Aldeia Nagô
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O dia em que Hayek chorou por Gilson Caroni Filho

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Aos
que vislumbravam um descompasso entre "o empreendorismo" que crescia
por seus méritos e um Estado falido, ainda iludido com seu gigantismo,
cabe uma pergunta. Quem terminou falindo e a qual instância pediu
socorro?


Quando
o presidente George Bush, em seu "discurso à Nação", afirmou que uma
crise financeira ameaçava a economia dos Estados Unidos, um espectro
rondou o mundo de certezas da banca. No momento em que saíram notícias,
ainda não confirmadas até a hora em que concluímos esse artigo, de que
democratas e republicanos aprovaram um pacote que garante US$ 700
bilhões em ajuda ao mercado financeiro, sua forma ficou mais nítida,
definida: vagando perdido estava o fundamentalismo neoliberal que tanto
se empenhou em desacreditar qualquer forma de regulação da economia.

Um
pensamento político e econômico que, como fundamento ideológico da
fantasia do livre mercado, fingiu acreditar que apresentava o produto
final de uma engenharia irretocável, quando nunca passou de uma utopia
autoritária.

Convém reler John Gray em seu magnífico livro
"Falso amanhecer: os equívocos do capitalismo global": "mercados
controlados são norma em qualquer sociedade, ao passo que os mercados
livres são produtos de estratagemas, planos e coerção política (…),
se" capitalismo" que dizer " livre mercado", então nenhuma visão é mais
ilusória do que a crença de que o futuro reside no " capitalismo
democrático.

Estamos assistindo ao ocaso de velhos credos. Uma
racionalidade crescente que traria com ela a desregulamentação da
economia, a supressão de subsídios, a redução das despesas de segurança
social e o desmantelamento do poder sindical. Tudo isso, acompanhado de
um Estado incapaz de operar mecanismos de redistribuição, posto que
tornado mero apêndice jurídico de normas elementares de troca. Eis o
paraíso perdido na data em que as Bolsas voltaram a apresentar
otimismo. Em síntese, 25 de setembro de 2008, entra para a história
como "o dia em que Hayek chorou". A "mão invisível" mostrou a plenitude
de sua deformação no capitalismo desordenado.

E agora? Como
ficam aqueles que afirmavam não haver dúvidas sobre o fato de que
seriam os agentes de mercado os demiurgos do ciclo de crescimento sem
sobressaltos? Que não haveria lugar para a política em um mundo de
empreendedores que, obedecendo a expectativas racionais, e se deixando
guiar pela satisfação de seus instintos levariam a humanidade à terra
prometida.

Aos que vislumbravam um descompasso entre "o
empreendorismo" que crescia por seus méritos e um Estado falido, ainda
iludido com seu gigantismo, cabe uma pergunta. Quem terminou falindo e
a qual instância pediu socorro?

Não procurem pelas cabeças
coroadas do governo tucano, nem muito menos pelos seus porta-vozes na
imprensa. Com os rostos lívidos de terror, choram com Hayek. Não só a
perda do Éden, mas a assustadora constatação de que, sem a roupagem
ideológica, ele nada mais é que o "Estado de Natureza" de Hobbes. Um
espaço encantado onde a margem de lucro é assegurada pela aniquilação
do outro. Um pesadelo do qual só se sai pelas seguras mãos do Estado.

Espera-se
que a direita periférica tenha ao menos o cuidado de burilar o discurso
do recuo inevitável. Sem os factóides da imprensa que lhe ampara e,
muito menos, sem o pretorianismo togado a que aderiu sem pudor. É hora
de aprender com o luto. Ao menos uma vez.

Gilson
Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio
Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e
colaborador do Observatório da Imprensa.

Artigo publicado originalmente em www.cartamaior.com.br

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