O caso Daniel Dantas por Luis Nassif
O caso Daniel Dantas expõe de
maneira brutal o estado de desagregação que tomou conta de todos os poderes da
República.
Dantas é filho direto de um modelo
de liberalização financeira que enfraqueceu profundamente o Estado nacional –
autoridades reguladoras, Executivo, Judiciário, Receita, Banco Central e
imprensa. E que permitiu, em nível global, uma ampla promiscuidade de capitais,
em paraísos fiscais onde convivem grande capital, recursos da contravenção, da
corrupção política.
Na parte mais "light" de sua
atuação – a de gestor de recursos de fundos "offshore" (com sede fora do
Brasil)- Dantas atropelou as leis nacionais, que proibiam a residentes no país
terem aplicações em fundos com sede em paraísos fiscais.
Mesmo com todas as evidências,
esse jogo de ilegalidades foi admitido pelo Banco Central, pela CVM (Comissão de
Valores Mobiliários). Mais que isso: constatou-se que o próprio presidente da
CVM, Francisco Cantidiano, tinha sido o advogado que montou parte das operações
em paraísos fiscais americanos.
A capacidade de aliciamento de
Dantas não poupou um poder sequer. Teve todas as benesses no governo FHC; era
ligado ao PFL-DEM e, depois, a próceres petistas. Sob seu controle, a Telemig
foi a principal financiadora do esquema "valerioduto". Conseguiu cooptar juízes,
delegados, jornalistas, lideranças políticas de todos os partidos. E passou a
utilizar a mídia em suas disputas empresariais.
Através de um pool de jornalistas,
levantava temas, notícias manipuladas, tentativas de assassinato de reputação.
Depois, esse material – que ele mesmo passava aos jornalistas – era
anexado aos processos como se fosse informação isenta e bem
apurada.
A prisão de Dantas expôs fraturas
políticas, fraturas no Judiciário, apavorou jornalistas acumpliciados, e fez
cair a ficha da chamada grande mídia para os riscos de envolvimento com o
submundo da notícia. Detalho esse embate no endereço
www.luis.nassif.googlepages.com
Nos últimos dias se viu uma
pantomima, um enfrentamento claro entre o presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal) e juízes, procuradores e policiais, em um jogo de prende-e-solta
desmoralizante.
Seja qual for o resultado do
inquérito, o Brasil nunca mais será o mesmo. A mera prisão de Dantas tornou
público seu esquema de atuação e trouxe um ingrediente de risco que, certamente,
irá inibir a atuação de autoridades e jornalistas que atuavam em seu
favor.
A própria atuação do presidente do
STF, Gilmar Mendes, expõe a fratura no tecido social brasileiro, as
desconfianças em torno de qualquer atitude dúbia de autoridades. Muitos
advogados julgam que o habeas corpus concedido a Dantas teria fundamento
legal. Mas Gilmar se colocou sob suspeição, ao levantar – dias
antes do pedido de HC – questões ligadas a "grampos" da Polícia Federal e ao uso
das algemas.
Seria leviano lançar desconfianças
sobre sua atuação. Mas a reação generalizada contra sua atitude demonstra que a
opinião pública acordou para cobrar o combate ao maior esquema de corrupção que
o país já conheceu.
Nova meta
O governo anunciou a nova meta de
exportações para este ano. A projeção saltou dos US$ 180 bilhões estabelecidos
em janeiro para US$ 190 bilhões. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, contudo, não fez projeções para o saldo comercial, nem para
as importações. Detalhe: enquanto as exportações cresceram 24,8% no primeiro
semestre do ano, as importações saltaram 51,8%, fazendo com que muitas
estimativas de saldo comercial fossem revistas.
Pessimismo
As perspectivas para as sete
maiores economias do mundo, que fazem parte da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), seguem negativas. O indicador que mede as
perspectivas teve recuo de 0,5 ponto percentual em maio, ficando em 97,2 pontos.
Na comparação com igual mês do ano passado, a queda é ainda mais forte: de 4,6
pontos.
Balança
americana
Em meio à crise internacional, os
olhos do mundo seguem voltados para os dados da economia norte-americana. O
déficit comercial dos Estados Unidos em maio caiu 1,2%, ficando em US$ 59,8
bilhões. Pesou de forma mais importante no resultado o aumento das exportações,
segundo o Departamento do Comércio. O movimento foi reforçado pela queda do
dólar, que ajudou as exportações norte-americanas no mês.
Perdas
Bovespa
Seguindo o pessimismo
internacional, as empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo vêem cair
de forma acentuada seus valores de mercado. Até o fechamento do último dia 10, o
valor de mercado das 396 companhias com ações negociadas na bolsa retrocedeu
9,7%, ficando em R$ 2,172 trilhões. No mês passado, o montante era de R$ 2,405
trilhões, de acordo com dados da Bovespa.
Fuga de
estrangeiros
O movimento é reforçado pela saída
de investimentos estrangeiros na Bolsa. Em junho, a saída de recursos
estrangeiros foi de R$ 7,415 bilhões, resultado superior ao acumulado em todo o
ano até então. Até o dia 10 de julho, o saldo está negativo em R$ 1,474 bilhão,
reflexo dos R$ 9,467 bilhões de vendas e dos R$ 7,993 bilhões de compra de
estrangeiros no mês. Com isso, o saldo no ano ficou negativo em R$ 8,131
bilhões.
Inflação
O aumento da inflação é um teste
de credibilidade para as economias da América Latina. Essa é a avaliação da
revista britânica The Economist. Segundo a revista, o boom no preço das
commodities trouxe aos países latino efeitos colaterais, como a alta dos
alimentos e dos combustiveis. Os Bancos Centrais da região também estão em teste
diante do movimento inflacionário, de acordo com a The Economist.
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