O muro de Wall Street caiu. Por Alison Raphael
Capitalismo em Crise. Agora, regulação é apontada como única saída.
O ex-presidente Ronald Reagan (na foto com a
ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher) eliminou os controles
governamentais sobre uma ampla gama de instituições e instrumentos financeiros,
em consonância com sua fé no livre mercado. Reagan gostava de ilustrar sua
política desreguladora com a frase: "o governo não é a solução, mas sim o
problema". Em 1999, a Lei de Modernização de Serviços Financeiros eliminou
controles financeiros impostos desde os tempos de Franklin Delano Roosevelt. As
conseqüências estão aí.
Alison Raphael (IPS)
WASHINGTON – A sangria financeira que, de Wall
Street, espalhou-se pelos Estados Unidos e pela economia internacional, levantou
o clamor por uma regulação mais estrita dos grandes atores da economia
norte-americana. Na quinta-feira (18), a primeira preocupação foi a saúde dos
bancos de investimentos de grande porte que sobreviveram à débâcle do início da
semana, Goldman Sachs e Morgan Stanley, assim como a da empresa Washington
Mutual, com sede na capital dos EUA.
Ao meio-dia, circulavam rumores que
o Morgan Stanley poderia ser adquirido pela Wachovia Corporation, da Carolina do
Norte, quarta maior cadeia bancária dos EUA, com presença em 21 estados e em
seis países latino-americanos. Todas as sirenes de alarme dirigiram-se depois ao
Federal Reserve (equivalente ao Banco Central) e ao Departamento do Tesouro
(equivalente ao Ministério da Fazenda).
Após intensas reuniões e
conversas telefônicas, o Federal Reserve injetou 55 bilhões de dólares nos
bancos dos EUA e outros 180 bilhões nos bancos centrais de todo o mundo, com o
objetivo de estabilizar os mercados financeiros. Essa ajuda e mais aquela
dirigida ao American Insurance Group e às companhias hipotecárias Freddie Mac e
Fannie Mae serão suficientes para conter a crise?
Os especialistas
duvidam e insistem que a única solução a longo prazo é uma regulação mais
estrita dos mercados financeiros. Essa é a posição, por exemplo, dos jornalistas
especializados em economia da revista Time e do jornal The Washington
Post, dois dos meios de imprensa mais influentes do país. "O temor se
generalizou agora por que os mercados financeiros e muitas instituições de
crédito não mostraram, durante anos, nenhum temor. Waal Street não tinha porque
se preocupar com o tema das regulações", escreveram Andy Server e Allan Sloan,
da Time.
O The Washington Post acusou o governo de não
controlar as maquinações das companhias Fannie Mae e Freddie Mac, cuja eminente
quebra desatou a crise na semana passada. O resgate pelo Estado custou aos
contribuintes bilhões de dólares. O Centro para o Progresso dos Estados Unidos,
instituição acadêmica com sede em Washington, também atribuiu boa parte da
responsabilidade à falta de regulações.
A "política de não-intervenção"
do presidente George W. Bush "foi o que impulsionou a crise atual", criticou a
entidade. "Após sete anos e meio no cargo, os reguladores do governo Bush não
reconheceram como a débâcle atual poderia ter sido evitada com um controle mais
efetivo dos mercados financeiros, nem entendem que a resolução desta crise
começa com os proprietários de habitações individuais", escreveu Andrew
Jakabovjcs no site do centro.
Ondas de finanças predadoras
O
professor de economia, James K. Galbraith, da Universidade do Texas, explicou
que "a desregulação tem sido parte do credo do público e do setor cidadão" desde
a presidência de Ronald Reagan (1981-1989). Durante o governo Bush, o hoje
ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, lançou "ondas de finanças
predadoras" no mercado imobiliário, no que foi acompanhado do principal assessor
econômico do candidato presidencial republicano John McCain, Phil Gramm, "e
pelos autodenominados reguladores que sistematicamente subverteram o interesse
público", acrescentou Galbraith.
Reagan gostava de ilustrar sua política
desreguladora com a frase "o governo não é a solução, mas sim o problema". O
ex-presidente, falecido em 2004, eliminou os controles governamentais sobre uma
ampla gama de instituições e instrumentos financeiros, em consonância com sua fé
no livre mercado, compartilhada pela maioria de seus correligionários no Partido
Republicano.
A aprovação, em 1999, da Lei de Modernização de Serviços
Financeiros, proposta pelos legisladores republicanos Phil Gramm e Jim Leach,
eliminou controles financeiros impostos desde os tempos de Franklin Delano
Roosevelt (1933-1945), o presidente que pôs fim à crise de 1929. Roosevelt
proibiu a fusão entre empresas do setor bancário, de intermediação financeira e
de seguros. O Serviço de Investigações do Congresso legislativo desaprovou os
projetos desreguladores. Apesar disso, a maioria republicana conseguiu impô-los
em 1999. Menos de dez anos depois, as conseqüências estão aí. A maioria dos
analistas resiste em fazer prognósticos para o futuro, mas concordam que a
turbulência e as tragédias familiares continuarão no médio prazo.
A
especialista Nomi Prins, que trabalhou em empresas financeiras como Bear Sterns,
Lehman Brothers e Goldman Sachs, reclama reformas urgentes. "Só se poderá
consertar o que está torto com medidas radicais e com uma regulação decisiva",
sentenciou. A complexidade das instituições criadas pelas fusões à raiz da
reforma de 1999 impede o controle por parte do Estado, advertiu. O Federal
Reserve, por exemplo, não tem entre suas funções a supervisão do mercado de
seguros.
Nas medidas tomadas por Washington na última semana não há
diálogo nem estratégia, disse Prins a IPS. "Façam o que façam os políticos,
nossa sociedade será mais pobre do que antes, porque o crédito será mais difícil
de obter e os estadunidenses deverão aprender a viver com seus salários",
observaram Server e Sloan, na Time. "Durante um ano, o Federal Reserve e o
Departamento do Tesouro acreditaram nos mercados com a esperança de que o
sistema se recuperasse por si mesmo. Isso não aconteceu e o colapso do Lehman
Brothers deve marcar o fim desse enfoque", concluíram.
Tradução: Marco
Aurélio Weissheimer