Aldeia Nagô
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Performance LAVAGEM ocorre às 6h da manhã do dia 02 de fevereiro

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Na mitologia dos orixás, após cuidar da loucura que abateu a cabeça de Oxalá, Olorum nomeou a deusa do mar Iemanjá a mãe de toda cabeça da humanidade. O que deu a ela o maior poder dentre os orixás.

Em reverência a essa yabá, as artistas-produtoras da Gameleira Artes Integradas, Raiça Bomfim e Olga Lamas, realizam no próximo dia 02 de fevereiro, data em que se comemora os festejos a Janaina, a partir das seis horas da manhã, o ato performático onde culmina a Oficina-Ação Lavagem.

A performance levará um cortejo de mulheres pelas ruas do Rio Vermelho, evocando em suas presenças a “lavagem” das memórias diversas de violências sofridas e impregnadas em seus corpos, nas paredes, calçadas e ruas da cidade. O cortejo segue até a beira mar, onde essa pequena multidão de mulheres fará a entrega/oferenda de suas cabeças cobertas de flores à Rainha das águas.

O ato performático acontecerá na Alvorada de Iemanjá, saindo do Lalá Multiespaço em direção à Praia da Paciência.

A atriz e jornalista Mônica Santana, premiada pelo seu solo Isto Não é Uma Mulata, declara que o projeto é uma experiência muito potente e um espaço de troca, não somente artística e sim política e social. Falando sobre sua participação no ano passado, reflete a performer que tem um trabalho artístico voltado para o feminismo negro: “Cada mulher trouxe seus olhares, alegrias e tristeza. Extrapola o lugar do racional, pois abre outros canais de percepção e compartilhamento. Lembrando que não é um rito religioso e sim uma performance artística”.

 

Oficina

Para chegar a performance, as facilitadoras Olga Lamas e Raiça Bomfim realizaram durante quatro dias atividades artísticas focadas no encontro e integração entre as mulheres participantes, experimentando voz, movimento, palavra, presença. Evocações de memórias, segredos, dores, gozos, de silêncios e gritos em comunhão. O processo transcorreu em sala de ensaio, na rua e na praia.

Olga explica que no cortejo-oferenda de LAVAGEM, cada mulher compõe o percurso com a cabeça coberta de flores, sem os pudores e traços que a exposição da rostidade impinge. A inspiração para as cabeças de flores vem de sua performance Sagração (2014). Neste coletivo de corpos e na tensão de seus estados, na flexão de seus caminhos, na produção intermitente de conexões e diferenças, vemos emergirem novos modos de agrupamento e escuta”, completa.

As pesquisas artístico-acadêmicas de Raiça, sobre a poética da dissolução, e de Olga, sobre o silêncio, enriquecem o projeto. Neste último, o silêncio é sinônimo de abertura e convocação à empatia: “Silêncio que é também barulho, ausência que pode ser presença, pausa que engloba movimento”.

Já a poética da dissolução de Raiça Bomfim, nasce do cruzamento de uma poética da água e uma poética da loucura, que se materializa nos corpos criativos em qualidades de fluxo, trânsito, abandono, disrupção, desorientação e vertigem. “Essas qualidades terminam por dissolver as divisas entre teatro, dança e performance, entre arte e vida, entre teoria e prática, entre visível e invisível, entre condução e desorientação, entre movimento e descanso, entre casa e rua, entre silêncio, palavra e som”, explica Bomfim.

 

Gameleira

Olga Lamas e Raiça Bomfim são as artistas-produtoras da Gameleira Artes Integradas, criada em 2015 em Salvador/BA.  Oriundas de experiências de trabalho em coletivos cênicos – Olga no Núcleo VAGAPARA e Raiça no Alvenaria de Teatro – decidem criar a Gameleira à maneira de um território de articulações artísticas, associando criações autorais, cooperações criativas e produção.

A Gameleira têm realizado ações continuadas de estímulo, produção e difusão de projetos artísticos cujos discursos, propostas e/ou formatos perpassam questões sobre decolonização, afirmação de subjetividades historicamente silenciadas, democratização das artes e fortalecimento de vanguardas artísticas; estabelecendo parcerias e colaborações com foco no fortalecimento de lideranças femininas e na presença de mulheres nos campos de articulação, gestão e produção artística.

Dentre seus principais projetos e ações realizadas estão: Tristes, Loucas e Más: Festival de Mulheres em Cena (2017 – Salvador/BA), em que a Gameleira assina concepção, curadoria, coordenação de produção e realização. O festival contou com o patrocínio da CAIXA via Programa CAIXA de Apoio a Festivais de Teatro e Dança 2016. Outro projeto foi Loucas do Riacho (2017 – Salvador/BA), em que assumiram a criação, produção e realização, com o apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT/BA, dentro do qual ocorreu a primeira edição da Oficina-Ação Lavagem.

A montagem Ofélia: Sete Saltos Para se Afogar (solo de Raiça Bonfim, em 2015, indicada à categoria Revelação do Prêmio Braskem de Teatro 2016) e as performances Sagração Sirva-se (de Olga Lamas, de 2014 e 2011, respectivamente), são outras realizações autorais da Gameleira.

 

Foto: Mariana David

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