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O bufão. Por Cláudio Guedes

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Claudio_Guedes

Toda corte tem um bufão, às vezes mais para palhaço, outras mais para farsante, garganta. A corte de Curitiba tanto penou que finalmente encontrou o seu na figura um tanto melancólica de Antonio Palocci.

Falo sem qualquer constrangimento. Nunca fui do PT e portanto nunca fui dele “companheiro”. Não o conheci, apesar de alguns amigos em comum. Como homem público – a faceta dele que poderia ter algum interesse – nunca o admirei.

Suas façanhas, de ser o homem que fazia o meio de campo entre o PT, a banca nacional e os grandes empresários, nunca me comoveram. Sei que são pessoas necessárias, em todos os partidos, principalmente nos partidos mais à esquerda que se aproximam do poder real na sociedade. São os chamados “interlocutores”. Tudo bem. Mas não são personagens que admiro no campo da política. Prefiro os que se movem sob o céu claro aos que se movimentam às sombras.

Quando ficou revelado ao país suas estrepolias em Brasilia, como um dos mentores de casa de encontros de homens públicos com prostitutas, caiu de vez no meu conceito. Não por moralismo rastaquera, mas por achar incompatível a um ministro de estado, um político, tal comportamento. Como sempre disse: se você gosta de sacanagem, é uma escolha, seja feliz, mas o caminho da política exige certo comedimento, exige retidão, honradez.

Mais tarde soube que tinha enriquecido. Usou, como tantos, o poder que passou a deter e a valiosa agenda de telefones para intermediar “negócios” vultuosos entre as demandas do estado e os interesses de grandes empresários & de banqueiros importantes.

O meu tio, Armênio Guedes, um homem generoso e sábio, gostava de Palocci. Sobretudo da forma com que este buscava o entendimento entre o PT e as classes dominantes, pois sempre temeu que a ausência de diálogo entre os controladores do capital e os representantes na política do “andar de baixo” levasse o país a rupturas institucionais que comprometessem a democracia. Mas, também com ele, antes de falecer, se desiludiu. Lembro-me que um dia conversávamos sobre o personagem e ele disse uma frase inesquecível e definitiva sobre Palocci: “É, parece que ele gosta mais de dinheiro do que de política”.

É isso. Por gostar mais de dinheiro do que da política, por gostar mais de dinheiro do que da própria dignidade, hoje Antonio Palocci se converteu no histrião que faltava ao circo montado em Curitiba para a caçada sem fim ao ex-presidente Lula. Palavras duras contra Lula, mas palavras ao ar. Não creio que possa ser levado a sério como delator. Para tanto teria que apontar um apartamento cheio de dinheiro, uma conta na Suiça, ou pelo menos uma malinha de rodinhas, com algumas verdinhas, que pudesse atribuir ao ex-presidente.

Na ausência de qualquer dessas coisas, será visto apenas com o bufão de um processo farsesco, negociando acusações vãs para salvar uma parte do butim que amealhou e uma tornozeleira eletrônica que não lhe impeça de tomar seu drink favorito no final de tarde na varanda de um belo apartamento.

É o fim da linha para um personagem esquecível da nossa triste realidade política

Claudio Guedes é professor e empresário

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