhum, nem branco, nem negro na vida real. O homem negro é apenas um homem com quem nós, mulheres negras, queremos construir uma vida.
Somos mulheres fortes, mas, lá dentro, há um lusco-fusco de instabilidade e vulnerabilidade. Para nós o amor é a nossa prova dos nove.
Saber amar e ser amada de uma maneira saudável, leal, bonita é um desafio grande, porque passa pela confiança que o homem negro não soube,… por gerações, criar em nós.
Precisamos inventar nossos próprios padrões de felicidade e sucesso amoroso fora do paradigma branco. Isto, para mim, faz parte do empoderamento afetivo que defendo.
A mulher negra não está necessariamente mais preparada que o homem negro para viver um relacionamento afrocentrado, mas estamos, na maior parte das vezes, mais abertas a experimentar construir uma relação.
O homem negro não é meu inimigo, meus inimigos são o sexismo, a misoginia e o machismo que atravessam o corpo do homem negro e que se alojam no fato de ele ser homem perante uma mulher.
Mas ser um Homem perante uma Mulher não é isso.
Ser um Homem diante de uma Mulher é bancar o desafio diário da construção do afeto, estabelecer limites da relação, planejar junto, é estar junto de verdade. Sem as crises que os homens vez por outra resolvem ter e sair por aí bancando o Dom Ruan de quinta. Ou sumir, vivendo egoisticamente o seu “tempo” sem buscar saber de como nós nos sentimos sobre isso.
Ser um Homem diante de uma Mulher exige trabalho, escuta, tempo, é uma arte refinada.
Acho que quando o homem negro descer de uma vez por todas deste estranho pedestal que ele criou para si mesmo, nós saberemos, juntos, que amor é este que nós podemos viver.
O amor é a nossa prova dos nove. Um desafio enorme: amar e ser amadx numa sociedade que vive os efeitos de um racismo estruturante.
O amor é rEVOLucionário!