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O paradoxo do centro. Por André Singer

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O ano começou com uma atividade frenética nas hostes centristas. Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles se engalfinham com vistas a ocupar um lugar na urna. É estranho tantos buscarem espaço onde há tão poucos votos.

Os que estudam comportamento eleitoral sabem que não convém fazer previsões. Acontecimentos inesperados perto do momento do sufrágio podem alterar tendências consolidadas. Numa situação superinstável como a brasileira, então, a regra de ouro é admitir todas as possibilidades.

No entanto, o retrato atual traz indicações de que qualquer associação com o governo Michel Temer tenderá a ser massacrada pelos eleitores em outubro. Os motivos são óbvios. De maneira consciente, o mandato conquistado via Legislativo foi usado para impor um programa pró-mercado de forte conteúdo antipopular.

Nizan Guanaes sugeriu o slogan que sintetiza a era Temer: aproveite a sua impopularidade para fazer maldades. Falta, ainda, a reforma da Previdência, mas coerente com o mandamento do publicitário, o presidente tentará que ela desça goela abaixo do Congresso e do país. Ainda mais agora que a Standard&Poor’s rebaixou de novo a nota do Brasil.

É até possível que, graças à lenta recuperação da economia, o governo ganhe um ou outro ponto nas pesquisas no decorrer do ano. Mas imaginar que possa ser vitorioso na eleição contradiz tudo o que se aprendeu com Sarney, Fernando Henrique e Dilma. De onde provém, portanto, a energia que move o embate particular entre o presidente da Câmara e o ministro da Fazenda?

A menos que disponham de surpreendentes e secretas pesquisas, trata-se de jogo com vistas a negociar algo adiante ou concorrer tendo em vista projeto futuro. Como o único capital que os partidos governistas detêm é o tempo de TV, talvez este seja o botim disputado.

Diferente é a situação de Alckmin, que se esforçou para ficar numa posição que lhe permita fazer alguma crítica ao governo. O problema, para ele e o PSDB, é que a distância guardada está se mostrando pequena. O eleitorado intui que a fórmula geral dos tucanos é a mesma vigente e que ela não vai gerar emprego e renda na quantidade necessária.

O próprio Lula deve estar quebrando a cabeça para descobrir como fazer para cumprir a promessa de retomar os bons tempos. Com o teto dos gastos foi feito uma espécie de contrato de baixo crescimento por 20 anos. Se o centro mostra-se fraco no pleito presidencial, não há sinais de que deixe de controlar boa parte do Congresso em 2019, razão pela qual será difícil passar o referendo revogatório necessário para retomar o ritmo econômico anterior a 2012.

Sem desfazer o malfeito, vamos ter duas décadas perdidas.

Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo.

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