Aldeia Nagô
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O mapa do amor por IARA BIDERMAN

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Neurocientista explica a mente apaixonada a partir de estudos de imagens do cérebro
.


No recém-lançado "Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas" (Atheneu), o
médico e neurocientista carioca Roberto Lent, 62, fala sobre descobertas
da neurociência em uma língua que todo mundo entende. Nesta entrevista à
Folha, ele explica como a desativação de certas partes do cérebro comprovam que o amor é cego e o ser apaixonado, louco.

Folha – O que é o amor do ponto de vista da neurociência?

Roberto Lent –
É uma invasão de dopamina que ativa os centros de recompensa do cérebro e produz prazer.

Então age como uma droga?

O mecanismo [no cérebro] é parecido, mas não é igual.

Qual a diferença?

Para cada tipo de prazer, as reações corporais e mentais são diferentes em quantidade e em qualidade.

Quais são as reações ativadas pelo amor?

Do arrepio ao orgasmo, passando pelos intermediários. Você pode corar,
suar, ofegar, o coração bate mais rápido. E você exerce os
comportamentos de cortejar, se exibe para a pessoa amada.

Essas reações também acontecem quando você está com medo. Significa que ativamos os mesmos circuitos do amor?

Não sabemos com precisão, mas, como são muitas combinações [de circuitos
cerebrais], um certo arranjo significa amor, outro medo.
Segundo o pesquisador português Antônio Damásio, cada emoção tem uma
combinação do que ele chama de marcadores somáticos. Quando você tem de
novo a exata combinação, produz o mesmo sentimento. No caso do amor,
fica marcada em seu cérebro uma combinação de circuitos e reações que é
ativada quando você encontra a pessoa amada, vê uma foto dela ou apenas
pensa nela.

É possível saber qual é essa combinação do amor?

Com estudos usando ressonância magnética funcional, que mostra imagens
do cérebro em atividade, conseguimos fazer uma espécie de mapa de
regiões que são ativadas em situações relacionadas ao amor.

Qual é o mapa da mina?

As principais regiões ativadas são a ínsula e o núcleo acumbente. Mas a
grande descoberta foi que, ao mesmo tempo em que há ativação dessas
regiões, outras áreas são desativadas no lobo frontal do cérebro.
As regiões frontais são associadas ao raciocínio, à busca das ações mais
adequadas. Desativar essas regiões significa perder o controle. Na
paixão, a pessoa deixa de levar em conta certas contingências sociais e
faz coisas meio malucas. A expressão "o amor é cego" reflete a percepção
dessa desativação do lobo frontal descoberta pela ciência.

As condições culturais podem modificar esses circuitos?

Não creio. Os circuitos são os mesmos, mas as regras mudam. Mas não temos resposta para isso.

Há diferença entre os circuitos do amor e do desejo sexual?

Cada pergunta difícil que você faz… Existe uma sobreposição entre o
mapa cerebral da paixão e o do sexo. Mas, como nossa experiência diz que
uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, certamente existem
diferenças entre esses dois mapas.

Somos programados para amar?

Sem dúvida. Animais são programados para reproduzir, mas não podemos
dizer que se amam. No nosso caso, há um ingrediente a mais, que é a
experiência subjetiva. A função do amor é aproximar pessoas, inclusive
aproximações improváveis: como o amor é cego, você pode amar pessoas que
normalmente são rejeitadas por outros. Sempre haverá um certo alguém
para outro alguém. Sim, significa que mais pessoas vão se juntar. Já
pensou se só se aproximassem entre si pessoas loiras de olhos azuis?
Seria desfavorável e desagradável para a espécie

Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo de 28 de junho de 2011

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